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O MENSAGEIRO
Posted by Clenio
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01:05
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CINEMA
Em uma época do ano em que o assunto entre os fãs de cinema é o Oscar - e não poderia ser diferente - e a briga entre "Avatar" e "Guerra ao terror", não deixa de ser refrescante descobrir uma pequena pérola que, embora elogiada pela crítica, não chegou a ser incensada com um número generoso de indicações (no caso apenas duas, de ator coadjuvante e roteiro original, ambas merecidíssimas). No caso a pérola se chama "O mensageiro" e, dirigida pelo estreante Oren Moverman, é muito mais tocante e honesta do que muitos dramalhões que apelam para sentimentalismos fáceis. Talvez seja justamente sua sobriedade que tenha atrapalhado seu caminho rumo a prêmios, uma vez que é um filme discreto, sem astros milionários e nem foi adotado por formadores de opinião. "O mensageiro" é o tipo de filme que tem que ser descoberto aos poucos, para conquistar os fãs de bom cinema.
O tema de "O mensageiro" é, de certa forma, a guerra do Iraque. No entanto, ela não aparece em nenhum fotograma. Ela é, isso sim, um fantasma que assombra suas personagens, afetadas direta ou indiretamente por sua aura violenta e absurda. O protagonista do filme é o jovem Sargento Will Montgomery (em uma assombrosa atuação de Ben Foster, injustamente esquecido em cerimônias de premiação). Depois de um acidente em combate - que lhe prejudica a visão - ele recebe a missão dolorosa de, ao lado do Capitão Tony Stone (Woody Harrelson, indicado ao Oscar de coadjuvante), ser o responsável por dar as trágicas notícias de baixas na guerra aos familiares das vítimas. Sem saber como lidar friamente com todas as cenas tristes que passa a testemunhar e trocado pela namorada (Jena Malone), ele acaba se envolvendo emocionalmente com Olivia Pitterson (a sempre ótima Samantha Morton), viúva de um soldado e mãe de um filho pequeno. Enquanto luta com essa questão ética, não percebe que seu colega voltou a se entregar ao alcoolismo.
Como dito anteriormente, "O mensageiro" é um filme de guerra sem cenas de batalha. As únicas guerras mostradas na obra são aquelas travadas dentro da cabeça de seus protagonistas, que, humanamente, não sabem como acostumar-se à dor e ao desespero. A luta pela sanidade é quase inglória, que os leva ao álcool, à auto-destruição e à carência extrema. É um filme de silêncios, de dramas íntimos, construído em detalhes e grandes atuações. As cenas em que os dois protagonistas dão as tristes notícias às famílias são exemplos de sutileza e elegância. Emocionam e nunca caem no piegas.
E o elenco merece um capítulo à parte. Enquanto Woody Harrelson tenta dar um novo impulso à carreira vivendo uma personagem distante de seus adoráveis bobalhões e Samantha Morton mais uma vez mostra porque é uma atriz ainda subaproveitada, é Ben Foster que domina o filme, com um trabalho impecável. Seu olhar, seu jeito de andar, sua voz, tudo é instrumento para que ele assuma a personalidade de Will Montgomery, um jovem envelhecido pelas atrocidades de uma guerra desnecessária e cruel e que tenta encontrar uma razão para seguir a vida.
"O mensageiro" está quase saindo de cartaz nos cinemas. Mas em breve estará disponível em DVD. Será uma nova chance de encantar-se com sua beleza e qualidade.