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O BEM-AMADO

Posted by Clenio on 23:23 in

Quem tem mais de 30 anos certamente vai entender o que eu digo: por melhor ator que Marco Nanini seja (e ele o é), ninguém jamais conseguirá apagar a genial interpretação de Paulo Gracindo como Odorico Paraguaçu, o prefeito da fictícia Sucupira criada pelo dramaturgo Dias Gomes. Imortalizada na novela de 1973 e na série de TV do início dos anos 80, a atuação de Gracindo é um dos melhores exemplos de casamento perfeito entre personagem e ator da história da dramaturgia brasileira. Por isso, é uma tarefa inglória a do diretor Guel Arraes em conquistar o público para sua versão cinematográfica de "O bem-amado". Mesmo que a história e as personagens sejam total novidade para as novas gerações, não serão os fãs de "Crepúsculo" que irão correr aos cinemas para assistir as aventuras de Odorico...

Para quem não sabe, a trama de "O bem-amado" é construída em cima do corrupto, amoral e demagogo Odorico Paraguaçu, que conquistou a prefeitura da pequena Sucupira graças a sua promessa de construir um cemitério para a população. Mais de um ano depois de sua posse, no entanto, ninguém na cidade morreu e sua maior realização transformou-se em motivo de duras críticas por parte de seus opositores jornalistas (Tonico Pereira e Caio Blat). Além de ter que lidar com o assédio das irmãs Cajazeiras - três solteironas fogosas vividas pelas geniais Zezé Polessa, Drica Moraes e Andréa Beltrão - e com a pressão de calar a boca dos detratores, Odorico precisa urgentemente de um cadáver e não mede esforços para atingir seus objetivos, nem que para isso tenha que envolver seu fiel escudeiro Dirceu Borboleta (Matheus Nachtergaele) e chamar à cidade o violento matador Zeca Diabo (José Wilker).

O humor popular de Guel Arraes já demonstrou grande apelo junto ao público - haja visto o sucesso de "O auto da Compadecida" e "Lisbela e o prisioneiro". Dessa vez, no entanto, algo não deu liga. Apesar do incontestável talento de cada um dos integrantes do elenco (com a possível exceção de Caio Blat), não parece haver entre eles uma real conexão, a famosa química tão imprescindível, principalmente quando se trata de comédia. O texto - adaptado por Arraes e Claudio Paiva - continua explorando as deliciosas expressões do protagonistas, mas o roteiro peca por empurrar goela abaixo do espectador o romance entre a filha de Odorico (Maria Flor) com seu jovem antagonista político. Ao invés de explorar mais o talento de Drica Moraes, Andréa Beltrão e Matheus Nachtergaele, o roteiro perde preciosos minutos com uma história de amor totalmente desncessária. O resultado é um filme divertido, sim, em muitos momentos, mas muito aquém do que poderia ser.

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1 Comments


Oi Clenio!!

A obra do Dias Gomes é maravilhosa, porém o filme é um tantinho irregular. Ficou a impressão verniz do padrão globo de produção que muito cabe na teledramaturgia e não no cinema.

Mas eu preciso rever, porque gosto da história. Um clássico. E o elenco também eu gosto como Nanini e Beltrão. DE fato o que Gracindo deixou foi um trabalho antológico na TV, embora no cinema tenha outra linguagem e o Nanini até fez direito. Evidente ótimo ator..o problema é o filme em si!

Abraços,
Rodrigo

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