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WALT NOS BASTIDORES DE "MARY POPPINS"
Posted by Clenio
on
18:22
in
CINEMA 2014
Um dos mais adorados filmes da fase áurea dos estúdios Disney - quando ainda era supervisionado pelo próprio fundador - a comédia musical "Mary Poppins" não deixou que as décadas diminuíssem seu encanto diante das plateias que nunca se cansam de acompanhar as aventuras da babá mágica que conseguiu transformar a família Banks com seu carisma contagiante - e a ajuda de alguns "amigos" pouco convencionais, como pinguins e um guarda-chuva voador. O que pouca gente sabe, no entanto - e aí estão incluídos todos aqueles espectadores que sabem de cor e salteado as canções compostas especialmente para o filme - é que a transposição dos livros da escritora australiana P. L. Travers para o cinema esteve bem longe de ser tão divertido. Firmemente arraigada aos detalhes de sua criação, é Travers, uma solteirona quase irascível em suas convicções, a protagonista de "Walt nos bastidores de 'Mary Poppins'", a despeito do ridículo título nacional que elimina sem dó nem piedade todas as implicações do muito mais interessante "Saving Mr. Banks".
Dirigida por John Lee Hancock - que cometeu o abominável "Um sonho possível", ou seja, tem um currículo pouco recomendável - a história da odisseia que foi convencer Travers a permitir que seus personagens chegassem às telas é contada de maneira bem-humorada e sensível, ainda que muitas vezes escorregue em um sentimentalismo característico do estúdio do Mickey. A boa notícia, porém, é que esse sentimentalismo - ressaltado pela bela trilha sonora indicada ao Oscar - é equilibrado com um senso de humor delicado e puro, valorizado pela química entre Emma Thompson (na pele de Travers) e Tom Hanks (que, obviamente, criou um Walt Disney a milhares de quilômetros de distância do polêmico empresário que, segundo dizem, era xenófobo e misógino). O Disney de Hanks, aliás, é apenas o coadjuvante de uma trama que se concentra basicamente em explicar os motivos pelos quais a escritora era tão resistente em deixar que sua personagem mais famosa fosse "destruída" em uma adaptação - motivos esses que remetem à sua infância e sua relação com seu amoroso mas desajustado pai (interpretado por Colin Farrell).
O roteiro de "Saving Mr. Banks" não foge do previsível, nem se poderia esperar algo assim de um filme nascido sob os auspícios dos estúdios Disney - tradicionalmente avesso a qualquer transgressão moral e pródigo em produções direcionadas à família. No entanto, essa característica funciona às mil maravilhas na obra de Hancock, sublinhando o tom leve e carinhoso do roteiro e da história mesmo quando a infância dolorida de Travers vem à tona, revelando seus tramas e lembranças dramáticas - todas elas transmitidas com maestria por uma Emma Thompson excepcional e injustamente esquecida pelo Oscar, apesar da indicação ao Golden Globe. É Thompson quem carrega o filme nas costas, com uma atuação repleta de nuances e que transita confortavelmente entre o drama e a comédia. É graças a ela que o público - especialmente os fãs da personagem imortalizada por Julie Andrews nas telas - é capaz de se emocionar às lágrimas.
Para resumir, "Walt nos bastidores de 'Mary Poppins'" é uma bela homenagem a um dos filmes mais amados dos estúdios Disney e deve ser visto como tal. O fato de agradar até mesmo a quem não gosta do gênero do clássico - ou a quem nunca o assistiu - é apenas uma prova de que nem sempre é preciso maiores ambições para realizar uma obra sensível e agradável. É um carinho para a alma em uma época tão afeita ao cinismo ululante.
Dirigida por John Lee Hancock - que cometeu o abominável "Um sonho possível", ou seja, tem um currículo pouco recomendável - a história da odisseia que foi convencer Travers a permitir que seus personagens chegassem às telas é contada de maneira bem-humorada e sensível, ainda que muitas vezes escorregue em um sentimentalismo característico do estúdio do Mickey. A boa notícia, porém, é que esse sentimentalismo - ressaltado pela bela trilha sonora indicada ao Oscar - é equilibrado com um senso de humor delicado e puro, valorizado pela química entre Emma Thompson (na pele de Travers) e Tom Hanks (que, obviamente, criou um Walt Disney a milhares de quilômetros de distância do polêmico empresário que, segundo dizem, era xenófobo e misógino). O Disney de Hanks, aliás, é apenas o coadjuvante de uma trama que se concentra basicamente em explicar os motivos pelos quais a escritora era tão resistente em deixar que sua personagem mais famosa fosse "destruída" em uma adaptação - motivos esses que remetem à sua infância e sua relação com seu amoroso mas desajustado pai (interpretado por Colin Farrell).
O roteiro de "Saving Mr. Banks" não foge do previsível, nem se poderia esperar algo assim de um filme nascido sob os auspícios dos estúdios Disney - tradicionalmente avesso a qualquer transgressão moral e pródigo em produções direcionadas à família. No entanto, essa característica funciona às mil maravilhas na obra de Hancock, sublinhando o tom leve e carinhoso do roteiro e da história mesmo quando a infância dolorida de Travers vem à tona, revelando seus tramas e lembranças dramáticas - todas elas transmitidas com maestria por uma Emma Thompson excepcional e injustamente esquecida pelo Oscar, apesar da indicação ao Golden Globe. É Thompson quem carrega o filme nas costas, com uma atuação repleta de nuances e que transita confortavelmente entre o drama e a comédia. É graças a ela que o público - especialmente os fãs da personagem imortalizada por Julie Andrews nas telas - é capaz de se emocionar às lágrimas.
Para resumir, "Walt nos bastidores de 'Mary Poppins'" é uma bela homenagem a um dos filmes mais amados dos estúdios Disney e deve ser visto como tal. O fato de agradar até mesmo a quem não gosta do gênero do clássico - ou a quem nunca o assistiu - é apenas uma prova de que nem sempre é preciso maiores ambições para realizar uma obra sensível e agradável. É um carinho para a alma em uma época tão afeita ao cinismo ululante.