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ALBERT NOBBS
Posted by Clenio
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17:49
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CINEMA 2012
Close está soberba como uma mulher que, para sobreviver no competitivo mundo profissional da Irlanda do século XIX, assume uma personalidade masculina e trabalha como copeiro em um hotel de alta classe. Compenetrado em seu trabalho e fechado em seu mundo pessoal, Nobbs guarda cada centavo que ganha para realizar seu maior sonho: abrir uma tabacaria e trabalhar por conta própria. Sua vida quase apática sofre um abalo quando ele (ou ela) conhece Hubert Page, que trabalha como pintor para sustentar a esposa. Acidentalmente desmascarada por Page, Nobbs (cujo nome feminino nunca é mencionado) acaba descobrindo que seu eventual colega de quarto também é uma mulher que vive como homem. Ao ver na relação de Page com sua mulher a vida que sempre ambicionou, o silencioso copeiro passa a cortejar uma jovem garçonete, Helen (Mia Wasikowska), cujo afeto está inteiramente endereçado ao sedutor Joe Mackins (Aaron Johnson, o John Lennon de "O garoto de Liverpool" mostrando aqui seu lado negro). Ao perceber o interesse de Nobbs por sua amante, Joe a convence a explorar o antigo serviçal.
É justamente quando a narrativa assume esse lado cruel que "Albert Nobbs" de certa forma se perde. Enquanto delineava a vida de seu protagonista, mostrando seu espírito sofrido/esperançoso, o filme de Garcia permitia à Glenn Close o domínio das atenções - fato que a entrada em cena de Page (personificado por uma brilhante Janet McTeer, merecidamente indicada ao Oscar de coadjuvante) apenas sublinhava com bela força dramática. Não à toa, as cenas que as duas atrizes estão juntas são as melhores do filme, lhe dando humanidade e calor. Quando Helen e Joe quase assumem a protagonização do filme, transformado a personagem-título em quase coadjuvante de luxo, o filme perde seu foco - e só recupera nas emocionantes cenas finais.
Dirigido sem maior brilho, "Albert Nobbs" é, com certeza, o veículo que a sempre ótima Glenn Close precisava para voltar a brilhar. Seu trabalho delicado é um trunfo (assim como o de McTeer) que se sobressai no resultado final do filme apenas correto de Rodrigo Garcia. Um roteiro mais forte e uma direção mais criativa certamente poderiam fazer dele uma pequena obra-prima sobre a solidão e a arte da adaptação em um mundo tantas vezes cruel. Como está, é apenas um show de duas grandes atrizes - o que, convenhamos, jamais é pouca coisa.