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ENTRE IRMÃOS
Posted by Clenio
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13:10
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CINEMA
Rivalidade entre irmãos sempre deu pano pra manga, desde os tempos de Caim e Abel, por isso não é nenhuma surpresa que o cinema volta e meia retorne ao assunto, com enfoques diferentes e qualidades mais diferentes ainda. Uma das novas produções a tocar nesse vespeiro familiar é "Entre irmãos", refilmagem do longa dinarmaquês de Susanne Bier, dirigido pelo irlandês Jim Sheridan. Com um trio de atores em franca ascensão nos papéis principais - Tobey Maguire, Natalie Portman e Jake Gylenhaal - o filme mistura drama familiar com críticas à violência na guerra do Afeganistão e alcança resultados variados.
Quando o filme começa o jovem Capitão Sam Cahill (Tobey Maguire, macérrimo e bom ator como nunca) está prestes a voltar para a Guerra do Afeganistão, deixando em casa sua jovem e bela esposa Grace (Natalie Portman) e suas duas filhas pequenas. Nesse mesmo momento seu irmão caçula, o rebelde Tommy (Jake Gylenhaal) está saindo da cadeia, o que mostra sem espaço para dúvidas as diferenças cruciais de personalidade entre os dois. Quando, pouco depois, chega à Grace a notícia da morte de Sam em um acidente de helicóptero, Tommy, sentindo-se responsável pela família do irmão, passa a cuidar dela como se fosse sua. Amadurecendo aos poucos, ele começa a conquistar o amor do pai (Sam Shepard) e se envolve romanticamente com a cunhada. Tudo muda novamente quando Sam retorna ao lar: tido como morto, ele na verdade estava prisioneiro de soldados do Talibã, que o torturaram e obrigaram-no a matar um de seus companheiros. Paranóico e emocionalmente instável, ele passa a questionar a relação entre a esposa e o irmão, o que parece levá-los a um trágico destino.
Ao contrário dos filmes mais contundentes que fez em seu passado (como "Em nome do pai" e "O lutador", ambos estrelados por Daniel Day-Lewis), dessa vez Jim Sheridan deixou de lado sua tendência à polêmica para concentrar-se em dois focos distintos de narrativa: enquanto Tommy e Grace tentam reconstruir suas vidas à sombra do trágico desaparecimento de Sam, este sofre as consequências involuntárias de uma guerra cruel e desnecessária. No ato final todos os conflitos se unem, em direção a um clímax que tinha tudo para ser poderoso mas que esbarra, surpreendentemente, em um desfecho quase insatisfatório. A cena do jantar no aniversário de seis anos da filha caçula de Sam e Grace, por exemplo, leva o público a um suspense palpável, que explode em uma sequência de grande impacto. As cenas subsequentes, no entanto, são quase anti-climáticas - talvez culpa da edição que revela o grande trauma de Sam no meio do filme e não em seu final, o que poderia causar maiores emoções.
Apesar de não ser o melhor filme de Sheridan (título ainda pertencente a "Em nome do pai"), "Entre irmãos" conquista o público pela humanidade de seus protagonistas e pelo talento de seus intérpretes. Assim como fez em "Terra de sonhos", o diretor consegue arrancar atuações notáveis até mesmo de seu elenco infantil (a jovem Bailee Madison, que vive Isabelle, a filha mais velha do casal central transmite como poucas atrizes veteranas as sensações de medo, tristeza e raiva que seu papel exige). Esse seu dom de dirigir bons atores é que, no final, faz a diferença e eleva "Entre irmãos", tirando-o da vala comum de dramas familiares. Poderia ser um grande filme se ousasse um pouco mais. Como está, é um belo entretenimento adulto, mas longe da genialidade com que seu diretor ocasionalmente brinda seu público.