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MINHA MÃE É UMA PEÇA - O FILME
Posted by Clenio
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03:52
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CINEMA 2013
Há no mínimo duas formas distintas de se assistir à "Minha mãe é uma peça", adaptação do bem-sucedido espetáculo teatral escrito e estrelado pelo ator (seria injusto chamá-lo de comediante) Paulo Gustavo: como um programa despretensioso e divertido, feito com a única intenção de fazer rir sua audiência ou como cinema no sentido mais literal da palavra. Comandado por André Pellenz, que dirigiu Gustavo na série televisiva "220 volts" - origem que é nítida na linguagem pouco cinematográfica de seu filme - "Minha mãe é uma peça" se sai muito bem na primeira abordagem, mas peca na segunda. Em compensação, comparando-se com a enxurrada de comédias mal-escritas, mal-dirigidas e vulgares que vem assolando o cinema nacional, a história da dona-de-casa Hermínia e seus filhos ingratos mostra-se bastante superior em humor, talento e emoção.
Interpretada com gosto e perfeição por Paulo Gustavo, Hermínia é uma mãe igual a milhares de outras espalhadas pelo mundo, a despeito de morar em Niterói com seus dois filhos adolescentes, Marcelina (que sofre de excesso de peso) e Juliano (que é gay e esconde a condição da mãe, mesmo que ela saiba disso e tente disfarçar), depois de ter sido abandonada pelo marido (Herson Capri) e trocada por uma perua mais jovem (Ingrid Guimarães repetindo seu papel clássico). Exagerada, dramática e dedicada, ela escuta sem querer uma conversa dos filhos com o pai e a madrasta em que eles falam mal da forma como ela os cria e, magoada, foge de casa e vai passar uns dias com uma tia (Suely Franco). Nesse meio-tempo, os jovens começam a sentir sua falta e perceber sua importância em suas vidas.
Sim, a trama (simples mas direta) é o que menos importa. Fazendo rir com o absurdo das situações cotidianas e das relações familiares - com uma linguagem direta e sem rodeios - Paulo Gustavo chega rapidamente às risadas e à emoção, atingindo o público com a identificação imediata com as personagens. Sua Hermínia é desbocada, atrevida e exagerada como todas as mães sabem ser quando preciso e é difícil não reconhecer nela características comuns a qualquer progenitora - afinal, não é à toa que dizem que mãe é mãe e só muda de endereço. Engolindo todos à sua volta, o ator tem um carinho nítido por sua personagem, inspirada em sua própria mãe (cuja imagem é vista no final da projeção e desperta tantas gargalhadas quanto o restante da obra) e que conquista justamente por essa coragem em não fugir até mesmo de alguns escorregões sentimentaloides. Se alguns momentos muito engraçados já não fossem o bastante para garantir o sucesso do filme (que já chegou à marca de dois milhões de espectadores e ganhou uma continuação já para o ano que vem), o carisma de Gustavo já valeria a pena.
E chegamos, então, aos pecadilhos do filme. Com algumas falhas gritantes - vícios televisivos, cenas um tanto inúteis e o desperdício de algumas personagens em cenas pouco inventivas do ponto de vista criativo - "Minha mãe é uma peça" sofre do mesmo mal do qual sofreram algumas adaptações teatrais nacionais para a telona, como "A partilha" e "Trair e coçar... é só começar": a dificuldade de transportar para a linguagem cinematográfica as qualidades das versões dos palcos. É perceptível que o lugar ideal para as aventuras das personagens criadas por Paulo Gustavo é o palco, que permite ao ator uma interação maior com a plateia. No entanto, sem a pretensão de assinar uma obra-prima da sétima arte, o diretor André Pellenz oferece à plateia exatamente o que promete: boas risadas e momentos de descontração. É mais do que muito filme com objetivos maiores consegue.
Interpretada com gosto e perfeição por Paulo Gustavo, Hermínia é uma mãe igual a milhares de outras espalhadas pelo mundo, a despeito de morar em Niterói com seus dois filhos adolescentes, Marcelina (que sofre de excesso de peso) e Juliano (que é gay e esconde a condição da mãe, mesmo que ela saiba disso e tente disfarçar), depois de ter sido abandonada pelo marido (Herson Capri) e trocada por uma perua mais jovem (Ingrid Guimarães repetindo seu papel clássico). Exagerada, dramática e dedicada, ela escuta sem querer uma conversa dos filhos com o pai e a madrasta em que eles falam mal da forma como ela os cria e, magoada, foge de casa e vai passar uns dias com uma tia (Suely Franco). Nesse meio-tempo, os jovens começam a sentir sua falta e perceber sua importância em suas vidas.
Sim, a trama (simples mas direta) é o que menos importa. Fazendo rir com o absurdo das situações cotidianas e das relações familiares - com uma linguagem direta e sem rodeios - Paulo Gustavo chega rapidamente às risadas e à emoção, atingindo o público com a identificação imediata com as personagens. Sua Hermínia é desbocada, atrevida e exagerada como todas as mães sabem ser quando preciso e é difícil não reconhecer nela características comuns a qualquer progenitora - afinal, não é à toa que dizem que mãe é mãe e só muda de endereço. Engolindo todos à sua volta, o ator tem um carinho nítido por sua personagem, inspirada em sua própria mãe (cuja imagem é vista no final da projeção e desperta tantas gargalhadas quanto o restante da obra) e que conquista justamente por essa coragem em não fugir até mesmo de alguns escorregões sentimentaloides. Se alguns momentos muito engraçados já não fossem o bastante para garantir o sucesso do filme (que já chegou à marca de dois milhões de espectadores e ganhou uma continuação já para o ano que vem), o carisma de Gustavo já valeria a pena.
E chegamos, então, aos pecadilhos do filme. Com algumas falhas gritantes - vícios televisivos, cenas um tanto inúteis e o desperdício de algumas personagens em cenas pouco inventivas do ponto de vista criativo - "Minha mãe é uma peça" sofre do mesmo mal do qual sofreram algumas adaptações teatrais nacionais para a telona, como "A partilha" e "Trair e coçar... é só começar": a dificuldade de transportar para a linguagem cinematográfica as qualidades das versões dos palcos. É perceptível que o lugar ideal para as aventuras das personagens criadas por Paulo Gustavo é o palco, que permite ao ator uma interação maior com a plateia. No entanto, sem a pretensão de assinar uma obra-prima da sétima arte, o diretor André Pellenz oferece à plateia exatamente o que promete: boas risadas e momentos de descontração. É mais do que muito filme com objetivos maiores consegue.