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RUBY SPARKS, A NAMORADA PERFEITA

Posted by Clenio on 18:27 in
O que se faz depois que seu filme de estreia faz um estrondoso e inesperado sucesso, conquista público e crítica e sai com dois Oscar debaixo do braço mesmo tendo custado míseros 8 milhões de dólares (o que não paga nem o cabeleireiro de Julia Roberts)? Se seu nome for Jonathan Dayton ou Valerie Faris a resposta é uma só: se espera seis anos por um novo projeto, novamente independente e torce para que a mágica se repita. Diretores do cultuado "Pequena Miss Sunshine" - que em 2006 papou as estatuetas de roteiro original e ator coadjuvante (Alan Arkin)  e rendeu mais de 100 milhões de verdinhas mundo afora - Dayton e Faris, casados e pais de três filhos, demoraram mais de meia década para voltar às telas de cinema. Só que, ao contrário de seu filme anterior, "Ruby Sparks, a namorada perfeita", apesar de bastante interessante, carece do que "Miss Sunshine" tinha de sobra: personagens carismáticas e um ritmo agradável.

O protagonista da trama é Calvin Weir-Fields (Paul Dano), um jovem escritor que, depois do estrondoso sucesso de seu primeiro romance, passou a sofrer de um grave bloqueio criativo. Abandonado pela namorada e pressionado pelo irmão (o ótimo Chris Messina) e o terapeuta (Elliot Gould) a encontrar um novo amor - e por consequência uma nova inspiração - ele cria em um texto fictício uma namorada ideal, a quem dá o nome de Ruby Sparks. Para sua surpresa, essa personagem inexistente se materializa (na pele da roteirista Zoe Kasdan) e os dois iniciam um idílico relacionamento.

Nem sempre é cabível julgar um filme comparando-o com seu antecessor, mas "Ruby Sparks" tem a mesma vibe indie de "Miss Sunshine", ainda que seu objetivo dramático e suas intenções temáticas sejam bem diferentes. Enquanto as idiossincrasias da família Hoover serviam como uma espécie de microcosmo de qualquer núcleo familiar e versavam - de forma irônica, engraçada e carinhosa - sobre a obsessão dos americanos (e por que não dos ocidentais como um todo?) pela perfeição e pelo sucesso, a história de Calvin e Ruby serve para ilustrar temas como a falta de autoestima e a busca incessante (e inglória) pelo amor perfeito. O roteiro de Kazan, no entanto - e vale lembrar que ela é neta do cineasta Elia e filha do roteirista Nicholas - é falho em muitos pontos, não explorando a contento todas as suas possibilidades. A mãe de Calvin, por exemplo, e seu novo marido - atuações simpáticas de Annette Benning e Antonio Banderas - não tem praticamente nenhuma função na trama, dando a impressão de estar ali apenas para passar o tempo. E a própria Zoe Kazan não tem carisma e beleza suficientes para justificar que um homem a crie em sua imaginação, o que enfraquece bastante a premissa central.

Não é que "Ruby Sparks, a namorada perfeita" seja ruim, muito pelo contrário. É uma variação inteligente de "Mais estranho que a ficção" - em que Will Ferrel descobre ser personagem de um livro - misturada com "A rosa púrpura do Cairo" - obra-prima de Woody Allen em que Mia Farrow vê a personagem central de seu filme preferido sair da tela para ficar com ela - e como tal não faz feio. Mas lhe falta uma consistência maior e um roteiro mais forte. Ainda assim, tem qualidades em número suficiente para agradar a quem procura um divertimento menos pesado.

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