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DIANA
Posted by Clenio
on
18:41
in
CINEMA 2014
Das duas uma: ou a personalidade pública de Lady Di era muito mais interessante do que seu equivalente no dia-a-dia ou o filme de Oliver Hirschbiegel baseado no livro de Kate Snell conseguiu a proeza de estragar uma personagem fascinante ao esvaziar totalmente sua complexidade ao retratá-la como uma protagonista de romances ao estilo "Julia" e "Sabrina". Durante as desnecessariamente longas duas horas do filme, "Diana", a princesa não faz muito mais do que tentar convencer o médico paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews, o Said da série "Lost") a casar-se com ela, a despeito das suas diferenças culturais, da paixão dele pela medicina e pelo fato de que ela era a mulher mais famosa do mundo e jamais conseguiria levar uma vida normal a qualquer mortal. Essa opção em fazer dela uma mulher comum, ao contrário de aproximá-la da plateia e do público acostumado com sua persona célebre, apenas joga no lixo a oportunidade de criar um filme digno de figurar entre as grandes cinebiografias do cinema - olimpo no qual o mais famoso trabalho de Hirschbiegel, "A queda", tem lugar garantido desde sua estreia.
Por melhor atriz que seja, Naomi Watts não consegue ultrapassar a mímese, presa que está em um roteiro superficial, que não explora a contento suas inúmeras possibilidades. Os trabalhos humanitários de Diana são lembrados, mas parecem jogados sem muito critérios entre uma discussão e outra dos protagonistas, que passam boa parte do filme repetindo praticamente os mesmos diálogos sem chegar a lugar algum. Diana, um dos maiores ícones de elegância do século XX e uma das mais amadas personalidades de sua época, soa como uma mulher carente e incapaz de lidar com suas próprias fraquezas emocionais, a ponto de submeter-se a uma relação onde assume um papel de constante submissão (o que as feministas acham do fato de vê-la limpando o apartamento do namorado como forma de reconquistá-lo?). Psicologicamente é compreensível que ela buscasse a aceitação de alguém - como ela mesma diz em uma cena, "nunca fui aceita em nenhuma família, nem na minha nem depois do casamento." - mas o roteiro mais uma vez falha ao ignorar esse caminho muito mais interessante para concentrar-se em cenas quase preguiçosas de conflito romântico.
Não se pode esperar que um filme conte uma vida inteira - sob pena de uma superficialidade inevitável. Mas o fato é que, mesmo optando pelo recorte de um período específico da existência de sua protagonista, "Diana" carece de uma profundidade mínima. O filme passa por cima de acontecimentos cruciais da história da princesa - como seu relacionamento delicado com a realeza e com a mídia - sem focar-se em nenhum deles, por mais interessantes que possam ser. Lógico, é uma questão de escolha dedicar-se ao romance, mas isso não é impedimento para uma inteligência maior na forma de contar sua história. Da maneira como está, fica difícil até mesmo compreender a natureza da relação entre Diana e Dody Fayed - em um cena ela é avisada de um convite para jantar com ele e no momento seguinte já está comprometida, sem que ao público seja fornecida nenhum outra informação a respeito. Por mais que a história seja conhecida, é uma falha que incomoda.
Ignorado pelas cerimônias de premiação - quando muita gente acreditava que ao menos Watts seria lembrada por seu desempenho - "Diana" passou em brancas nuvens, inclusive em termos de bilheteria. Culpa da falta de ousadia de seu diretor (algo surpreendente, uma vez que o alemão não se deixou intimidar quando retratou Hitler com um lado frágil em seu filme mais famoso), da superficialidade do roteiro e da escolha errada de foco. Preferível rever "A rainha", que é muito mais interessante.
Por melhor atriz que seja, Naomi Watts não consegue ultrapassar a mímese, presa que está em um roteiro superficial, que não explora a contento suas inúmeras possibilidades. Os trabalhos humanitários de Diana são lembrados, mas parecem jogados sem muito critérios entre uma discussão e outra dos protagonistas, que passam boa parte do filme repetindo praticamente os mesmos diálogos sem chegar a lugar algum. Diana, um dos maiores ícones de elegância do século XX e uma das mais amadas personalidades de sua época, soa como uma mulher carente e incapaz de lidar com suas próprias fraquezas emocionais, a ponto de submeter-se a uma relação onde assume um papel de constante submissão (o que as feministas acham do fato de vê-la limpando o apartamento do namorado como forma de reconquistá-lo?). Psicologicamente é compreensível que ela buscasse a aceitação de alguém - como ela mesma diz em uma cena, "nunca fui aceita em nenhuma família, nem na minha nem depois do casamento." - mas o roteiro mais uma vez falha ao ignorar esse caminho muito mais interessante para concentrar-se em cenas quase preguiçosas de conflito romântico.
Não se pode esperar que um filme conte uma vida inteira - sob pena de uma superficialidade inevitável. Mas o fato é que, mesmo optando pelo recorte de um período específico da existência de sua protagonista, "Diana" carece de uma profundidade mínima. O filme passa por cima de acontecimentos cruciais da história da princesa - como seu relacionamento delicado com a realeza e com a mídia - sem focar-se em nenhum deles, por mais interessantes que possam ser. Lógico, é uma questão de escolha dedicar-se ao romance, mas isso não é impedimento para uma inteligência maior na forma de contar sua história. Da maneira como está, fica difícil até mesmo compreender a natureza da relação entre Diana e Dody Fayed - em um cena ela é avisada de um convite para jantar com ele e no momento seguinte já está comprometida, sem que ao público seja fornecida nenhum outra informação a respeito. Por mais que a história seja conhecida, é uma falha que incomoda.
Ignorado pelas cerimônias de premiação - quando muita gente acreditava que ao menos Watts seria lembrada por seu desempenho - "Diana" passou em brancas nuvens, inclusive em termos de bilheteria. Culpa da falta de ousadia de seu diretor (algo surpreendente, uma vez que o alemão não se deixou intimidar quando retratou Hitler com um lado frágil em seu filme mais famoso), da superficialidade do roteiro e da escolha errada de foco. Preferível rever "A rainha", que é muito mais interessante.