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VOU RIFAR MEU CORAÇÃO
Posted by Clenio
on
19:39
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CINEMA 2012
Em seu filme "Canções", o cineasta Eduardo Coutinho fez com que pessoas comuns abrissem seus corações diante das câmeras para contar suas histórias de amor e, de quebra, entoar suas trilhas sonoras. Agora, em "Vou rifar meu coração", a documentarista e diretora de TV Ana Rieper segue o caminho do mestre Coutinho para tentar entender os motivos que levam as pessoas a se identificarem tanto com um nicho específico do cancioneiro popular brasileiro: as chamadas músicas bregas.
Concentrando-se em uma região específica do nordeste brasileiro, "Vou rifar meu coração" ouve histórias absurdas, engraçadas e comoventes (ou tudo ao mesmo tempo) que tem como denominador comum o amor em todas as suas variantes. Os entrevistados de Rieper não tem medo de se expor, o que dá ao filme um sabor de intimidade indispensável a qualquer exemplar do gênero: não se percebe o menor constrangimento, por exemplo, na história do homem que convive há mais de trinta anos com duas famílias (e se acha vítima da situação) nem tampouco nas histórias de amor entre prostitutas e seus clientes que se tornaram maridos (ecoando a clássica "Eu vou tirar você desse lugar", do ícone brega Odair José). Aliás, é o próprio Odair José que, de certa forma, resume o cerne da questão levantada pela diretora: em seu depoimento, o autor da antológica "Pare de tomar a pílula" - entre outras obras seminais do estilo - afirma, não sem certa razão, de que é o sofrimento por amor que iguala a todos. Do médico ao pedreiro todos choram e sofrem, diz Odair. Tem como discordar?
Além de Odair José, outros artistas essenciais da música brega dão o prazer de sua presença no documentário de Ana Rieper. Estão ali falando sobre sentimentos e paixões descornadas nomes como Wando, Agnaldo Timóteo, Amado Batista e os irreconhecíveis Nelson Ned e Lindomar Castilho, donos dos depoimentos mais emocionantes e contundentes - vale lembrar que Castilho passou sete anos na prisão pelo assassinato passional de sua segunda esposa e Ned teve problemas sérios com drogas. Ao lado de suas declarações comovidas, o público é brindado com momentos de puro humor involuntário (como a entrevistada que diz esconder suas dores por trás do sorriso constante e discute o assunto com amigas nem um pouco envergonhadas) e com momentos de grande emoção e sinceridade.
E essa sinceridade a maior qualidade de "Vou rifar meu coração". Não se percebe no filme de Rieper nenhum tipo de apelação ou exagero. A cineasta deixa seus entrevistados à vontade, dando a eles a segurança necessária para que abram seus corações sofridos e apaixonados. Lágrimas rolam constantemente diante do espectador, a quem não sobra nada mais escolha a não ser também se comover (ou rir, de nervoso ou identificação). Mesmo quem não gosta de música brega (ao menos a música romântica excessivamente dramática que serve de trilha sonora para o filme) é capaz de se deixar conquistar pela honestidade do filme, pela humanidade que percorre cada frame. Um pequeno clássico instantâneo!
Concentrando-se em uma região específica do nordeste brasileiro, "Vou rifar meu coração" ouve histórias absurdas, engraçadas e comoventes (ou tudo ao mesmo tempo) que tem como denominador comum o amor em todas as suas variantes. Os entrevistados de Rieper não tem medo de se expor, o que dá ao filme um sabor de intimidade indispensável a qualquer exemplar do gênero: não se percebe o menor constrangimento, por exemplo, na história do homem que convive há mais de trinta anos com duas famílias (e se acha vítima da situação) nem tampouco nas histórias de amor entre prostitutas e seus clientes que se tornaram maridos (ecoando a clássica "Eu vou tirar você desse lugar", do ícone brega Odair José). Aliás, é o próprio Odair José que, de certa forma, resume o cerne da questão levantada pela diretora: em seu depoimento, o autor da antológica "Pare de tomar a pílula" - entre outras obras seminais do estilo - afirma, não sem certa razão, de que é o sofrimento por amor que iguala a todos. Do médico ao pedreiro todos choram e sofrem, diz Odair. Tem como discordar?
Além de Odair José, outros artistas essenciais da música brega dão o prazer de sua presença no documentário de Ana Rieper. Estão ali falando sobre sentimentos e paixões descornadas nomes como Wando, Agnaldo Timóteo, Amado Batista e os irreconhecíveis Nelson Ned e Lindomar Castilho, donos dos depoimentos mais emocionantes e contundentes - vale lembrar que Castilho passou sete anos na prisão pelo assassinato passional de sua segunda esposa e Ned teve problemas sérios com drogas. Ao lado de suas declarações comovidas, o público é brindado com momentos de puro humor involuntário (como a entrevistada que diz esconder suas dores por trás do sorriso constante e discute o assunto com amigas nem um pouco envergonhadas) e com momentos de grande emoção e sinceridade.
E essa sinceridade a maior qualidade de "Vou rifar meu coração". Não se percebe no filme de Rieper nenhum tipo de apelação ou exagero. A cineasta deixa seus entrevistados à vontade, dando a eles a segurança necessária para que abram seus corações sofridos e apaixonados. Lágrimas rolam constantemente diante do espectador, a quem não sobra nada mais escolha a não ser também se comover (ou rir, de nervoso ou identificação). Mesmo quem não gosta de música brega (ao menos a música romântica excessivamente dramática que serve de trilha sonora para o filme) é capaz de se deixar conquistar pela honestidade do filme, pela humanidade que percorre cada frame. Um pequeno clássico instantâneo!