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ADEUS ÀS EMPREGUETES

Posted by Clenio on 22:04 in
Quem diria que uma novela protagonizada por três empregadas domésticas que se tornam famosas como cantoras populares poderia se tornar um dos maiores sucessos de 2012, não é? Escrita pelos novatos Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, "Cheias de charme" estreou no dia 16 de abril e, com pouco mais de 140 capítulos - quando a média das novelas globais é de 200 - deixou sua marca como uma das mais divertidas, leves e inventivas tramas dos últimos anos. Contando com muito mais qualidades do que defeitos, a trama fez rir, emocionou e não teve medo de unir os mais batidos clichês da teledramaturgia com a tecnologia das novas mídias, haja visto o sucesso que fez também nas redes sociais. O balanço final da trama não poderia ser mais positivo.

Primeiro é preciso louvar o texto dos autores. Engraçadíssimos, repletos de referências à cultura popular brasileira e em alguns momentos de grande sensibilidade, os diálogos de Miguez e Oliveira mostraram um equilíbrio raro, nunca pesando a mão em um extremo ou outro. Mesmo quando ameaçava cair no folhetim barato, a história das empreguetes conseguia rir de si mesma e, melhor ainda, tinha um elenco afiadíssimo a defender algumas das personagens mais deliciosas a passar pelas telas da Globo em muito tempo, como a cantora Chayene - vivida por uma extraordinária Cláudia Abreu, que matou as saudades dos fãs - e sua fiel escudeira Socorro (a ótima revelação Titina Medeiros).

As protagonitas criadas pelos autores também foram um gol de placa. Cada uma com características próprias, elas encontraram fãs de norte a sul do país. A Maria da Penha de Taís Araújo recuperou o prestígio da atriz - prejudicado pela pálida Helena de "Viver a vida" - e possibilitou a ela uma dupla impagável com o marido boa-vida Sandro (a melhor atuação de Marcos Palmeira até hoje). A dedicada Maria do Rosário (ou Rosilene, Roxane, Rosicler, conforme chamada por Chayene) mostrou o talento de Leandra Leal como heroína - e seu romance com Inácio (Ricardo Tozzi em papel duplo) também convenceu plenamente. E por fim, a doce Maria Aparecida deu a grande chance que a bela Isabelle Drummond precisava desde que surgiu como a Emília novo século do "Sítio do Picapau Amarelo". Sua história de amor com o príncipe encantado Elano (Humberto Carrão) conquistou o público que gosta de torcer por um romance de novelas, embalada pela linda canção "Pavilhão de espelhos", na voz de Roberta Sá.


O melhor de "Cheias de charme" é que todas as suas tramas paralelas funcionaram à perfeição, desde as mais sérias até as mais cômicas. Todo o elenco bem escalado teve chance de brilhar, a trilha sonora casou com exatidão às imagens e mesmo quando a direção saía do tradicional - com a imaginação das personagens tomando vez - tudo cabia perfeitamente no tom proposto pelos autores. Contando com participações especiais de gente como Luan Santana, Faustão, Ana Maria Braga, Zezé di Camargo & Luciano, Calypso e Michel Teló, a novela também espelhou a atual cultura popular nacional - pro bem ou pro mal.

Infelizmente "Cheias de charme" acabou. Mas os fãs de novelas tem mais é que agradecer à Chayene, Socorro e às empreguetes por seus 143 capítulos de diversão.

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PLANO DE FUGA

Posted by Clenio on 01:56 in
Coitado do Mel Gibson! Um dos atores mais poderosos do cinemão americano nos anos 80 e 90 - e que mostrou talento incomum quando transferiu-se para a cadeira de diretor, ganhando uma pá de Oscar por "Coração valente" e uma fortuna em dólares e controvérsia com "A paixão de Cristo" - o astro das séries "Máquina mortífera" e "Mad Max" cavou a própria sepultura, entrando em polêmicas com a comunidade judia (uma das mais influentes de Hollywood) e virando manchete sensacionalista com seus problemas domésticos. Uma das mais contundentes provas de que o australiano realmente está em seu inferno astral cinematográfico é o fato de seu mais recente trabalho, o policial "Plano de fuga", ter saído direto em dvd e bluray nos EUA, nem chegando às salas de exibição. A maior ironia de tudo isso? O filme, dirigido por Adrian Grunberg - que foi assistente de direção de Gibson em "Apocalypto" - é muito melhor do que a grande maioria dos filmes de ação lançados mensalmente pelos grandes estúdios.

Mesmo que derrape em um final meio forçado, "Plano de fuga" prende a atenção da plateia desde seus primeiros minutos, graças a uma direção firme e um roteiro sempre surpreendente: tudo começa em uma perseguição automobilística na fronteira do México, quando policiais corruptos conseguem prender o assaltante que, preso, passa a ser conhecido como Gringo (Gibson, fazendo suas caras e bocas habituais, dessa vez dentro do contexto). Transferido para uma prisão conhecida como "El Pueblito", ele logo percebe que as coisas não serão fáceis pra ele, especialmente porque os guardas que o prenderam não veem a hora de botar a mão no resto do dinheiro do assalto. Tomando conhecimento das regras da prisão, ele descobre um sistema de hierarquia no lugar e que um precoce menino de dez anos (Kevin Hernandez), protegido do manda-chuva Javi (Daniel Giménez Cacho) pode ser seu passaporte para a fuga.

Fotografado em cores quentes e editado nervosamente, "Plano de fuga" é um filme adulto, sem espaço para piadinhas sem graça e dotado de um ritmo particular. Sem pressa de contar sua história, o roteiro co-escrito por Gibson, Grunberg e Stacy Perskie apresenta suas personagens, seus conflitos e suas soluções em pouco mais de noventa minutos, sem tempos mortos. Tudo bem que as sequências finais sejam um tanto exageradas - e que abram até a possibilidade de uma continuação - mas o clima quente da trama (valorizada pela trilha sonora do brasileiro Antonio Pinto), as viradas bem localizadas, algumas cenas muito bem realizadas (como um tiroteio em pleno Pueblito) e a química entre Gibson e o garoto Kevin Hernandez fazem tudo valer a pena. Um filme que merece ser descoberto!

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AMOR IMPOSSÍVEL

Posted by Clenio on 18:53 in
Uma coisa que os produtores de Hollywood precisam aprender - e quanto mais rápido melhor para o pobre público que frequenta as salas de cinema - é que nem todo livro, por mais promissor que pareça, consegue ser transformado em um bom filme. É de se perder as contas de quantas obras literárias estupendas se tornaram filmes medíocres ou simplesmente ruins, e mesmo assim, a audiência é obrigada a engolir coisas do tipo "Amor impossível", baseado em um romance de Paul Torday quase ignorado no Brasil chamado "A pesca do salmão no Iêmen" - sim, o título em português é o cúmulo da preguiça, mas esse é o menor de seus pecados.

O livro de Torday é uma sátira quase política, que trata com bom humor sobre as relações entre o Ocidente e o Oriente Médio e usa da ironia e do sarcasmo para revelar a burocracia e o jogo de interesses nos bastidores do poder britânico. O filme, dirigido por um cada vez menos inspirado Lasse Hallstrom, passa longe de qualquer sutileza e diversão, centrando seu foco em uma história de amor derivativa e sem grandes emoções, o que é um desperdício dos talentos de seus protagonistas, os sempre ótimos Ewan McGregor e Emily Blunt, que aqui não tem quase nada a fazer.

McGregor, simpático e adorável como sempre, vive Alfred Jones, cientista do Centro Nacional para a Excelência da Pesca. Com o casamento em crise, ele se vê envolvido em um projeto absurdo e inacreditável: um poderoso xeique do Iêmen deseja implantar a cultura do salmão em seu país, mesmo sabendo que as condições climáticas não são exatamente favoráveis a tal loucura. Contando com a ajuda da bela Harriet (Emily Blunt), ele embarca para a Arábia Saudita disposto a realizar os desejos do xeique e acaba se apaixonando pela colega de trabalho - enquanto a assessora de imprensa do Primeiro Ministro (interpretada com gosto pela sensacional Kristin Scott-Thomas) batalha uma maneira de fazer com que tudo dê certo e ajude a melhorar a opinião popular sobre o governo britânico.

Como se pode ver, a história de amor entre Jones e Harriet - que deu título à obra no Brasil - acaba assumindo a protagonização do filme, simplesmente deixando a ideia do livro para o clímax, que por sua vez, é fraco e forçado demais. O humor do roteiro simplesmente inexiste, a química entre McGregor e Blunt é suplantada por seus conflitos mal delineados e a direção de Hallstrom chega a ser sofrível. E a pergunta que fica é: cadê o talento do cineasta sueco, que encantou o mundo no final da década de 80 com "Minha vida de cachorro" (pelo qual foi indicado ao Oscar)? Com o passar do tempo, o homem que dirigiu vários dos videoclipes do grupo sueco ABBA foi deixando seu olhar nórdico de lado e criando obras que emulam o pior do cinema comercial americano - o que culminou com o tenebroso "Querido John" e agora este "Amor impossível". Ou ele se reinventa urgentemente ou será considerado muito em breve como uma grande fraude.

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360

Posted by Clenio on 16:51 in
Um dos maiores problemas que podem acometer um cineasta talentoso é o excesso de expectativas em relação a seus trabalhos - e a consequente ambição que nem sempre atinge seus objetivos. Um exemplo claro disso é o brasileiro Fernando Meirelles. Depois do merecidíssimo êxito de "Cidade de Deus" - que entrou na lista de nove entre dez críticos como um dos filmes essenciais da primeira década do século XXI, levou multidões aos cinemas e concorreu a 4 Oscar - ele assinou obras interessantes baseadas em livros conhecidos - "O jardineiro fiel" (que deu a Rachel Weisz o Oscar de coadjuvante) e "Ensaio sobre a cegueira" (que adaptou com competência a obra difícil de José Saramago mas dividiu a crítica) - e chegou a seu projeto mais difícil até agora: "360", escrito por Peter Morgan ("A rainha") com base em uma peça de teatro do austríaco Arthur Schnitzler, amigo de Freud e autor também do livro que deu origem a "De olhos bem fechados", último trabalho de Stanley Kubrick. O resultado final comprova o talento de Meirelles por trás das câmeras, mas também evidencia o que muito fã de cinema já sabe muito bem: filmes com histórias paralelas são, raras exceções à parte, bastante irregulares em seu conjunto.

A maior qualidade do roteiro de "360" - o título refere-se ao círculo completo que se fecha a seu final - é que as histórias contadas ao longo de seus 110 minutos interligam-se de forma tênue, quase invisível, tornando verossímeis até mesmo relações quase impossíveis - como a que envolve o americano em busca da filha desaparecida (ótimo trabalho do veterano Anthony Hopkins) com a brasileira que abandona o namorado e parte de volta pra casa (a delicada Maria Flor) e cai nos braços de um ex-presidiário condenado por estupro (o excelente Ben Foster). O olhar de Meirelles aos detalhes, seu cuidado com a direção de atores continua perceptível e afiados, dando espaço para o brilho de seu vasto elenco, que inclui também os premiados Jude Law e Rachel Weisz como um casal em crise - ele busca prostitutas em suas viagens a negócios e ela tem um caso tórrido com um fotógrafo brasileiro (Juliano Cazarré). O cineasta é inteligente o bastante também para nunca deixar que a audiência saiba o que está para acontecer, fugindo dos clichês e usando a excelente trilha sonora como comentários sutis à ação. Soma-se a isso a edição do parceiro habitual do diretor, Daniel Rezende, e tem-se um filme tecnicamente perfeito. Mas falta a ele algo que nunca faltou aos trabalhos anteriores de Fernando Meirelles: emoção.

Mesmo que em alguns segmentos o público consiga se importar com as personagens - principalmente devido a atuações gloriosas de Ben Foster e Maria Flor - é fato que falta a "360" alma. Talvez porque fiquem um tempo curto demais em cena as personagens não conseguem envolver a audiência, mesmo porque nem todas as histórias tem um desfecho. Ao mesmo tempo em que isso denota uma bem-vinda ousadia (fugir dos padrões nunca faz mal), afugenta o público que espera resoluções comuns. E algumas personagens são tão fascinantes que fica-se questionando se não valeriam, sozinhas, um filme inteiro.

"360" não é a obra-prima que poderia ser, haja visto o acúmulo de talentos envolvidos em sua realização. Mas é tecnicamente deslumbrante, magnificamente interpretado e soberbamente dirigido. Se tivesse um pouquinho mais de alma seria imperdível.

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PODER PARANORMAL

Posted by Clenio on 01:08 in
Em 2010, o cineasta espanhol Rodrigo Cortés surpreendeu os fãs de cinema com "Enterrado vivo", um suspense realizado com uns trocados (cerca de 3 milhões de dólares) e que, mesmo sob circunstâncias limitatórias (era passado inteiramente em um exíguo caixão debaixo da terra, conforme o título sugere) revelou um diretor inteligente, criativo e com impecável senso de ritmo. A expectativa em torno de seu projeto seguinte era grande e talvez por isso a recepção a "Poder paranormal" tenha sido tão morna. Afinal, se com apenas um ator medíocre (Ryan Reynolds) em cena o diretor conseguiu realizar milagres, o que ele poderia fazer com gente do quilate de Robert De Niro e Sigourney Weaver no elenco de seu novo filme? O resultado é apenas razoável, para decepção de muitos.

"Poder paranormal" começa muito bem e desenvolve suas personagens com relativa competência. O protagonista é o jovem físico Tom Buckley (Cillian Murphy exibindo sua falta de carisma habitual). Misterioso e calado, ele é o fiel assistente da renomada Margareth Matheson (Sigourney Weaver), psicóloga especializada em desmascarar fraudes em casos de atividades paranormais.O relacionamento pacífico entre os dois começa a sofrer um abalo quando o rapaz insiste que a doutora lhe acompanhe na investigação de Simon Silver (Robert De Niro), um famoso psíquico cego que retorna à ribalta trinta anos depois de ter se afastado da fama. Acontece que, ao mesmo tempo em que Tom vê na busca pela verdade a respeito de Silver uma forma de fazer as pazes consigo mesmo (graças a um passado que ele insiste em esconder), Margareth tem seus motivos para evitar o confronto com o veterano paranormal.

Cortés tem a felicidade de manter seu suspense em um nível de inteligência acima da média, concentrando-se em diálogos interessantes e um clima de constante tensão. Os sustos, quando acontecem, chegam nas horas certas e os atores estão particularmente afiados, ainda que mais uma vez De Niro não seja aproveitado como pode. Mas quando chega perto do final, o cineasta parece ter cedido à tentação de extrapolar os limites da sutileza, em um clímax barulhento e exagerado que mais decepciona do que empolga. A revelação final - com direito a um flashback desnecessário que subestima o poder de inteligência da plateia - carece de impacto, mas faz sentido diante do conjunto. E não deixa de ser uma agradável surpresa rever o ator argentino Leonardo Sbaraglia como um falso médium, em uma atuação hipnotizante que contrasta com a apatia do protagonista Cillian Murphy.

Levando-se em consideração que filmes de suspense para adultos são produtos cada vez mais raros em Hollywood, "Poder paranormal" é um oásis. Mas nunca ultrapassa as expectativas, tornando-se uma opção interessante mas jamais genial.

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MEU NAMORO MAIS DURADOURO

Posted by Clenio on 18:11 in
É um fenômeno muito comum. De repente alguma música diz EXATAMENTE o que você está sentindo, colocando em palavras e ritmos todas as sensações que seu coração quer gritar mas não consegue. É assustador, mas é confortante. É um alívio saber que você não está sozinho nessa história de estar no início de uma paixão, ou no fim dela, ou sendo abandonado por ela, ou simplesmente questionando-a. É bom perceber que existe outra pessoa no mundo que sente (ou já sentiu) a alegria e a dor de amar. E o que se faz, então, quando se percebe que essa pessoa não apenas criou UMA música sobre a sua vida, mas todo um repertório impecável que traduz em poesia todo o seu ser? Vira fã incondicional.

É isso que Alanis Morissette significa pra mim. Com suas letras confessionais/raivosas/melancólicas/sensíveis, a canadense que conquistou o mundo em 1995 com seu primeiro cd "Jagged little pill" (um dos mais perfeitos álbuns pops jamais criados) canta a minha vida a cada verso, a cada single, a cada lado B, a cada acorde. É como se lesse meu pensamento e criasse canções que refletissem cada estado de espírito a que sou sujeito. Como não poderia me apaixonar por alguém que sabe como cantar o início de um relacionamento ("Head over feet"), a raiva por ter sido trocado ("You oughta know"), o desespero de um reinício ("Not as we"), a decisão do fim "("That particular time"), o sofrimento da perda ("Simple together"), a saudade ("Torch"), a sensação de humilhação ("Bent for you") e a alegria de ter se tornado uma pessoa melhor ("You learn"), só pra citar meia dúzia de obras-primas?

Reencontrar Alanis em Belo Horizonte me fez ganhar um ano que, até agora, tem sido repleto de acontecimentos e sensações únicas. O show apresentado por ela - em lançamento de seu novo álbum, "Havoc and bright lights" - não trouxe muitas novidades, mas duvido que qualquer um dos fãs presentes no Chevrolet Hall - talvez seguidores devotos seja a melhor definição - tenha algo a reclamar a esse respeito. Alanis desfilou tantos sucessos no palco que é difícil escolher um momento específico de destaque. Logicamente suas canções mais famosas levantaram mais a audiência - tentar ficar impassível diante de "Uninvited" é tarefa inglória - mas até mesmo diante de novas obras o público sabia exatamente como se comportar: cantando cada verso com emoção fiel. E, simpática e carismática, Alanis ganhou todo mundo logo na primeira música, a ótima "Woman down", do novo álbum. Foi o início do delírio - que culminou com "You oughta know" cantada diretamente a meu coração que estava aos pulos por mais de um motivo.

Alanis Morissette vem me acompanhando há 17 anos. A mais completa, longa e feliz relação da minha existência errática. E não pretendo abandonar esse namoro jamais.


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O DITADOR

Posted by Clenio on 20:01 in
Se existe algo que não pode ser dito do inglês Sacha Baron Cohen é que ele é covarde. Mesmo diante dessa insuportável onda do politicamente correto que vem acometendo o cinema americano há intermináveis anos, o ator e roteirista sempre fez questão de mostrar ao público um humor ácido e quase ofensivo, incapaz de poupar qualquer minoria. Para cada fã que arrebatou, porém, provocou polêmicas e desafetos. Seja como o protagonista de "Borat" (um cazaquistanês apaixonado por Pamela Anderson) ou no papel-título de "Bruno" (como um modelo homossexual), Sacha desfila pela tela piadas de extremo mau-gosto ao lado de tiradas de uma inteligência ímpar, refletindo um estado de espírito crítico e inquieto. Seu novo filme, "O ditador", mantém a veia sarcástica de seus antecessores, mas esbarra em uma estrutura quadradinha que o torna o mais irregular de sua carreira até então. Mesmo assim, é impossível não rir.

Logicamente, assim como acontece com os filmes de Woody Allen, é preciso ter predisposição ao humor metralhadora-giratória de Cohen para melhor aproveitar a experiência. Se o público precisa aguentar piadas de gosto um tanto duvidoso sobre masturbação e todo tipo de escatologia ele também é brindado com diálogos de puro nonsense onde o roteiro - co-escrito pelo ator - brinca de forma inteligente com a situação política do mundo e com a cultura da celebridade (e aí destaca-se a participação especial de Edward Norton e Megan Fox). Engraçado como poucos filmes desse ano, "O ditador" pode não ser uma obra-prima, mas é melhor que qualquer abobrinha metida a cult.

A história de "O ditador" é apenas pretexto para que Sacha critique os governos ditatorias do Oriente Médio (e de quebra, em seu discurso final, a própria forma de governo americana). Haffaz Alladeen (vivido por Cohen) é o megalomaníaco ditador de um país fictício chamado Wadyia, onde assumiu o poder ainda criança, para desgosto de seu tio Tamir (Ben Kingsley, à vontade). Violento e cruel, Alladeen viaja à Nova York para um discurso na ONU e acaba sendo vítima de uma conspiração armada por seu tio, que coloca um sósia em seu lugar. Tido como morto, ele assume o nome de Efawadh e vai trabalhar ao lado da politicamente corretíssima Zoey (Anna Faris), que lhe mostra uma nova maneira de enxergar o mundo. Apaixonado por ela, o ditador descobre que pode ser amado sem que pague para isso (e inicia uma revolução em seus ideais).

Pode soar como uma história romântica e boboca, mas é bom que não esqueçamos que "O ditador" é mais um produto da mente deliciosamente doentia que demoliu o mundo da moda em "Bruno" e riu descaradamente das diferenças culturais entre os EUA e o resto do mundo em "Borat". Sendo assim, espere por piadas quase grosseiras equilibradas com um humor bastante sutil. No meio de tudo isso, mais uma caracterização marcante do ator e a vontade de assistir a mais filmes com a coragem de desafiar o marasmo da comédia americana.

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ALANIS MORISSETTE - AS PREFERIDAS

Posted by Clenio on 03:05 in
Está chegando a hora... Dia 09 de setembro estarei revendo aquela que parece conhecer cada pensamento meu, cada sofrimento, cada raiva, cada sentimento que eu tento esconder. Alanis Morissette pode não agradar a todos, mas a mim agrada sobremaneira, e como forma de comprovar isso vou dedicar esse post a ela, escolhendo minhas duas canções preferidas de cada álbum - e justificando as respostas, como em prova de colégio... E tentando fugir do óbvio (ainda que nem sempre dê para fazer isso...)

JAGGED LITTLE PILL

O primeiro álbum é imbatível. Difícil escolher apenas duas entre clássicos absolutos dos anos 90. Amo "You oughta know" (quem não ama?), "Ironic", "Not the doctor", enfim... Mas minhas escolhidas são "Head over feet" - que marcou, anos depois, o início de um namoro muito importante e é uma declaração de amor das mais fofas do cancioneiro pop recente - e "Mary Jane" - de uma delicadeza ímpar e uma letra apaixonante.

SUPPOSED FORMER INFATUATION JUNKIE

O álbum mais "difícil" de Alanis é ainda mais confessional do que o primeiro. E não, não escolherei "Thank U" ou "That I would be good", por mais que as adore (em especial a segunda). Minhas preferidas são as complexas e verborrágicas "The couch" (com a qual Alanis abriu o show em Porto Alegre em 2009) e "Joining you", que fala de um tema delicado: o suicídio.

MTV UNPLUGGED

Um sonho? Ouvir Alanis ao vivo entoando "No pressure over capuccino". Sem mais. Ok, eu amo "Uninvited" (cedendo ao lugar-comum...)

UNDER RUG SWEPT

"That particular time" me devasta com sua letra impecável e suas verdades perfeitas. E tem como não se emocionar com "Flinch"? "You affected me like you are my air..." Mais lindo que isso não existe...

FEAST ON SCRAPS

Talvez o menos conhecido álbum de Alanis tem algumas das suas melhores canções. Duvida? "Bent for you" e "Simple together" entrariam no meu top 5, tamanha a identificação com suas letras. A segunda sempre - SEMPRE! - consegue me fazer chorar com os versos "I remembered you the moment I met you... With you I knew God's face was handsome... With you I saw fun and expansion". Matadoras!

SO-CALLED CHAOS

O álbum de 2004 também não foi lá muito louvado, exceto pelos fãs fieis. Mas apresenta "Everything" - o primeiro single, lindo e eficiente - e a tristíssima "This grudge" (eu sei, prefiro as melancólicas e depressivas, mas sou assim, me deixa....)

FLAVORS OF ENTANGLEMENT

O penúltimo álbum de Alanis foi o responsável por trazê-la a Porto Alegre e serei eternamente grato a ele por isso. Mas, não bastasse essa lembrança tão positiva, ainda proporcionou aos fãs (e a mim) alguns bons momentos de sensibilidade. Pra variar são as mais tristes que me marcaram mais (mesmo porque boa parte do disco fala sobre o fim do relacionamento da cantora com o ator Ryan Reynolds, e falou de dor de corno falou de mim...) "Torch" é um belo exemplo de canção de saudade e "Not as we" cheguei a usar como trilha sonora de uma peça de teatro, de tanto que sou apaixonado por ela. Mas tem tantas músicas boas nele que dói escolher apenas duas.

HAVOC AND BRIGHT LIGHTS

O mais recente cd ainda está quentinho e escolhendo uma preferida hoje corro o sério risco de ver esse post defasado muito em breve. Nas primeiras audições, no entanto, escolho como minhas queridas a bela "Empathy" e "Receive", que finalmente tem uma mensagem alto-astral (já era tempo, hein, Alanis??) Mas confesso que adoro "Guardian" (sei que é single, sei que é clichê, mas adorei a música e o videoclipe).

É isso.... Daqui a poucos dias escreverei contando meu reencontro com minha alma gêmea musical.



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PROCURA-SE UM AMIGO PARA O FIM DO MUNDO

Posted by Clenio on 21:28 in
Falta apenas três semanas para que o mundo como o conhecemos acabe. Pessoas desesperadas cometem suicídio, arruaças acontecem em todo lugar de forma bastante violenta, voos são suspensos e ninguém mais segue algumas das regras mais básicas de conduta. Recentemente abandonado pela esposa, o vendedor de seguros Dodge Peterson (Steve Carell) descobre, de maneira casual, que um antigo amor dos tempos de colégio ainda não o esqueceu. Decidido a procurá-la, ele conta com a ajuda da jovem vizinha Penny (Keira Knightley), que se sente responsável pela carta não ter chegado antes ao destinatário. Prometendo a Penny apresentá-la a um conhecido que tem um avião particular (e que pode reuní-la à família distante), ele inicia com ela uma viagem pelos EUA. Um doce pra quem adivinhar o que vai acontecer.

Filme de estreia como cineasta de Lorene Scafaria (roteirista de "Uma noite de amor e música"), o misto de comédia/romance/drama "Procura-se um amigo para o fim do mundo" acaba não agradando plenamente em nenhum dos gêneros a que se propõe. Como comédia não funciona, apesar de algumas piadas razoavelmente inteligentes e do talento imenso de Steve Carell em transmitir todas as nuances do papel. Como drama não emociona o bastante, em parte porque as personagens não são desenvolvidas a contento. E como romance se ressente da falta de química entre Carell e Keira Knightley, que mostra toda sua fragilidade como atriz apresentando seu festival de sempre de caras e bocas. Mas se tudo é tão ruim assim, o melhor é ignorar o filme?

Sim e não. Como passatempo inofensivo "Procura-se um amigo para o fim do mundo" serve muito bem. É, justiça seja feita, um entretenimento no mínimo agradável - e que conta com participações competentes de Martin Sheen, William Petersen e Melanie Linskey. Mas, ao mesmo tempo é superficial ao extremo e passa longe de explorar todas as possibilidades de sua premissa bastante interessante - em raros momentos os protagonistas realmente fazem acreditar que estão a poucos dias do apocalipse, comportando-se apenas como duas pessoas carentes e inseguras (e nem um pouco carismáticas, apesar dos esforços de Carell). Some-se a isso um final morno e a plateia testemunha uma sessão da tarde sem maiores lances de criatividade mas jamais intragável.

E, vendo Steve Carell em cena só um pensamento vem à cabeça: "Que saudade dos bons tempos de 'The Office!'".

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AMOR... AH, O AMOR

Posted by Clenio on 03:42 in
E quando menos se espera o amor chega. Pode ser pra sempre, pode durar apenas uma temporada. Pode ser calmo e tranquilo, mas pode ser avassalador e tonitruante. Pode vir de perto, mas é possível que venha de bem longe. Pode ser inexplicável ou pode ter milhões de razões. Mas tem que balançar. Tem que fazer suar frio. Tem que despertar sorrisos bobos. Tem que dar aquele enjoo gostoso. Tem que despertar aquela vontade de falar por horas ao telefone. Tem que fazer feliz.

O amor tem que colorir a vida. Tem que diminuir o tamanho dos problemas. Tem que fazer músicas bregas adquirirem sentido. Tem que criar uma sintonia quase espiritual. Tem que apagar do passado todas as dores de amores vãos. Tem que inventar códigos próprios. Tem que fazer sonhar acordado. Tem que dar coragem para planos antes ridículos. Tem que redescobrir o amor-próprio. Tem que despertar o interesse por coisas jamais percebidas anteriormente. Tem que se permitir ser um pouquinho cafona. Tem que implicar com aqueles defeitinhos bonitinhos.

Aqueles que se amam tem piadas internas. Tem apelidos bobos. Tem filmes e músicas em comum. Tem vontades similares. Tem saudades. Tem ciúmes até de personagens de TV.  Tem medo de perder. Tem tesão. Aqueles que amam protegem. Cuidam. Se preocupam. Fazem rir. Fazem confidências. Fazem sexo. Fazem comida juntos. Fazem compras. Fazem a vida valer a pena.

Amor é troca. Amor é confiança. Amor é paixão. Amor é admiração. Amor é perdoar os pequenos defeitos (ou melhor ainda, aceitá-los como parte da pessoa amada). Amor é respeito. Amor é lealdade. Amor é sensibilidade. Amor é o contrário daquilo tudo que faz com que o mundo pareça cinzento. Amor é descobrir, dentro de si, uma força descomunal que faz empalidecer os sofrimentos passados para que se possa encarar as felicidades futuras. Amor é raro. Mas quando acontece e é correspondido... é a razão pela qual tudo no mundo faz sentido!

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