2
CONFIAR
Posted by Clenio
on
22:42
in
CINEMA 2011
Depois de dez anos na pele do nerd Ross Geller na série "Friends" a última coisa que se poderia esperar de David Schwimmer é que ele fosse dirigir um filme tão difícil quanto "Confiar". Seguindo o caminho inverso do mais fácil - comandar comédias ou manter-se no gênero como ator - ele construiu um drama familiar sóbrio e contemporâneo que foge das lágrimas fáceis e dá espaço a seus atores brilharem. Ainda que vez ou outra soe como um filme feito para a TV (pela falta de ousadia visual em comparação com a escolha do tema), a segunda incursão de Schwimmer como cineasta - a primeira foi a comédia romântica "Maratona do amor" - mostra uma surpreendente sensibilidade e uma discrição sempre bem-vinda.
A protagonista de "Confiar" é Annie (Liana Liberato), uma adolescente de 14 anos de Chicago, parecida com todas as adolescentes de sua idade e classe social. Promissora atleta do time de vôlei da escola, inteligente e filha carinhosa, ela sofre também com todas as inconstâncias e dúvidas da puberdade. Sua falta de auto-confiança só diminui quando ela está diante da tela do computador, conversando apaixonadamente com Charlie, um jovem de sua idade que mora em outro estado. Conforme sua relação com o rapaz vai tornando-se mais íntima, ela começa a descobrir que ele mentiu sua idade e que é mais velho do que dizia. Isso não a impede de conhecer seu namorado virtual, na verdade um homem de mais de 35 anos (vivido por Chris Henry Coffey) que a leva a um motel e a força a manter relações sexuais. Quando descobre que foi abusada por um pedófilo, Annie entra em conflito com os próprios pais (interpretados por Clive Owen e Catherine Keener), porque não deixa de sentir-se atraída de uma maneira pouco convencional por seu agressor.
O roteiro de "Confiar" tem a inteligência de escapar das várias armadilhas em que poderia cair ao tratar de um assunto tão polêmico. Em momento algum Schwimmer cai na tentação de apelar para o mórbido ou o chocante, preferindo deixar quase tudo na mente do espectador (ainda que a cena da "sedução" seja bastante claustrofóbica e opressiva) e de Will, o pai da vítima, em uma atuação soberba de Clive Owen. É através de Will que o filme se desenvolve, mostrando a angústia de um pai ao perceber a própria impotência diante de um crime tão brutal e ao culpar-se de erros que nem sequer sabia estar cometendo (e que talvez nem estivesse). Essa linha de não tentar impor uma verdade é o que há de mais valioso em "Confiar". As relações entre Annie e a família (marcadas por uma distância paradoxal após a agressão) e entre ela e o criminoso (em quem jamais deixa de acreditar mesmo diante de provas) são complexas, honestas e dramaticamente convincentes, em especial graças ao talento do elenco escolhido pelo jovem diretor.
Se foi a adolescente Liana Liberato quem levou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Chicago, ela deve muito da força de seu trabalho a seus colegas de cena, todos muito além do comum. Viola Davis nem precisa se esforçar muito na pele da psicóloga Gail Friedman para mostrar que merece urgentemente um filme como protagonista (sua colega de "Dúvida", ninguém menos que Meryl Streep, já afirmou isso). E Clive Owen e Catherine Keener estão no tom exato como os pais amorosos e dedicados que veem sua estrutura familiar começar a ruir devido a um ato de violência. É na força do elenco e do tema forte mas nunca apelativo - e que se presta a inúmeras discussões sobre o papel da Internet na sociedade e na família nos dias que seguem - que "Confiar" se sustenta. E um futuro alvissareiro se mostra diante de David Schwimmer.
Mais cinema em www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com
www.confrariadecinema.com.br
www.cinematotal.com.br
A protagonista de "Confiar" é Annie (Liana Liberato), uma adolescente de 14 anos de Chicago, parecida com todas as adolescentes de sua idade e classe social. Promissora atleta do time de vôlei da escola, inteligente e filha carinhosa, ela sofre também com todas as inconstâncias e dúvidas da puberdade. Sua falta de auto-confiança só diminui quando ela está diante da tela do computador, conversando apaixonadamente com Charlie, um jovem de sua idade que mora em outro estado. Conforme sua relação com o rapaz vai tornando-se mais íntima, ela começa a descobrir que ele mentiu sua idade e que é mais velho do que dizia. Isso não a impede de conhecer seu namorado virtual, na verdade um homem de mais de 35 anos (vivido por Chris Henry Coffey) que a leva a um motel e a força a manter relações sexuais. Quando descobre que foi abusada por um pedófilo, Annie entra em conflito com os próprios pais (interpretados por Clive Owen e Catherine Keener), porque não deixa de sentir-se atraída de uma maneira pouco convencional por seu agressor.
O roteiro de "Confiar" tem a inteligência de escapar das várias armadilhas em que poderia cair ao tratar de um assunto tão polêmico. Em momento algum Schwimmer cai na tentação de apelar para o mórbido ou o chocante, preferindo deixar quase tudo na mente do espectador (ainda que a cena da "sedução" seja bastante claustrofóbica e opressiva) e de Will, o pai da vítima, em uma atuação soberba de Clive Owen. É através de Will que o filme se desenvolve, mostrando a angústia de um pai ao perceber a própria impotência diante de um crime tão brutal e ao culpar-se de erros que nem sequer sabia estar cometendo (e que talvez nem estivesse). Essa linha de não tentar impor uma verdade é o que há de mais valioso em "Confiar". As relações entre Annie e a família (marcadas por uma distância paradoxal após a agressão) e entre ela e o criminoso (em quem jamais deixa de acreditar mesmo diante de provas) são complexas, honestas e dramaticamente convincentes, em especial graças ao talento do elenco escolhido pelo jovem diretor.
Se foi a adolescente Liana Liberato quem levou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Chicago, ela deve muito da força de seu trabalho a seus colegas de cena, todos muito além do comum. Viola Davis nem precisa se esforçar muito na pele da psicóloga Gail Friedman para mostrar que merece urgentemente um filme como protagonista (sua colega de "Dúvida", ninguém menos que Meryl Streep, já afirmou isso). E Clive Owen e Catherine Keener estão no tom exato como os pais amorosos e dedicados que veem sua estrutura familiar começar a ruir devido a um ato de violência. É na força do elenco e do tema forte mas nunca apelativo - e que se presta a inúmeras discussões sobre o papel da Internet na sociedade e na família nos dias que seguem - que "Confiar" se sustenta. E um futuro alvissareiro se mostra diante de David Schwimmer.
Mais cinema em www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com
www.confrariadecinema.com.br
www.cinematotal.com.br