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GRAVIDADE

Posted by Clenio on 19:30 in



Vez ou outra acontece de um filme despertar uma espécie de alucinação coletiva entre crítica e público. Quando isso acontece, filmes comuns - quando não medíocres - são elevados inexplicavelmente à condição de obra-prima sem que tenha armas para isso. Em 2013 esse fenômeno voltou a acontecer com "Gravidade". Primeira ficção científica do cineasta mexicano Alfonso Cuarón, rendeu mais de 100 milhões de dólares somente no mercado americano e vem sendo louvado com um dos melhores filmes do ano, com possibilidades bem reais de estar entre os indicados ao Oscar - haja visto o prêmio da Associação de Críticos de Los Angeles e as generosas indicações ao Golden Globe. O problema é que, a despeito de seus efeitos especiais de última geração e da fotografia extraordinária de Emmanuel Lubezki, "Gravidade" é extremamente chato - cortesia da história rasa e da sempre enfadonha Sandra Bullock.

Bullock -  prejudicada pelo uso de botox e por sua habitual auto-confiança e inexplicavelmente incensada por sua atuação - vive Ryan Stone, uma especialista da NASA que se vê à deriva no espaço, depois que sua nave é destruída pelos resquícios de um satélite russo e ela perde o contato com seus dois colegas, entre eles George Clooney. O filme narra, então, suas tentativas desesperadas de voltar à órbita da Terra, boa parte delas atrapalhada por sua falta de experiência.

O problema de "Gravidade" nem é a sua dependência de se gostar ou não de Sandra Bullock como atriz, ainda que, estando ela em cena 100% do tempo e quase sempre sozinha, seja mandatório que se tenha ao mínimo simpatia por ela. O que atrapalha ao filme de Cuarón é seu roteiro superficial, que não é capaz de aprofundar nem ao menos sua protagonista. De Ryan, por exemplo, sabe-se apenas que perdeu uma filha de quatro anos e não é exatamente uma pessoa feliz. E essa falha torna-se imensa quando se procura algo mais no filme do que belos efeitos visuais, ainda que muita gente tenha tentado encontrar em sua trama frágil metáforas para praticamente qualquer coisa - desde a insignificância do homem diante do universo até implicações políticas que somente uma mente muito criativa consegue explicar.

A questão que fica, portanto, é uma só: vale a pena assistir? Depende. Se você é fã de ficção científica, Sandra Bullock ou efeitos especiais caprichados a resposta é sim: dentro do gênero, o filme de Cuarón é coerente e realista, Bullock oferece tudo aquilo que se espera dela e o visual é deslumbrante. Caso contrário, a única coisa que "Gravidade" irá lhe causar é sono e a sensação de tempo perdido.

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2 Comments


Ainda não vi o filme para analisar, mas entendo este fenômeno que você cita.

Ele é mais comum em filmes medianos que se tornou cults pelo boca a boca. Um exemplo é "A Bruxa de Blair".

Abraço


Depois de vasculhar seu blog, essa foi a primeira postagem que discordo, mas de qualquer forma parabéns pelo blog, muito bem formulado, gostei bastante. Agora "Gravidade", na minha modesta opinião, é de fato um ótimo filme, não apenas pelos efeitos visuais, que é um dos destaques da produção. Me parece que o filme diz tanto usando o recurso do vazio, daí a falta de aprofundamento da personagem, que nos poucos detalhes revelados se mostra , pra mim, um personagem completo. A ideia especulativa sempre me agrada nos filmes, quando tudo já vem formulado a inferência do telespectador é tão menor, já nos filmes menos explicados o telespectador acaba direcionando os acontecimentos a seu ponto de vista. Outro aspecto positivo a cerca do filme é a sensação claustrofóbica causada, o que se mostra um paradoxo já que a personagem tem o universo a sua volta, e ainda assim traz uma sensação de desconforto. O filme é um dos meus favoritos, talvez eu esteja sendo influenciado pelo fato de gostar da atriz Sandra Bullock, não sei... De qualquer modo indico a todos que o assistam.

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