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O LUGAR ONDE TUDO TERMINA

Posted by Clenio on 19:40 in

O destino é irônico e cruel, como já demonstraram, sem sombras de dúvida, as tragédias gregas. E é impossível não lembrar de suas reviravoltas quando se assiste à "O lugar onde tudo termina", um filme que mistura elementos do cinema policial e dos dramas clássicos para contar três trágicas histórias que, apesar de separadas pelo tempo, estão intimamente entrelaçadas. Seguindo uma linha tradicional de narrativa, o roteiro, co-escrito por Derek Cianfrance - autor também do sofrido "Namorados para sempre" - ousa somente quando tem a coragem de mudar de foco e personagens justamente quando a plateia já está acostumada com eles. Essa coragem é uma das principais qualidades do filme, mas não a única.

Praticamente um filme que vale por três, "O lugar onde tudo termina" também abre mão do visual elaborado de "Namorados para sempre", preferindo uma fotografia seca e uma edição direta, dando prioridade à trama e às personagens, todas elas no limite da tensão. Quem começa tudo é Luke Glanton (Ryan Gosling), um motoqueiro que é conhecido por seu impecável trabalho em apresentações de extremo perigo em feiras e circos. Quando descobre que é pai do filho pequeno de sua ex-namorada, Romina (Eva Mendes), ele decide mudar de vida e abandona seu perigoso modo de vida. Sua vida honesta, porém, dura pouco, pois ele inicia uma série de roubos a bancos para providenciar ao menino uma vida mais confortável. Em um de seus assaltos, seu caminho se cruza com o do policial Avery Cross (Bradley Cooper), pai de família que acaba sendo obrigado a tomar uma séria decisão durante uma de suas missões. Dezoito anos mais tarde, os filhos de Luke e Avery se tornam colegas de classe e, oriundos de núcleos familiares distintos, descobrem que existe uma ligação entre eles em seu passado.

Quanto menos se sabe a respeito de "O lugar onde tudo termina" melhor. Basta saber que, diferentemente do trailer, o filme não trata apenas da perseguição de Avery a Luke, mas também sobre as consequências das decisões de ambos em relação a situações extremas. Nem sempre o equilíbrio das tramas é perfeito, e é é claramente perceptível que o primeiro terço do filme (estrelado pelo sempre ótimo Ryan Gosling) é superior aos demais, seja pela tensão constante, pelas cenas de ação empolgantes ou pelo desfecho surpreendente. Mas mesmo assim o roteiro consegue prender a atenção do espectador, sempre proporcionando a ele uma tensão palpável e a sensação de perigo constante - um tanto diluídas pela fragilidade dos adolescentes que interpretam os filhos dos protagonistas no ato final.

Com ambições diferentes daquelas de seu filme anterior, Derek Cianfrance construiu uma obra potente e que tem uma história forte para contar. Resta esperar agora sua nova parceria com Ryan Gosling. A dupla sabe o que faz.

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SEGREDOS DE SANGUE

Posted by Clenio on 22:39 in
Era questão de tempo que, depois do impacto de seus filmes no Ocidente, o cineasta coreano Chan-wook Park fizesse sua estreia em Hollywood. Dono de um estilo apurado, o autor de obras impressionantes como "Oldboy" (2003) e "Lady Vingança" (2005) chegou ao cinema americano cercado de altas expectativas. A boa notícia é que em "Segredos de sangue" ele manteve sua criatividade visual intocada. A má é que essa criatividade não consegue esconder a fragilidade do roteiro, que peca principalmente em não permitir ao espectador o mínimo de empatia com sua protagonista, uma jovem de 18 anos que sofre com a morte do pai e acaba sentindo-se estranhamente atraída por um tio cuja existência ela desconhecia - e que pode não ser exatamente um exemplo de ser humano.

Vivida com apatia e a habitual falta de entusiasmo por Mia Wasikowska - uma das jovens atrizes mais superestimadas da atualidade - a jovem India tem sérios problemas sociais: não se dá bem com os colegas de escola, tem uma maneira própria de ver o mundo e não tem uma relação muito carinhosa com a mãe, Evelyn  (Nicole Kidman). Quando seu pai (Dermot Mulroney) morre, em um trágico acidente de carro, ela estranha o retorno de seu tio Charlie (Matthew Goode), que ela não conhecia e que parece ter um relacionamento muito estranho com sua mãe. Conforme o tempo vai passando, porém, ela começa a desconfiar que o rapaz está envolvido na morte de algumas pessoas a seu redor, mas, ao invés de afastar-se dele, a adolescente percebe que está atraída por ele.

Não é preciso ser especialista em psicanálise para perceber que a trama de "Segredos de sangue" se presta a inúmeras leituras e tinha tudo para ser fascinante e envolvente. Porém, o roteiro do ator Wentworth Miller - um dos protagonistas da série "Prision break" - parece ter medo de ir muito longe no que se propõe, preferindo deixar pontas soltas pelo caminho, mesmo que isso deixe suas personagens superficiais e incoerentes. Por mais que Park tente imprimir um visual empolgante em seu filme - e consegue em inúmeros momentos, com uma edição caprichada e uma fotografia bem cuidada - a falta de consistência de seu roteiro acaba contagiando até mesmo seu elenco. Matthew Goode exercita seu lado canastrão sem controle e Nicole Kidman é relegada a um melancólico segundo plano, enquanto Wasikowska usa e abusa de caras e bocas tentando mostrar profundidade em uma personagem irritante e cujo final chega a ser risível.

Não foi dessa vez que Chan-wook Park encontrou o material certo para seu talento. Quem sabe com um roteiro menos metido a intelectualiades ocas ele fosse mais feliz. Do jeito que está, "Segredos de sangue" é um Supercine de luxo que mira na psicologia e acerta somente na estética.

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ANTES DA MEIA-NOITE

Posted by Clenio on 20:25 in
"Ouça-me bem, amor, preste atenção: o mundo é um moinho. Vai triturar seus sonhos, tão mesquinho, vai reduzir as ilusões a pó..." Certamente o cineasta Richard Linklater não conhece Cartola e uma de suas mais famosas composições, mas de certa forma os versos de "O mundo é um moinho" se encaixam com quase perfeição em "Antes da meia-noite", capítulo final de uma trilogia iniciada em 1995 com "Antes do amanhecer" e que prosseguiu em 2004 com "Antes do pôr-do-sol". Substituindo as altas doses de romantismo dos primeiros filmes por um tom mais amargo - e portanto mais realista - Linklater consegue uma proeza cada vez mais rara no cinema americano: contar uma história de amor que não soa artificial ou banal.



Despojado de qualquer artifício do cinema tradicional romântico americano, “Antes da meia-noite” se beneficia de sua simplicidade técnica, concentrando-se, mais uma vez, nos diálogos inteligentes escritos por Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy – que fizeram o mesmo com “Antes do pôr-do-sol” e foram indicados ao Oscar por isso. Calcado basicamente nas longas conversas entre as personagens – e dessa vez até mesmo em uma discussão dolorida e quase cruel – o filme novamente convida o espectador a uma sessão de voyeurismo, em que ele assume o papel de testemunha de uma fase crítica na vida do casal – que se conheceu em uma viagem de trem e só reencontrou-se quase uma década mais tarde, ainda apaixonados. Se nos dois primeiros capítulos o amor era o principal ingrediente da receita, no encerramento da trilogia (ao menos até que um novo projeto surja no horizonte) existe um vasto espaço para o ressentimento e o desânimo.

Pais de duas lindas meninas gêmeas e morando em Paris, Jesse e Celine estão passando seus últimos dias de férias em uma ilha grega, a convite de um veterano escritor e sua família. Depois do retorno do filho mais velho de Jesse à casa da mãe – que mora em Chicago e mantém uma relação hostil com o ex-marido – os problemas começam a aparecer: enquanto Celine está em vias de aceitar um emprego que pode lhe recolocar satisfatoriamente no mercado de trabalho, o rapaz pensa na possibilidade de reaproximar-se do filho, que ele julga precisar de sua atenção. Logicamente, essa diferença de objetivos passa a atormentar ao casal, que aproveita a noite em um quarto de hotel oferecido de presente por amigos para por a relação em pratos limpos e despejar, um no outro, suas inseguranças, frustrações e anseios (sentimentais e sexuais).

Sem medo de estender-se em longos diálogos – inteligentes e interessantes – Linklater mais uma vez não interfere no desenrolar de seu filme. Sua câmera é discreta e quase invisível, deixando que todo o fascínio de sua obra fique a cargo de seu casal de protagonistas, cada vez mais afiado – e com direito até mesmo a uma cena de nudez, mesmo que esteja longe de buscar o erotismo. Mantendo-se fiel à marca registrada da trilogia – a simplicidade visual mascarando a profundidade dramática – “Antes da meia-noite” só irá decepcionar àqueles que esperam que Jesse e Celine tenham parado no tempo, sem os problemas que costumam acometer todos os casais de verdade. É realista, é verdadeiro e é, apesar de tudo, extremamente romântico. Um belo desfecho para a trilogia.

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FELIZ DIA DOS NAMORADOS

Posted by Clenio on 23:30 in

Sabe o que eu mais gosto em você? Talvez seja seu jeito paranoico de achar que todo mundo que me rodeia tem segundas intenções comigo - mesmo que às vezes eu seja obrigado a perder preciosos minutos tentando te convencer do contrário. Pode ser que seja a maneira que você tem de me fazer acreditar em mim, de me levantar o astral e me fazer ver uma luz no fim do túnel quando tudo parece não ter solução. Ou quem sabe seja sua capacidade me fazer chorar de rir. Talvez seja o fato de você me dar carinho e atenção. De perdoar meus mau-humores, minhas manias e minhas incoerências. Ou quem sabe a forma como me vê na sua vida não como algo transitório, e sim como algo eterno e indissolúvel.

Vai ver o que mais gosto em você é seu sorriso - mesmo que esteja com os dentes manchados de vinho. Ou suas mãos enormes nas quais as minhas cabem e se aquecem. Ou seu senso de humor, que me obriga a abrir um baita sorriso só de lembrar de suas frases e expressões. Suas ideias de utilizar o que falo ou faço em charges. Sua boa vontade em ir pra cozinha comigo pra inventar pratos rápidos e baratos. Sua disponibilidade em mudar de vida pra ficar ao meu lado. Seu interesse pelas minhas coisas, pelas minhas bobagens, pela minha cultura inútil. Ou é provável que seja somente por ser como é, alguém que não teve medo em mostrar a mim quem você é de verdade, sem máscaras ou subterfúgios.

Pode ser que a melhor coisa a seu respeito seja dar importância às coisas de que gosto e se importar de verdade com tudo que digo e sinto. Ou que não tenha medo de mergulhar em uma história na qual pouca gente acreditava que fosse dar certo. Ou que não fuja da possibilidade de conhecer minha família, meus amigos, meus discos e livros. Ou, ainda mais simples, que seja simplesmente estar ao seu lado, seja pra assistir a algum filme, conversar, dormir ou procurar coisas. Não sei, só sei que gosto de tudo e isso me deixa menos ansioso e inseguro.

Sinto que a demora em nos encontrarmos foi providencial. Hoje estamos mais prontos, mais dispostos, mais realistas e mais apaixonados do que estaríamos há alguns anos. Hoje eu sei que minha vida como será para sempre começou há cerca de dez meses, quando iniciamos uma fase que durará até que estejamos velhos e chatos (ainda mais chatos) e incomodando Luquinhas e Bruninho. E isso me deixa muito feliz.

Feliz Dia dos Namorados, tt. Zukm.t. Sou chato mas sou teu.


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