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A FAMÍLIA

Posted by Clenio on 17:16 in
Cineastas como o francês Luc Besson sofrem de um mal que acomete a todos aqueles que tem a sorte de chamar a atenção do público e da crítica já em seus primeiros trabalhos: a obrigação de ser sempre grande. Besson, que conquistou a audiência mundial nos anos 80, com filmes como o belo "Imensidão azul" (88) e "Nikita, programada para matar" (90), adentrou os 90 com os badalados "O profissional" (94) - que tem o mérito de ter lançado Natalie Portman - e o cultuado "O quinto elemento" (97), mas entrou em uma curva descendente na carreira desde que impôs sua então namorada Milla Jovovich como estrela do polêmico "Joana D'Arc" (99). A partir daí nunca mais fez um trabalho digno de seus primeiros, chegando inclusive a comandar produções infanto-juvenis. Por isso, é difícil entender tanta fúria contra "A família", seu mais recente filme. Taxada de dispensável, decepcionante e outros adjetivos tão beligerantes quanto, a comédia policial de Besson pode não ser inovadora como seus trabalhos mais conhecidos, mas cumpre o que promete. E qual o pecado em ser despretensioso?

Tudo bem que a reunião em um filme dos astros Michelle Pfeiffer e Robert DeNiro - este último voltando a viver um mafioso, como em seus bons tempos - com um diretor que já mostrou em outras ocasiões que sabe perfeitamente equilibrar cenas de violência com momentos dramáticos (ou cômicos) tinha tudo para ser um filmão, mas daí a apedrejar tão impiedosamente uma obra que tem por objetivo apenas divertir por duas horas chega a ser inexplicável. Mesmo que não se aprofunde no desenho de seus personagens e fique na superficialidade a maior parte do tempo, o roteiro de "A família" faz bom uso das diferenças culturais entre EUA e França - coisa que nem todo filme consegue fazer sem soar repetitivo - e faz rir quando destrói sistematicamente a imagem da tradicional família suburbana ianque - como também o fez, com maior sorte em termos de apreciação, o hoje mainstream John Waters em seu "Mamãe é de morte".

No filme de Waters, Kathleen Turner é uma dona-de-casa aparentemente normal que não hesita em eliminar qualquer pessoa que ameace o bem-estar de sua família de comercial de margarina. Porém, enquanto Waters deixava claro sua intenção de zoar o american way of life, Besson prefere fazer uma espécie de sátira aos filmes de Máfia - e talvez aí esteja o calcanhar de Aquiles de sua obra. Enquanto mostra a adaptação da família - com hábitos alimentares pouco saudáveis, por exemplo - a um estilo novo de vida na Normandia, o roteiro diverte e faz rir, em especial nos momentos em que todos os membros (sem exceção) deixam aflorar seus reais métodos de solução de problemas, inspirados nas violentas regras da Cosa Nostra. No entanto, quando tenta ser violento de verdade, Besson não consegue fazer a transição com a mesma desenvoltura: não se sabe, quando o clímax chega, se trata-se de um filme policial para ser levado a sério ou uma comédia que perdeu o senso de humor. Essa indecisão, em uma hora tão crucial, enfraquece o conjunto da obra.

Mas esses pecadilhos de Besson são facilmente perdoáveis quando se percebe o quanto Michelle Pfeiffer e especialmente Robert DeNiro estão à vontade em seus papéis. DeNiro, inclusive, é o protagonista da melhor sequência do longa, quando é convidado a palestrar sobre "Os bons companheiros", de seu velho colega Martin Scorsese: uma brincadeira simpática e carinhosa do roteiro, que deixa até mesmo o normalmente apático Tommy Lee Jones dentro do clima. "A família" é, na verdade, isso mesmo: uma brincadeira agradável e despretensiosa, que deve ser vista e apreciada como tal.

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