2

A ESTRADA

Posted by Clenio on 21:08 in

Se existe uma coisa que me deixa feliz da vida é assistir a um filme do qual não espero muito e sair do cinema encantado. Depois de tanto ter que engolir péssimos exemplos cinematográficos vindo de uma Hollywood que adora pasteurizar sentimentos, fui surpreendido com um dos melhores filmes do ano e que, sintomaticamente, passou batido pelas cerimônias de premiação que renderam louvores a lixos como "Um sonho possível". Dirigido pelo relativamente novato John Hillcoat, "A estrada" é um petardo emocional dos mais sinceros, que equiilibra com presteza elementos de um filme de suspense aterrador com um drama familiar de partir o coração.

Adaptado de um romance de Cormac McCarthy (escritor que teve sorte até agora com as transições de seus livros para o cinema, uma vez que é também o autor da trama de "Onde os fracos não tem vez"), "A estrada" não é exatamente um filme fácil, e exige do público uma entrega quase total a seu universo, já que não oferece respostas imediatas nem soluções comuns à audiência. A história se passa em uma época não definida, em um lugar também não declarado. Só o que se sabe é que, por alguma razão, poucas pessoas estão vivas e vagam perdidas pelas estradas, em busca de alimento e moradia segura. Algumas dessas pessoas apelam para o canibalismo como forma de sobrevivência e é nesse ambiente que um homem (Viggo Mortensen) tenta proteger o único filho (Kodi Smith-McPhee) da violência que os cerca, ao mesmo tempo em que lhe ensina como manter-se são e perspicaz a tudo que lhes rodeia. Seu objetivo é reencontrar a esposa que os abandonou (Charlize Theron) e, no meio do caminho, cruza com vândalos, assassinos, indigentes e um homem idoso (Robert Duvall, irreconhecível e em uma atuação estupenda) que perdeu o filho devido à tragédia que os jogou, a todos, no mesmo barco de desesperança.

A belíssima fotografia de Javier Aguirresarobe, a trilha sonora discreta de Nick Cave e Warren Ellis e a maquiagem assustadora de Mandi Crane acabam se tornando elementos-chave nas mãos do diretor, que reitera a máxima de que o importante não é o destino e sim a viagem. Durante o processo de fuga/busca entre os protagonistas, a relação entre pai e filho chama mais a atenção do que os angustiantes momentos de tensão que perpassam o filme - mesmo que esses sejam filmados com extrema eficácia. É o carinho que move o pai desesperançoso e o filho dono de uma inocência sempre em vias de acabar que eleva o filme a uma categoria especial: é difícil não emocionar-se com o rosto ingênuo da sensacional revelação Kodi Smith-McPhee tentando devolver ao pai (vivido com garra por um Viggo Mortensen melhor ator do que nunca) a fé na bondade e na compaixão, assim como é virtualmente impossível sair do cinema sem a certeza absoluta de ter-se assistido a uma obra corajosa, forte e comovente.

"A estrada" é um filmaço, feito com uma competência assustadora e que aponta a seu diretor um futuro bem menos distópico do que o representado por ele em 120 minutos de projeção.

|

2 Comments


Ainda não pude conferir, mas as ótimas opiniões e críticas e seu bom texto permite que eu fique ainda mais curioso.

Abraço


Gostei da resenha...vou ver. Já pus na lista que tenho no PC...como indicação.
Um abraço, e até mais.

Copyright © 2009 Lennys' Mind All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates