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DEUS DA CARNIFICINA

Posted by Clenio on 02:24 in
Adaptar uma peça de teatro para o cinema sem que ela pareça apenas uma peça de teatro filmada é um desafio e tanto, mesmo para cineastas tarimbados. Isso fica nítido quando se assiste, por exemplo, ao novo filme do experiente Roman Polanski. Em cima de um palco, "Deus da carnificina" (da francesa Yasmina Reza, que divide os créditos do roteiro com o próprio Polanski) cabe perfeitamente. Na tela de cinema - ao menos como está nessa versão que chega ao Brasil com longos meses de atraso em relação a sua estreia no Festival de Venza, em setembro de 2011 - nunca consegue atingir suas enormes possibilidades. Justamente por confiar nas palavras escritas por Reza e no talento de seus (excelentes) atores, Polanski não ousa. E acaba deixando no espectador que esperava mais um filmaço um sentimento de frustração.

Não que o filme seja ruim, muito pelo contrário. É tanta gente boa reunida que jamais pode ser considerada perda de tempo, mas é inegável que, em contraste com o que fez em "A morte e a donzela" (ótima transição de teatro para cinema que ele dirigiu em 1994 com Sigourney Weaver e Ben Kingsley), Polanski nunca sai da zona de conforto, contentando-se apenas em utilizar sua câmera para passear (pouquíssimas vezes) pelo apartamento onde se passa a trama, deixando que seu elenco tome conta do show. E, justiça seja feita, com o elenco escolhido por ele metade do serviço já estava pronto. Com três vencedores do Oscar (e um indicado) em cena, o público não tem opção a não ser ficar fascinado com estilos diferentes de interpretação, em um duelo amigável de competência.

A história de "Deus da carnificina" não é das mais complicadas, à primeira vista. Dois casais se encontram no apartamento de um deles para discutir uma situação prosaica: o filho de Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz) agrediu fisicamente um colega de escola, justamente o filho de Penelope e Michael Longstreet (Jodie Foster e John C. Reilly) e, adultos e aparentemente civilizados, cabe a eles resolver a situação de maneira pacífica. Logicamente as máscaras de maturidade e sofisticação caem conforme a tarde vai passando e os bons modos passam a dar lugar a conflitos reprimidos tanto de um lado quanto do outro. Aos poucos, a ocasião passa a se tornar uma sessão de terapia em grupo, com os quatro inteligentes e discretos adultos vomitando suas mágoas, raivas e temores.

Como dito anteriormente, em um palco tudo seria melhor. A estrutura do roteiro - com momentos solo para cada um dos geniais atores - se presta a um espetáculo dinâmico e consistente, com alguns diálogos saborosos e personagens que se revelam aos poucos (como em toda bom texto dramatúrgico). Mas a falta de criatividade visual incomoda bastante e não é preciso ser uma Barbara Heliodora para se saber que teatro e cinema são linguagens bem distintas e que prescindem de uma boa adaptação. "Closer", de Mike Nichols, por exemplo, conseguiu se libertar das amarras do palco divinamente, graças à coragem do diretor em fugir do caminho mais fácil. Polanski não ousa, e isso acaba prejudicando seu filme. E se o elenco todo é digno de aplausos, seria injusto não reconhecer que Jodie Foster é quem mais brilha, com uma personagem que difere substancialmente de sua galeria de inesquecíveis criações.

"Deus da carnificina" deve ser visto. É bem escrito e bem interpretado. Mas cabe mesmo é em um palco de teatro.

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Gosto do tema, mesmo que seja mais indicado para o teatro, pretendo conferir.

Abraço

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