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O GAROTO DA BICICLETA
Posted by Clenio
on
20:45
in
CINEMA 2011
Dá até medo de pensar o que um cineasta-padrão de Hollywood poderia fazer com um filme com esta premissa: menino abandonado pelo pai é deixado em um orfanato e é resgatado por uma cabeleireira solteira que tenta dar a ele um lar e carinho, mas que percebe que o senso de auto-destruição do garoto pode impedí-los de manter uma relação saudável. Nas mãos de um diretor qualquer, mais preocupado com o dinheiro e os Oscar que tal filme poderia render, nasceria mais um intragável dramalhão lacrimoso e piegas. Porém, para sorte de todo mundo, "O garoto da bicicleta" não é americano e sim um belo filme belga dirigido pelos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, que tem em mãos uma Palma de Ouro do Festival de Cannes graças a seu "A criança", de 2005.
No Festival de Cannes deste ano "O garoto da bicicleta" também não saiu de mãos vazias, tendo levado o Grande Prêmio do Júri, o que apenas reitera a qualidade do cinema dos dois irmãos que, de maneira sensível e discreta, contam histórias humanas e que revestem de delicadeza temas complicados e espinhosos como gravidez na adolescência e a delinquência juvenil. Suas personagens são complexas, com atitudes nem sempre louváveis mas frequentemente perdoáveis, o que as aproxima da plateia de maneira sutil mas definitiva. Não é a intenção de sua filmografia dar soluções e justificativas e sim emocionar e tocar o público naquilo que ele tem de mais honesto: os sentimentos.
É nítido, em "O garoto da bicicleta", que o olhar dos cineastas/roteiristas é apenas isso, um olhar. Sem julgamento de espécie alguma, eles apenas mostram ao espectador um momento crucial na vida do menino Cyrill Catoul (o ótimo Thomas Doret), que, rejeitado abertamente pelo pai e órfão de mãe, tem problemas para lidar com a violência que tem dentro de si. Carente e infeliz, ele tem a chance de encontrar amor e um lar confortável quando Samantha (Cécile De France), dona de um salão de beleza, tem a ideia de ficar com ele nos finais de semana, proporcionando-lhe tranquilidade e paz. No entanto, Cyrill não sabe lidar com carinho desinteressado e se envolve com um jovem traficante de drogas, o que pode lhe afastar de vez de uma vida distante das ruas e de um futuro trágico.
É admirável a forma com que Jean-Pierre e Luc Dardenne fogem das inúmeras armadilhas nas quais poderiam cair em seu filme. "O garoto da bicicleta" não tem intenção de passar lições de moral nem tampouco o objetivo de emocionar com golpes baixos. A relação entre Cyrill e Samantha é mostrada com naturalidade e os caminhos que ela segue jamais penetram no perigoso terreno do sentimentalismo barato, ainda que em determinados momentos seja difícil não se comover com a dificuldade do protagonista mirim em se deixar entregar ao amor oferecido. Esse compromisso com a realidade é o maior trunfo da obra, uma pequena pérola de simplicidade e calor humano cujo final refrescante não deixa de ser um alívio e uma esperança.
No Festival de Cannes deste ano "O garoto da bicicleta" também não saiu de mãos vazias, tendo levado o Grande Prêmio do Júri, o que apenas reitera a qualidade do cinema dos dois irmãos que, de maneira sensível e discreta, contam histórias humanas e que revestem de delicadeza temas complicados e espinhosos como gravidez na adolescência e a delinquência juvenil. Suas personagens são complexas, com atitudes nem sempre louváveis mas frequentemente perdoáveis, o que as aproxima da plateia de maneira sutil mas definitiva. Não é a intenção de sua filmografia dar soluções e justificativas e sim emocionar e tocar o público naquilo que ele tem de mais honesto: os sentimentos.
É nítido, em "O garoto da bicicleta", que o olhar dos cineastas/roteiristas é apenas isso, um olhar. Sem julgamento de espécie alguma, eles apenas mostram ao espectador um momento crucial na vida do menino Cyrill Catoul (o ótimo Thomas Doret), que, rejeitado abertamente pelo pai e órfão de mãe, tem problemas para lidar com a violência que tem dentro de si. Carente e infeliz, ele tem a chance de encontrar amor e um lar confortável quando Samantha (Cécile De France), dona de um salão de beleza, tem a ideia de ficar com ele nos finais de semana, proporcionando-lhe tranquilidade e paz. No entanto, Cyrill não sabe lidar com carinho desinteressado e se envolve com um jovem traficante de drogas, o que pode lhe afastar de vez de uma vida distante das ruas e de um futuro trágico.
É admirável a forma com que Jean-Pierre e Luc Dardenne fogem das inúmeras armadilhas nas quais poderiam cair em seu filme. "O garoto da bicicleta" não tem intenção de passar lições de moral nem tampouco o objetivo de emocionar com golpes baixos. A relação entre Cyrill e Samantha é mostrada com naturalidade e os caminhos que ela segue jamais penetram no perigoso terreno do sentimentalismo barato, ainda que em determinados momentos seja difícil não se comover com a dificuldade do protagonista mirim em se deixar entregar ao amor oferecido. Esse compromisso com a realidade é o maior trunfo da obra, uma pequena pérola de simplicidade e calor humano cujo final refrescante não deixa de ser um alívio e uma esperança.