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DEUS DA CARNIFICINA
Posted by Clenio
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02:24
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CINEMA 2012
Não que o filme seja ruim, muito pelo contrário. É tanta gente boa reunida que jamais pode ser considerada perda de tempo, mas é inegável que, em contraste com o que fez em "A morte e a donzela" (ótima transição de teatro para cinema que ele dirigiu em 1994 com Sigourney Weaver e Ben Kingsley), Polanski nunca sai da zona de conforto, contentando-se apenas em utilizar sua câmera para passear (pouquíssimas vezes) pelo apartamento onde se passa a trama, deixando que seu elenco tome conta do show. E, justiça seja feita, com o elenco escolhido por ele metade do serviço já estava pronto. Com três vencedores do Oscar (e um indicado) em cena, o público não tem opção a não ser ficar fascinado com estilos diferentes de interpretação, em um duelo amigável de competência.
A história de "Deus da carnificina" não é das mais complicadas, à primeira vista. Dois casais se encontram no apartamento de um deles para discutir uma situação prosaica: o filho de Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz) agrediu fisicamente um colega de escola, justamente o filho de Penelope e Michael Longstreet (Jodie Foster e John C. Reilly) e, adultos e aparentemente civilizados, cabe a eles resolver a situação de maneira pacífica. Logicamente as máscaras de maturidade e sofisticação caem conforme a tarde vai passando e os bons modos passam a dar lugar a conflitos reprimidos tanto de um lado quanto do outro. Aos poucos, a ocasião passa a se tornar uma sessão de terapia em grupo, com os quatro inteligentes e discretos adultos vomitando suas mágoas, raivas e temores.
Como dito anteriormente, em um palco tudo seria melhor. A estrutura do roteiro - com momentos solo para cada um dos geniais atores - se presta a um espetáculo dinâmico e consistente, com alguns diálogos saborosos e personagens que se revelam aos poucos (como em toda bom texto dramatúrgico). Mas a falta de criatividade visual incomoda bastante e não é preciso ser uma Barbara Heliodora para se saber que teatro e cinema são linguagens bem distintas e que prescindem de uma boa adaptação. "Closer", de Mike Nichols, por exemplo, conseguiu se libertar das amarras do palco divinamente, graças à coragem do diretor em fugir do caminho mais fácil. Polanski não ousa, e isso acaba prejudicando seu filme. E se o elenco todo é digno de aplausos, seria injusto não reconhecer que Jodie Foster é quem mais brilha, com uma personagem que difere substancialmente de sua galeria de inesquecíveis criações.
"Deus da carnificina" deve ser visto. É bem escrito e bem interpretado. Mas cabe mesmo é em um palco de teatro.