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O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS
Posted by Clenio
on
23:40
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CINEMA 2012
Para se assistir a "O espião que sabia demais" duas coisas são imprescindíveis: paciência e atenção. Paciência porque o filme, baseado em um romance de John LeCarré - que já rendeu uma minissérie de TV - tem um ritmo próprio, mais lento do que as habituais produções hollywoodianas centradas em espionagem que mal dão tempo ao espectador para respirar (como a excepcional trilogia Bourne, estrelada por Matt Damon). E atenção porque, apesar de nunca atropelar as informações, o roteiro de Peter Straughan e Bridget O'Connor(que morreu antes do lançamento do filme e a quem ele é dedicado) é tão recheado de pequenos detalhes e silêncios reveladores que, se o espectador der uma piscadela corre o risco de perder o fio da meada e se confundir irremediavelmente.
Em uma época em que tudo chega ao público da maneira mais mastigadinha possível, um filme como "O espião que sabia demais" é um estranho no ninho. Dirigida com uma elegância e uma quase frieza que trai as origens nórdicas de seu diretor Tomas Alfredson (cujo cartão de visitas é a ótima versão original do terror "Deixe ela entrar"), a trama - complexa e um tanto anacrônica nos dias de hoje, em que a Guerra Fria é apenas um fantasma longínquo - quase que serve mais como um show de atores do que exatamente um thriller convencional de espionagem. Na pele do protagonista George Smiley, finalmente Gary Oldman tem o reconhecimento que merece há décadas, em uma atuação construída em cima de sutilezas e movimentos delicados. Mesmo cercado de atores de talento comprovado - Colin Firth, Toby Jones, Ciarán Hinds, Kathy Burke, Tom Hardy - o inglês que deu intensidade ímpar ao protagonista de "Drácula de Bram Stoker" cria uma personagem de personalidade ambígua, mantendo o interesse do público desde as primeiras cenas até o final coerente e inteligente.
Ah, sim, a história... Passado nos anos 70, "O espião que sabia demais" começa quando Control (o ótimo John Hurt), chefe do Serviço de Inteligência Britânico é obrigado a se demitir depois de uma missão tragicamente equivocada na Hungria. Junto com ele, sai do serviço seu braço-direito, George Smiley (Oldman, econômico em gestos e palavras), que, algum tempo depois, é procurado pelo governo para investigar a acusação do jovem agente Ricki Tarr (Tom Hardy em papel herdado de Michael Fassbender), que, ecoando uma suspeita de seu antigo chefe, afirma que existe um agente duplo entre os agentes do grupo. Smiley, de fora da agência, tenta descobrir a partir daí, quem é o real culpado (e se ele realmente existe).
O filme de Alfredson é construído a partir de detalhes, de pequenas coisas, de mentiras e meias-verdades que só serão esclarecidas em seus minutos finais. O ritmo lento talvez afugente o público acostumado a ação desenfreada, mas, fotografado com discrição e apresentando uma reconstituição de época impecável, é um filme sério, feito para adultos que prezam o cérebro e os olhos.