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TALVEZ UMA HISTÓRIA DE AMOR
Posted by Clenio
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23:41
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LITERATURA
Tudo bem, tentei ler "O símbolo perdido", de Dan Brown, mas esbarrei na semelhança exagerada com suas obras anteriores. Confesso, li, em meros três dias os deliciosos "32" e "O diabo que te carregue!", da brasileira Stella Florence, dicas do meu amigo recente Fernando (valeu, cara, me diverti pra caramba!!). Mas a impressão que eu tenho nesse momento é que o primeiro livro de verdade que eu li em 2010 é um romance curtinho (157 páginas), de um escritor francês que fez sucesso há alguns poucos anos com "Como me tornei estúpido". Seu terceiro livro publicado no Brasil, "Talvez uma história de amor" (Ed. Rocco) é uma fascinante e divertida viagem para dentro da mente de um homem comum em um momento bastante estranho de sua vida.
Virgile, o protagonista, trabalha em uma agência de publicidade, mora em um prédio onde convive com prostitutas e outros membros da escória, tem uma amizade invejável com uma bela homossexual e depende incondicionalmente (e racionalmente) de sua terapeuta. Quase um misantropo, ele não se envolve de verdade com mulher nenhuma, apaixonado mais pela Paris que ama apaixonadamente do que por relações românticas estáveis. Sua vida pacata e tediosa dá uma virada quando, um dia, chegando do trabalho, ele ouve, na secretária eletrônica, o recado de uma mulher chamada Clara, que termina o relacionamento entre eles.
Sem saber nem ao menos quem é Clara, ele entra em choque. A princípio decidido a descobrir quem é ela, Virgile aos poucos assume perante a sociedade sua condição de vítima de abandono e, paradoxalmente, acorda pra vida.
O texto bem-humorado de Page é a maior qualidade de seu livro. Acompanhando Virgile pelas ruas de Paris e no emaranhado de seu cérebro repleto de ideias bastante estranhas sobre amor, família, trabalho e sociedade, o leitor fica tão ansioso quanto ele para chegar ao final de sua incansável busca. Por Clara, por sua memória e principalmente pelo resgate de sua porção ser-humano.
Um livro engraçado, inteligente e ligeiro. Um livro de férias que não exige o desligamento do cérebro.
"Amamos da mesma forma como viajamos, por períodos curtos e seguindo roteiros predeterminados. Apaixonamo-nos para ter lembranças, cartas, um conjunto de sensações, novas cores em nossas íris; para ter o que contar no escritório, aos nossos amigos, ao nosso psicanalista. Não existe diferença entre o amor e as viagens, pois sempre voltamos a eles."