QUERO MATAR MEU CHEFE
Tudo bem: antes que me atirem pedras, devo esclarecer que, quando digo que o roteiro é mais desenvolvido eu estou falando sobre a trama mais redonda, personagens secundários mais interessantes e um final mais satisfatório do que "Se beber, não case" (referência maior por ter sido o deflagrador de maior sucesso da onda de comédias adultas atuais). O script não é estarrecedor nem inovador, é uma sequência de piadas muito engraçadas - em níveis diferentes mas sempre hilárias, seja em referências culturais (e até mesmo Alfred Hitchcock é citado) ou apelando para o baixo nível (convenhamos, é uma comédia que não quer aumentar o QI de ninguém, apenas fazer rir). Mas é um roteiro defendido com garra por um elenco impecável.
O discreto Jason Bateman vive Nick Hendricks, que acaba de ter sua promoção roubada pelo próprio patrão, o egocêntrico, ciumento e venal Dale Harken (Kevin Spacey deitando e rolando em um papel que lembra seu trabalho no pouco visto "O preço da ambição"). O pouco conhecido Jason Sudeikis interpreta Kurt Buckman, homem dedicado ao trabalho que vê o herdeiro da empresa, o viciado em cocaína e mulherengo Bobby Pellitt (um irreconhecível Colin Farrell tirando sarro da própria imagem) com intenções de dilapidar o patrimônio de seu falecido pai. E o sensacional Charlie Day faz o papel de Dale Arbus, um assistente de dentista que, recentemente noivo, é assediado sexualmente pela chefe, a ninfomaníaca Julia Harris (Jennifer Aniston), que ainda por cima o chantageia. Sofrendo com o ódio que sentem por seus superiores, os três amigos tem a ideia de eliminá-los. Contando com a ajuda do misterioso Motherfucker Jones (Jamie Foxx, também ótimo), eles bolam um plano infalível que os livrará para sempre do jugo cruel dos poderosos chefões.
É para entrar na sala de cinema com uma única coisa na cabeça: é uma comédia, e como tal deve ser apreciada. A química entre o elenco central - e os brilhantes coadjuvantes - e o ritmo ágil que nunca deixa a plateia descansar entre uma situação bizarra e outra são qualidades gritantes, mas é essencial que o público compre a brincadeira. Se não é seu tipo de comédia, fuja, vá rever "Meia-noite em Paris" sem problema. Mas quem gosta de rir sem preocupação com o politicamente correto ou quem está disposto a deixar a sisudez de lado por pouco menos de duas horas, é um prato cheio. E é melhor que "Se beber, não case", um perfeito exemplo de alucinação coletiva. Tenho dito!