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OS AMANTES PASSAGEIROS
Posted by Clenio
on
01:41
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CINEMA 2013
Depois de aventurar-se pelo lado negro da alma humana no denso "A pele que habito", Pedro Almodovar parece ter voltado às origens transgressoras e debochadas do início de sua carreira com "Os amantes passageiros". Despretensioso e abertamente escrachado, seu novo filme mostra que aquele senso de humor que era a essência de obras como "Labirinto de paixões" e "Pepi, Luci, Bom" continua intacto debaixo do verniz de cineasta sério e consagrado com dois Oscar. Centrado quase que exclusivamente em um único cenário - um avião com uma pane que ameaça a todos os tripulantes e passageiros - o roteiro de Almodovar usa e abusa de diálogos surreais, personagens ensandecidos (por nascimento ou pelo abuso de álcool e drogas) e atores velhos conhecidos do diretor, como Cecilia Roth, Lola Dueñas e Javier Camara - até mesmo Antonio Banderas e Penélope Cruz participam da brincadeira, em uma participação especial nos primeiros minutos de projeção.
Conforme o próprio trailer já deixava antever, "Os amantes passageiros" não se leva a sério - e nem pede à audiência que o faça. A começar pelo trio de protagonistas - comissários de bordo gays vividos por Javier Camara, Raúl Arévalo e Carlos Areces em atuações pra lá de inspiradas - tudo no filme pede que o público deixe do lado de fora da sala de exibição qualquer preconceito e se entregue sem medidas às loucuras do roteiro. Só mesmo assim - com total consciência da real essência do diretor - é que a experiência se torna ainda mais divertida. O Almodovar de "Os amores passageiros" está muito mais para o diretor trash e criativo de "Maus hábitos" e "O que fiz eu para merecer isto?" do que para o bem mais comportado (mas nem por isso menos genial) criador de "Tudo sobre minha mãe" e "Fale com ela". Estão em cena situações bizarras que combinam muito mais com a primeira fase de sua carreira - em que desafiava com humor e ironia o governo franquista - do que com seu momentos mais reflexivos, que lhe tornaram o cineasta espanhol mais respeitado desde Buñuel. É esse Almodovar original que consegue fazer com que o absurdo se torne crível, como nos melhores momentos de sua filmografia.
Livre da pressão de realizar mais um filme para agradar aos festivais de cinema e à crítica intelectualoide que tornou-o hype, Almodovar fez, com "Os amantes passageiros", o que há muito tempo seu público fiel vem desejando: um trabalho anárquico, sem amarras e sem preocupações que não a de fazer rir. Talvez isso decepcione quem espera algo mais impactante, mas sem dúvida agrada a quem sabe quem realmente o realizador é. O humor de seu novo filme brinca com a sexualidade, com a religião, com drogas, com redes sociais e com a família com o mesmo cáustico senso de humor que vinha sendo deixado de lado há bons anos. É iconoclasta, é cafona, é gay ao extremo - que o diga a sequência musical onde os comissários dublam a canção "I'm so excited" (título do filme para o mercado de língua inglesa). Mas é, também, engraçadíssimo, leve, despretensioso e Almodovar na veia. Não é nem de longe seu melhor trabalho, mas é infinitamente superior a qualquer comédia em cartaz.
Conforme o próprio trailer já deixava antever, "Os amantes passageiros" não se leva a sério - e nem pede à audiência que o faça. A começar pelo trio de protagonistas - comissários de bordo gays vividos por Javier Camara, Raúl Arévalo e Carlos Areces em atuações pra lá de inspiradas - tudo no filme pede que o público deixe do lado de fora da sala de exibição qualquer preconceito e se entregue sem medidas às loucuras do roteiro. Só mesmo assim - com total consciência da real essência do diretor - é que a experiência se torna ainda mais divertida. O Almodovar de "Os amores passageiros" está muito mais para o diretor trash e criativo de "Maus hábitos" e "O que fiz eu para merecer isto?" do que para o bem mais comportado (mas nem por isso menos genial) criador de "Tudo sobre minha mãe" e "Fale com ela". Estão em cena situações bizarras que combinam muito mais com a primeira fase de sua carreira - em que desafiava com humor e ironia o governo franquista - do que com seu momentos mais reflexivos, que lhe tornaram o cineasta espanhol mais respeitado desde Buñuel. É esse Almodovar original que consegue fazer com que o absurdo se torne crível, como nos melhores momentos de sua filmografia.
Livre da pressão de realizar mais um filme para agradar aos festivais de cinema e à crítica intelectualoide que tornou-o hype, Almodovar fez, com "Os amantes passageiros", o que há muito tempo seu público fiel vem desejando: um trabalho anárquico, sem amarras e sem preocupações que não a de fazer rir. Talvez isso decepcione quem espera algo mais impactante, mas sem dúvida agrada a quem sabe quem realmente o realizador é. O humor de seu novo filme brinca com a sexualidade, com a religião, com drogas, com redes sociais e com a família com o mesmo cáustico senso de humor que vinha sendo deixado de lado há bons anos. É iconoclasta, é cafona, é gay ao extremo - que o diga a sequência musical onde os comissários dublam a canção "I'm so excited" (título do filme para o mercado de língua inglesa). Mas é, também, engraçadíssimo, leve, despretensioso e Almodovar na veia. Não é nem de longe seu melhor trabalho, mas é infinitamente superior a qualquer comédia em cartaz.