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CORAÇÃO LOUCO
Posted by Clenio
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21:55
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CINEMA
Jeff Bridges é um cara do bem! Mesmo após tantas anos de carreira, nunca se soube de um escândalo envolvendo seu nome, e embora nem sempre ele tenha acertado nas suas escolhas profissionais (vide coisas como "Contagem regressiva" e "Nadine"), tem um currículo respeitável e íntegro. Por isso não seria injusto que a Academia resolvesse lhe conceder um Oscar em homenagem ao conjunto de sua obra, como normalmente faz (e quase sempre com as pessoas erradas). Mas seria injusto - pra dizer o mínimo - afirmar que foram razões políticas que fizeram com que Briges tenha levado sua estatueta de melhor ator, este ano. Ao contrário do que aconteceu com Sandra Bullock (que foi premiada mais por seus méritos de chamariz de público do que por seu talento como atriz), o trabalho do caçula do clã Bridges em "Coração louco" é irretocável e, caso perdesse a disputa era bem provável que a credibilidade dos eleitores do Oscar ficasse seriamente comprometida (se é que já não está com a vitória de Bullock).
Despido de qualquer vaidade, Bridges entrega o trabalho de sua carreira no papel de Bad Blake, um cantor country em franca decadência que vê uma luz no fim do túnel de sua vida desregrada e triste quando se apaixona pela jovem repórter Jean Craddock (Maggie Gyllenhaal),a mãe solteira de um adorável menino de quatro anos de idade. Por causa dela ele decide parar de beber, volta a compor e aceita até mesmo voltar a apresentar-se ao lado de um pupilo, o popular Tommy Sweet (um surpreendentemente contido Colin Farrell).
Apesar de trama esbarrar perigosamente no clichê em alguns momentos, seu diretor, Scott Cooper demonstra segurança bastante para evitar que eles dominem sua narrativa tranquila, plácida e carregada de uma melancolia quase palpável. A trilha sonora, repleta de belas canções country (uma delas chegou a levar o Oscar da categoria) ajuda a emoldurar a atuação fascinante de Jeff Bridges, que foge magistralmente da armadilha de provocar pena na plateia. Sua personagem é falível, constantemente decepcionante, mas nunca deixa de parecer humano e encantador, além de possuir uma força própria que o talento de seu intérprete sublinha com perfeição. O que se vê, em "Coração louco" é a fotografia sem retoques da alma de um homem perdido dentro de seu instinto de autodestruição mas que consegue vislumbrar uma nesga de sol dentro de sua escuridão, mesmo que talvez seja tarde demais - dependendo do ponto de vista.
Contando com a ajuda pontual de Maggie Gyllehaal (indicada ao Oscar de coajduvante), Robert Duvall (co-produtor do filme) e Colin Farrell, Bridges apresentou ao público uma prova inconteste de seu imenso talento. Felizmente seu esforço foi percebido e um filme pequeno como "Coração louco" chegou aos cinemas e aos corações de seu público.