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ANTES DA MEIA-NOITE

Posted by Clenio on 20:25 in
"Ouça-me bem, amor, preste atenção: o mundo é um moinho. Vai triturar seus sonhos, tão mesquinho, vai reduzir as ilusões a pó..." Certamente o cineasta Richard Linklater não conhece Cartola e uma de suas mais famosas composições, mas de certa forma os versos de "O mundo é um moinho" se encaixam com quase perfeição em "Antes da meia-noite", capítulo final de uma trilogia iniciada em 1995 com "Antes do amanhecer" e que prosseguiu em 2004 com "Antes do pôr-do-sol". Substituindo as altas doses de romantismo dos primeiros filmes por um tom mais amargo - e portanto mais realista - Linklater consegue uma proeza cada vez mais rara no cinema americano: contar uma história de amor que não soa artificial ou banal.



Despojado de qualquer artifício do cinema tradicional romântico americano, “Antes da meia-noite” se beneficia de sua simplicidade técnica, concentrando-se, mais uma vez, nos diálogos inteligentes escritos por Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy – que fizeram o mesmo com “Antes do pôr-do-sol” e foram indicados ao Oscar por isso. Calcado basicamente nas longas conversas entre as personagens – e dessa vez até mesmo em uma discussão dolorida e quase cruel – o filme novamente convida o espectador a uma sessão de voyeurismo, em que ele assume o papel de testemunha de uma fase crítica na vida do casal – que se conheceu em uma viagem de trem e só reencontrou-se quase uma década mais tarde, ainda apaixonados. Se nos dois primeiros capítulos o amor era o principal ingrediente da receita, no encerramento da trilogia (ao menos até que um novo projeto surja no horizonte) existe um vasto espaço para o ressentimento e o desânimo.

Pais de duas lindas meninas gêmeas e morando em Paris, Jesse e Celine estão passando seus últimos dias de férias em uma ilha grega, a convite de um veterano escritor e sua família. Depois do retorno do filho mais velho de Jesse à casa da mãe – que mora em Chicago e mantém uma relação hostil com o ex-marido – os problemas começam a aparecer: enquanto Celine está em vias de aceitar um emprego que pode lhe recolocar satisfatoriamente no mercado de trabalho, o rapaz pensa na possibilidade de reaproximar-se do filho, que ele julga precisar de sua atenção. Logicamente, essa diferença de objetivos passa a atormentar ao casal, que aproveita a noite em um quarto de hotel oferecido de presente por amigos para por a relação em pratos limpos e despejar, um no outro, suas inseguranças, frustrações e anseios (sentimentais e sexuais).

Sem medo de estender-se em longos diálogos – inteligentes e interessantes – Linklater mais uma vez não interfere no desenrolar de seu filme. Sua câmera é discreta e quase invisível, deixando que todo o fascínio de sua obra fique a cargo de seu casal de protagonistas, cada vez mais afiado – e com direito até mesmo a uma cena de nudez, mesmo que esteja longe de buscar o erotismo. Mantendo-se fiel à marca registrada da trilogia – a simplicidade visual mascarando a profundidade dramática – “Antes da meia-noite” só irá decepcionar àqueles que esperam que Jesse e Celine tenham parado no tempo, sem os problemas que costumam acometer todos os casais de verdade. É realista, é verdadeiro e é, apesar de tudo, extremamente romântico. Um belo desfecho para a trilogia.

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2 Comments


Então que venha "Antes da Madrugada" em 2022.


Preciso assistir de novo pq a sessão de cinema foi horrível. Mas acho que fiquei triste pq esperava um filme mais romance. E o 2o já não foi tanto. Fiquei com uma sensação de que o filme foi tão pessimista quando sai da sala.

Mas são os 2 que eu adoro, com os diálogos que eu adoro.

Zukm.t ppb
bjoooooooooooo tt

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