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A CAÇA
Posted by Clenio
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21:18
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CINEMA 2013
Fãs de um cinema mais denso, com ambições mais profundas do que simplesmente entreter já conhecem Thomas Vinterberg. Dinamarquês nascido em 1969, ele foi um dos criadores do malfadado Dogma 95 - que, nos anos 90 tentou mudar a forma de se fazer cinema, com uma sucessão de regras que aboliam artifícios externos na narrativa, como trilha sonora. Fez enorme sucesso entre os intelectuais com "Festa de família", mas depois seu trabalho ficou restrito a festivais e mostras internacionais. Com "A caça", seu novo filme - que deu a Mads Mikkelsen o prêmio de melhor ator no festival de Cannes de 2012 - ele demonstra que seu êxito na polêmica obra de 1998 não foi mero golpe de sorte. Forte e angustiante, seu novo trabalho já merece crédito por quebrar o velho paradigma que diz que as crianças são sempre sinceras.
A criança de "A caça" - uma menina de aparência angelical e modos delicados - não apenas mente como sua mentira destroi a vida de um homem inocente, a quem ela prejudica (talvez sem ter a plena consciência das possíveis consequências de seu ato, mas ainda assim de maneira irresponsável) quando o acusa de abuso sexual. Solitário e discreto, o professor Lucas (vivido por Mikkelsen, agora conhecido por sua interpretação como o psiquiatra canibal da série "Hannibal") tem sua vida abalada quando uma aluna, filha de um amigo seu, o denuncia para a diretora da escola. Transtornado pela acusação, Lucas imediatamente se vê privado da confiança dos colegas, sem trabalho e com a suspeita de tal ato sobre sua cabeça. Tratado com violência pelos conterrâneos e humilhado publicamente, a ele resta apenas o carinho do filho único e sua consciência limpa.
A intenção de Vinterberg - também um dos atores do roteiro - não é esmiuçar as investigações a respeito da denúncia infantil, nem tampouco fornecer à plateia um estudo voyeurista da decadência de um homem comum que tem seu mundo chacoalhado por uma mentira contada por alguém aparentemente incapaz de faltar com a verdade. O que "A caça" apresenta é o desenho melancólico de um homem que tem tirado de si a dignidade, a confiança e o respeito. Para isso, conta com uma atuação fantástica de Mads Mikkelsen, que faz de seu Lucas a encarnação perfeita de alguém cuja perplexidade impede de tomar quaisquer atitudes. E é justamente essa quase apatia do protagonista que talvez seja o calcanhar de Aquiles da obra de Vinterberg: o público assiste, atônito, um cidadão ser acusado, achincalhado, humilhado e agredido por algo que não cometeu e permanecer quieto, quase como uma personagem bíblica, disposta a oferecer a outra face. Esse sofrimento - que rivaliza com os calvários das personagens femininas de Lars Von Trier, colega de Vinterberg no Dogma 95 - encontra eco no roteiro coeso e no elenco coadjuvante, que dá suporte ao trabalho impecável de seu protagonista.
"A caça" é uma mostra definitiva do talento de Vinterberg e de sua inteligência em jamais deixar que um tema tão forte e denso como o tratado em seu filme descambe para o sensacionalismo barato. É cinema em estado bruto.
A criança de "A caça" - uma menina de aparência angelical e modos delicados - não apenas mente como sua mentira destroi a vida de um homem inocente, a quem ela prejudica (talvez sem ter a plena consciência das possíveis consequências de seu ato, mas ainda assim de maneira irresponsável) quando o acusa de abuso sexual. Solitário e discreto, o professor Lucas (vivido por Mikkelsen, agora conhecido por sua interpretação como o psiquiatra canibal da série "Hannibal") tem sua vida abalada quando uma aluna, filha de um amigo seu, o denuncia para a diretora da escola. Transtornado pela acusação, Lucas imediatamente se vê privado da confiança dos colegas, sem trabalho e com a suspeita de tal ato sobre sua cabeça. Tratado com violência pelos conterrâneos e humilhado publicamente, a ele resta apenas o carinho do filho único e sua consciência limpa.
A intenção de Vinterberg - também um dos atores do roteiro - não é esmiuçar as investigações a respeito da denúncia infantil, nem tampouco fornecer à plateia um estudo voyeurista da decadência de um homem comum que tem seu mundo chacoalhado por uma mentira contada por alguém aparentemente incapaz de faltar com a verdade. O que "A caça" apresenta é o desenho melancólico de um homem que tem tirado de si a dignidade, a confiança e o respeito. Para isso, conta com uma atuação fantástica de Mads Mikkelsen, que faz de seu Lucas a encarnação perfeita de alguém cuja perplexidade impede de tomar quaisquer atitudes. E é justamente essa quase apatia do protagonista que talvez seja o calcanhar de Aquiles da obra de Vinterberg: o público assiste, atônito, um cidadão ser acusado, achincalhado, humilhado e agredido por algo que não cometeu e permanecer quieto, quase como uma personagem bíblica, disposta a oferecer a outra face. Esse sofrimento - que rivaliza com os calvários das personagens femininas de Lars Von Trier, colega de Vinterberg no Dogma 95 - encontra eco no roteiro coeso e no elenco coadjuvante, que dá suporte ao trabalho impecável de seu protagonista.
"A caça" é uma mostra definitiva do talento de Vinterberg e de sua inteligência em jamais deixar que um tema tão forte e denso como o tratado em seu filme descambe para o sensacionalismo barato. É cinema em estado bruto.