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HOUVE UM TEMPO...
Posted by Clenio
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19:49
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CONFISSÕES
É impressionante como certas coisas aparentemente banais podem deflagrar um turbilhão de sentimentos, emoções e saudades. Uma mesa de bar e algumas cervejas me proporcionaram, na última terça-feira, uma viagem no tempo, um retorno a uma época da minha vida em que eu talvez fosse feliz e soubesse, uma época em que todos os dias tinham o frescor de novidade, todas as noites tinham o aroma de inúmeros futuros empolgantes, e as madrugadas pareciam longas o bastante para que fossem vividas mil vidas.
Houve um tempo em que as amizades pareciam reais (e o eram). Momentos em que o mundo, moinho insensível que é, ainda não havia forjado em mim, a ferro e fogo, cicatrizes indeléveis na alma e no coração. Uma época em que havia sim, inocência e esperanças. Melhor ainda, havia uma infinidade de possibilidades e uma juventude que não aparentava querer ir embora.
Mas tudo vai embora. A juventude, a energia, a paciência, a esperança. Os amigos somem - o tempo, a distância, a morte chega e nos toma a intimidade, legando apenas as lembranças sorridentes e alcoolizadas, os abraços sonolentos e satisfeitos, as conversas alteradas pela paixão e pelas certezas inabaláveis que em breve foram desmentidas pela realidade.
É triste perceber que tempos assim não serão mais recuperados. No máximo podem ser relembrados e comemorados melancolicamente de vez em quando. Seria bom se pudéssemos prender esses momentos que tanto nos encheram de felicidade em outro lugar que não as memórias. Teria sido ótimo se tivéssemos tido a inteligência de notar que ali estava o melhor tempo de nossas vidas.
"Permanece intacta aquela perfeição singular, perfeita em parte porque parecia, na época, tão claramente prometer mais. Agora sabe: aquele foi o momento, bem ali. Não houve outro." (Michael Cunningham, "As horas")
Houve um tempo em que as amizades pareciam reais (e o eram). Momentos em que o mundo, moinho insensível que é, ainda não havia forjado em mim, a ferro e fogo, cicatrizes indeléveis na alma e no coração. Uma época em que havia sim, inocência e esperanças. Melhor ainda, havia uma infinidade de possibilidades e uma juventude que não aparentava querer ir embora.
Mas tudo vai embora. A juventude, a energia, a paciência, a esperança. Os amigos somem - o tempo, a distância, a morte chega e nos toma a intimidade, legando apenas as lembranças sorridentes e alcoolizadas, os abraços sonolentos e satisfeitos, as conversas alteradas pela paixão e pelas certezas inabaláveis que em breve foram desmentidas pela realidade.
É triste perceber que tempos assim não serão mais recuperados. No máximo podem ser relembrados e comemorados melancolicamente de vez em quando. Seria bom se pudéssemos prender esses momentos que tanto nos encheram de felicidade em outro lugar que não as memórias. Teria sido ótimo se tivéssemos tido a inteligência de notar que ali estava o melhor tempo de nossas vidas.
"Permanece intacta aquela perfeição singular, perfeita em parte porque parecia, na época, tão claramente prometer mais. Agora sabe: aquele foi o momento, bem ali. Não houve outro." (Michael Cunningham, "As horas")