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RIGHT THROUGH YOU
Sei bem o que se passa na sua cabeça quando me olha assim, seriamente, bebericando sua cerveja - a quinta, pelas minhas contas. Você pensa exatamente isso: "Por que esse cara gosta tanto de mim? Em que momento da nossa relação tão curta ele foi capaz de ver em mim o que ele procurava? Será que ele realmente me ama ou projetou em mim a pessoa ideal? E ideal, eu? Tenho milhões de defeitos... e ele sabe disso, fiz questão de expô-los em um dos nossos primeiros encontros..."
Tenho certeza o que você pensa enquanto levanto para ir ao banheiro, depois da oitava cerveja. "Ele é carente, só pode ser. Nunca fiz nenhum grande esforço pra conquistá-lo, muito pelo contrário, fui sempre eu mesmo, e nem sei se sou uma pessoa muito agradável... Nunca me abri muito, sempre fiquei fechado no meu mundo, impedindo qualquer pessoa - ele inclusive e principalmente - de penetrar muito profundamente nos meus pensamentos. Quando faço um gesto de carinho é verdadeiro. Raro, mas verdadeiro, e nesses momentos sinto que ele se abre de felicidade. Só pode ser carência, é a única explicação."
Quando chegamos na décima-primeira cerveja - quase um recorde, que legal!! - já nem preciso mais adivinhar o que você pensa. Vejo diretamente através de você: "Ele é um cara bacana! Inteligente, atraente, engraçado... nos damos muito bem, nos beijamos muito bem, ele gosta da minha família, me entende. Por que então a paixão que ele sente por mim não é correspondida? Será que o problema é comigo? Até quando eu vou ser capaz de manter essa relação? Será melhor terminar de uma vez enquanto dá tempo de poupar dores maiores? Mesmo porque sou muito jovem, não sei se quero ficar com alguém que gosta tanto assim de mim. Isso me assusta."
Sou capaz, sim, mesmo depois da décima-quinta cerveja - a saideira, nós dois juramos - de perceber o que se passa na sua cabeça, talvez até no seu coração. O que me confunde e enlouquece é o que se passa na MINHA cabeça, no MEU coração. Afinal, pra tentar entender você eu parei de me conhecer.