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A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
Posted by Clenio
on
23:33
in
CINEMA 2012
Só mesmo alguém tão genial e apaixonado quanto Martin Scorsese para conseguir fazer de um pequeno livro infanto-juvenil uma homenagem tão emocionante à sétima arte. Baseado na obra de Brian Selznick, o primeiro filme infantil e em 3D de um dos mais respeitados cineastas nos EUA não é apenas a prova de que o formato pode ser fascinante quando bem realizado, mas é também - e principalmente - um agradecimento em forma de celulóide aos pioneiros dessa arte tão mágica chamada cinema (e em especial ao francês Georges Méliès). Dono de um visual inebriante, "A invenção de Hugo Cabret" só não é ainda mais espetacular porque esbarra em um sério problema: seu roteiro insatisfatório.
O Hugo Cabret do título é um pequeno órfão que vive em uma estação de trens da Paris dos anos 30, consertando relógios, praticando pequenos roubos e fugindo do inspetor do lugar (vivido por um irreconhecível e relativamente discreto Sacha Baron Cohen, o Borat em pessoa). A única lembrança que tem de seu pai (em uma participação rápida de Jude Law) é um autômato que ele estava consertando quando morreu, vítima de um incêndio. Enquanto busca uma chave em formato de coração que fará com que o artefato funcione, o menino conhece a doce Isabelle (Chloe Grace Moretz), também órfã, que é criada pelos carinhosos Georges e Jeanne (Ben Kingsley e Helen McCrory), desde a morte dos pais. Apresentado por Isabelle ao mundo dos livros, ele a apresenta ao cinema e, para surpresa de ambos, eles descobrem que o ranzinza padrinho da garota é, na verdade, Georges Méliès, um dos pais do cinema.
A história de "A invenção de Hugo Cabret" é apenas o meio que Scorsese encontrou para dar uma verdadeira aula de cinema. Ele atinge seus fins com louvor, proporcionando ao público algumas das cenas mais deslumbrantes já vistas nas últimas décadas (cortesia dos efeitos visuais competentes, da direção de arte impecável e da fotografia espetacular), sublinhadas pelo uso inteligente e coerente do 3D. Ao contrário de dezenas de produções que utilizam o formato apenas para fazer mais dinheiro, em "Hugo" tudo surge com naturalidade e parcimônia, valorizando cada mínimo detalhe dos planos elaborados com extremo cuidado pelo cineasta. Se em sua vasta filmografia essa dedicação a cada frame já era notável, nesse trabalho que pode lhe render um segundo e merecido Oscar, Scorsese deita e rola com todos os recursos à sua disposição, embasbacando o espectador com sequências da mais pura poesia. Assim como Giuseppe Tornatore fez com seu aclamado "Cinema Paradiso", Marty aplaude o cinema como arte em si, como fuga, como espetáculo e como mágica. Não há um único fã de cinema (fã de verdade, não apenas frequentadores esporádicos de multiplexes) que não se sinta arrepiado quando desfilam pela tela cenas clássicas do cinema mudo, com Buster Keaton, Louise Brooks, Chaplin e Harold Lloyd dando o ar da graça com seu talento incontestável. Mas, apesar da emoção (e da absoluta convicção de que se está diante de um trabalho excepcional de um maestro no auge de seu poder criativo e do domínio de sua arte), falta algo a "A invenção de Hugo Cabret": uma história mais forte.
Sempre que o cinema assume a protagonização do filme, a obra cresce, se agiganta. Quando a trama que envolve Hugo e suas relações familiares fica em primeiro plano, porém, há uma queda de interesse, talvez porque o roteirista John Logan (o mesmo de "O aviador") não consegue sublimar o fato de que, no fundo, a história é para crianças e, logicamente, o público-alvo não está exatamente preocupado com todas as deliciosas referências estéticas e nominais lançadas por um diretor com o conhecimento enciclopédico de Scorsese, e sim com as piadas visuais a cargo de Sacha Baron Cohen e com as aventuras dramáticas do protagonista (vivido por um encantador Asa Butterfield). As crianças não perceberão a alta qualidade da performance magistral de Ben Kingsley como Méliès nem compreenderão as sutilezas pictórias da bela fotografia de Robert Richardson. Elas talvez prefiram acompanhar as aventuras insuportáveis de meia dúzia de esquilos cantantes. Mas os pais, em especial aqueles que veem no escurinho do cinema um caminho para onde os sonhos se realizam, sairão de boca aberta e brilho nos olhos.
O Hugo Cabret do título é um pequeno órfão que vive em uma estação de trens da Paris dos anos 30, consertando relógios, praticando pequenos roubos e fugindo do inspetor do lugar (vivido por um irreconhecível e relativamente discreto Sacha Baron Cohen, o Borat em pessoa). A única lembrança que tem de seu pai (em uma participação rápida de Jude Law) é um autômato que ele estava consertando quando morreu, vítima de um incêndio. Enquanto busca uma chave em formato de coração que fará com que o artefato funcione, o menino conhece a doce Isabelle (Chloe Grace Moretz), também órfã, que é criada pelos carinhosos Georges e Jeanne (Ben Kingsley e Helen McCrory), desde a morte dos pais. Apresentado por Isabelle ao mundo dos livros, ele a apresenta ao cinema e, para surpresa de ambos, eles descobrem que o ranzinza padrinho da garota é, na verdade, Georges Méliès, um dos pais do cinema.
A história de "A invenção de Hugo Cabret" é apenas o meio que Scorsese encontrou para dar uma verdadeira aula de cinema. Ele atinge seus fins com louvor, proporcionando ao público algumas das cenas mais deslumbrantes já vistas nas últimas décadas (cortesia dos efeitos visuais competentes, da direção de arte impecável e da fotografia espetacular), sublinhadas pelo uso inteligente e coerente do 3D. Ao contrário de dezenas de produções que utilizam o formato apenas para fazer mais dinheiro, em "Hugo" tudo surge com naturalidade e parcimônia, valorizando cada mínimo detalhe dos planos elaborados com extremo cuidado pelo cineasta. Se em sua vasta filmografia essa dedicação a cada frame já era notável, nesse trabalho que pode lhe render um segundo e merecido Oscar, Scorsese deita e rola com todos os recursos à sua disposição, embasbacando o espectador com sequências da mais pura poesia. Assim como Giuseppe Tornatore fez com seu aclamado "Cinema Paradiso", Marty aplaude o cinema como arte em si, como fuga, como espetáculo e como mágica. Não há um único fã de cinema (fã de verdade, não apenas frequentadores esporádicos de multiplexes) que não se sinta arrepiado quando desfilam pela tela cenas clássicas do cinema mudo, com Buster Keaton, Louise Brooks, Chaplin e Harold Lloyd dando o ar da graça com seu talento incontestável. Mas, apesar da emoção (e da absoluta convicção de que se está diante de um trabalho excepcional de um maestro no auge de seu poder criativo e do domínio de sua arte), falta algo a "A invenção de Hugo Cabret": uma história mais forte.
Sempre que o cinema assume a protagonização do filme, a obra cresce, se agiganta. Quando a trama que envolve Hugo e suas relações familiares fica em primeiro plano, porém, há uma queda de interesse, talvez porque o roteirista John Logan (o mesmo de "O aviador") não consegue sublimar o fato de que, no fundo, a história é para crianças e, logicamente, o público-alvo não está exatamente preocupado com todas as deliciosas referências estéticas e nominais lançadas por um diretor com o conhecimento enciclopédico de Scorsese, e sim com as piadas visuais a cargo de Sacha Baron Cohen e com as aventuras dramáticas do protagonista (vivido por um encantador Asa Butterfield). As crianças não perceberão a alta qualidade da performance magistral de Ben Kingsley como Méliès nem compreenderão as sutilezas pictórias da bela fotografia de Robert Richardson. Elas talvez prefiram acompanhar as aventuras insuportáveis de meia dúzia de esquilos cantantes. Mas os pais, em especial aqueles que veem no escurinho do cinema um caminho para onde os sonhos se realizam, sairão de boca aberta e brilho nos olhos.