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A FLOR DE OBSESSÃO FARIA 99 ANOS
Posted by Clenio
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20:47
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HOMENAGENS
Espeto, minha filha, espeto! O tempo passa e, estivesse vivo hoje em dia, o anjo pornográfico Nelson Rodrigues estaria completando 99 anos de idade. Quase um século desde que nasceu em Recife. Quase um século desde sua primeira expulsão de uma casa de família quando ainda era um inocente "cabeçudo como um anão de Velasquez". Quase um século de vida do homem que testemunhou mais tragédias familiares que qualquer membro do clã Kennedy - e exorcizou-as nos palcos, sendo atacado como uma ratazana prenhe. Quase um século desde que o Brasil viu nascer um de seus maiores e mais importantes jornalistas, dramaturgos, polemistas e escritores. Quase um século desde que nasceu o pai de criações inesquecíveis que se tornaram parte do inconsciente coletivo nacional, como a sensual Engraçadinha (mais amoral que um bichinho de avenca), a complexa Alaíde, o gângster marginal Boca-de-Ouro, o jornalista sensacionalista Amado Ribeiro... Mas como será que Nelson - na verdade um defensor aguerrido do núcleo familiar a ponto de ter tido duas diferentes em sua trágica vida - enxergaria o mundo como está hoje?
Com seus olhos críticos e com sua aridez de três desertos, provavelmente Nelson teria um choque ao presenciar no que se transformou a sensualidade nacional. Se em sua época ele já achava que a nudez feminina havia perdido todo o seu suspense e mistério é de imaginar o que ele diria ao presenciar a invasão sistemática das vulgares mulheres-frutas. E é possível imaginá-lo com sua voz grave e arrastada a declarar a respeito de coisas como Calypso, Restart e afins: "O que se está fazendo aqui é uma música popular brasileira, que não é popular nem brasileira e vou além: - nem música." E é provável que ainda estivesse esperançoso com a 9ª colocação de seu Fluminense no Campeonato Brasileiro - e sobre o empate com o Vasco talvez declarasse em alto e bom som que "o empate é um resultado mais depressivo do que a própria derrota."
Nelson Rodrigues faz falta. É de se imaginar o que ele poderia aprontar em nosso teatro se vivo ainda fosse e produzindo ainda estivesse. É sorte de um povo ter à sua disposição uma obra vasta e tão importante quanto a de Nelson, felizmente mais à mão hoje em dia do que em seus dias de vida. Graças a Ruy Castro, autor da bela biografia "O anjo pornográfico" e organizador da reedição da obra do dramaturgo pela Companhia das Letras no início dos anos 90, atualmente ler Rodrigues é fácil. Mais do que isso, é obrigatório. Se, como ele mesmo declarou, "a morte é um grande despertar", sua passagem, em dezembro de 1980, despertou o público para sua genialidade e força dramática. Comemoremos a eternidade de sua obra! Feliz aniversário, flor de obsessão.
PS - Para quem ainda não leu "O anjo pornográfico": tá esperando o que???????????
Com seus olhos críticos e com sua aridez de três desertos, provavelmente Nelson teria um choque ao presenciar no que se transformou a sensualidade nacional. Se em sua época ele já achava que a nudez feminina havia perdido todo o seu suspense e mistério é de imaginar o que ele diria ao presenciar a invasão sistemática das vulgares mulheres-frutas. E é possível imaginá-lo com sua voz grave e arrastada a declarar a respeito de coisas como Calypso, Restart e afins: "O que se está fazendo aqui é uma música popular brasileira, que não é popular nem brasileira e vou além: - nem música." E é provável que ainda estivesse esperançoso com a 9ª colocação de seu Fluminense no Campeonato Brasileiro - e sobre o empate com o Vasco talvez declarasse em alto e bom som que "o empate é um resultado mais depressivo do que a própria derrota."
Nelson Rodrigues faz falta. É de se imaginar o que ele poderia aprontar em nosso teatro se vivo ainda fosse e produzindo ainda estivesse. É sorte de um povo ter à sua disposição uma obra vasta e tão importante quanto a de Nelson, felizmente mais à mão hoje em dia do que em seus dias de vida. Graças a Ruy Castro, autor da bela biografia "O anjo pornográfico" e organizador da reedição da obra do dramaturgo pela Companhia das Letras no início dos anos 90, atualmente ler Rodrigues é fácil. Mais do que isso, é obrigatório. Se, como ele mesmo declarou, "a morte é um grande despertar", sua passagem, em dezembro de 1980, despertou o público para sua genialidade e força dramática. Comemoremos a eternidade de sua obra! Feliz aniversário, flor de obsessão.
PS - Para quem ainda não leu "O anjo pornográfico": tá esperando o que???????????