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PRINCES FAMILIAR
Posted by Clenio
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15:57
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MTV UNPLUGGED
Eu me impressiono muito com gente que tem facilidade de encontrar a "pessoa certa". Essa gente consegue se apaixonar perdidamente e logo em seguida, quando acaba o romance, parte para outra relação com a mesma intensidade, a mesma paixão e a mesma certeza de ter encontrado seu príncipe (ou princesa) encantado. Essa gente supera fins de relacionamento com a mesma joir-de-vivre com que encontra os próximos. Essas pessoas se apaixonam e são sempre correspondidas e não têm a menor dificuldade em encontrar quem as complete. Eu até as invejaria se acreditasse que elas realmente acham o que procuram em todo mundo com quem se relacionam.
Namorar é bom, não nego. Sou um adepto do esporte, até mais do que andar por aí ficando, transando a esmo, trocando telefones (mesmo porque isso dá uma canseira danada...) Mas ao mesmo tempo namorar por namorar não faz meu gênero. Lógico que é bom passar um sábado gelado em casa, tomando um bom vinho, com as pernas enroladas debaixo de um edredon assistindo a um filme ao lado de alguém especial. Mas esse alguém tem que ser realmente especial. E, segundo a descrição do Aurélio, especial é algo exclusivo, fora do comum... Quantas pessoas fora do comum existem por aí afora? Eu não conheço muitas, não, pelo menos não a ponto de querer dividir minha vida, meu tempo e meus sentimentos. Sou exigente, sim, porque demorei muitos anos e muita terapia pra perceber que não me achei no lixo e que mereço alguém tão especial quanto eu pra ser feliz.
Meu nível de exigência é o nível que qualquer um com um mínimo de amor-próprio deve exigir - discordando de Nelson Rodrigues, que, pela boca de uma personagem decretou que com amor-próprio não há amor. Exigir alguém perfeito é loucura, é pedir pra morrer frustrado ouvindo Maysa e em eterna masturbação mental e sentimental. Mas eu exijo, sim, um amor que me faça bem, que me faça sorrir, que me faça cantar enquanto cozinho, que me dê forças pra levantar da cama mesmo nos piores dias, que me incentive a ser cada vez melhor. Faço questão de um amor que me excite física e intelectualmente, que divida comigo suas verdades e não tenha medo de ser honesto a respeito dos seus sentimentos. Jamais me apaixonaria por alguém vazio, que não tivesse algo a acrescentar, que tivesse apenas beleza em detrimento de conteúdo. Não seria capaz de entregar meus sentimentos a uma pessoa que nunca lê, que não chora, que não sabe valorizar as pequenas coisas de uma relação.
Não me é familiar encontrar pessoas certas pelo caminho, e tampouco deixá-las escapar quando as encontro. Sabe lá o que vem pela frente, mas só eu sei o que se passa dentro de mim quando ouço certa voz mansa, tranquila e com sotaque mineiro pelo telefone. Prefiro apostar e me jogar sem rede de proteção do que morrer de velho. Mas isso Fernanda Young já declarou de forma mais memorável em seu livro "Aritmética":
“Por isso tem tanta gente que não ama, nem é amado. São os que não agüentam levantar a tampa que os protege do incerto, e mudar. Pois a paixão é incerta, não aceitando o estabelecido. O amor, pior, engana, garantindo que poderá ser estável e infinito. E o ódio rapaz, esse é sempre eterno. Portanto, quem é que não ama, não se apaixona, não odeia? Os covardes? Com certeza. Os covardes, entretanto, sábios. Naquele conceito de sabedoria que mata você de velho. E morrer de velho, convenhamos, é a coisa mais humilhante do mundo.”