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FILMES DO FINAL DE SEMANA

Posted by Clenio on 01:58 in
Quatro filmes eu assisti nesse final de semana. Dos quatro, três brasileiros. Desses três, dois com Andréa Beltrão. E de todos eles a constatação de que tecnicamente o cinema brazuca está se saindo bem, mas ainda precisa de roteiros mais bem trabalhados para equilibrar todos os fatores que fazem um bom filme.

Comecei com "Tempos de paz", adaptação de Daniel Filho da peça de teatro escrita por Bosco Brasil "Novas diretrizes em tempos de paz". O próprio dramaturgo escreveu a transição de sua peça para o cinema e, se não ousou muito - mesmo porque não precisava, uma vez que o texto é primoroso - pelo menos também não estragou o que era bom. Daniel Filho realizou o que é, a meu ver, seu melhor trabalho cinematográfico até agora, deixando de lado muitos vícios televisivos para apresentar um filme enxuto e extremamente bem realizado - a fotografia é belíssima, a reconstituição de época é louvável e a trilha sonora de Egberto Gismonti é muito apropriada. Mas é no duelo de interpretações entre Tony Ramos e Dan Stulzbach que o filme - assim como o era nos palcos - se sustenta. E que sustentação! Mesmo separados por uma geração, Tony e Dan entregam atuações viscerais e impactantes. Logicamente não impressiona tanto quanto no teatro, mas é cinema, sim, e dos bons, finalmente um produto digno de levar a assinatura de alguém tão talentoso quanto Daniel Filho (sintomaticamente, é seu filme menos rentável, talvez por ser o que alcança maior qualidade artística). E Tony Ramos é um dos maiores atores do Brasil, tenho dito!

O festival nacional continuou com "Salve geral", tentativa pífia do Brasil em voltar a concorrer ao Oscar. Ao assistir-se ao filme fica evidente o porquê de não termos ficado entre os finalistas ao prêmio da Academia. Ainda que tenha cenas extremamente bem realizadas (inclusive sequências de ação bastante convincentes), o filme - baseado em uma história real - não se decide entre ser um violento filme policial ou um drama familiar (o diretor Sérgio Rezende volta a lidar com o tema de uma mãe sacrificando-se em prol de um filho, assim como em "Zuzu Angel"). No meio do caminho entre essa dúvida, apresenta um elenco bastante fraco (a vilã Denise Weinberg chega a ser constrangedora), o que sublinha ainda mais o desempenho extraordinário de Andréa Beltrão no papel principal. É Andréa quem carrega o filme nas costas, ignorando a esquizofrenia do roteiro.

Andréa também é a razão de ser de "Verônica", dirigido por seu marido, Maurício Farias. Aqui, ela vive o papel-título, uma professora desencantada com a profissão que se vê obrigada a proteger, de traficantes e policiais corruptos, um aluno que teve os pais violentamente assassinados e que carrega consigo um pen-drive com informações que podem levá-los à cadeia. Com ecos de "Central do Brasil" (mas sem sua carga emocional), o filme é um policial banal, sem maiores lances de genialidade mas com algumas boas ideias visuais e um trabalho magistral de Andréa, cada vez mais se firmando com uma das melhores profissionais de sua geração. É impossível não acreditar em todas as nuances de Verônica quando elas são apresentadas por ela, tamanha sua entrega em cada cena, em cada momento. Fica a vontade de ver Beltrão em um papel consagrador, que a faça assumir de vez seu posto de grande atriz.

E o quarto filme do final de semana foi uma espécie de decepção. "Por uma vida melhor" (Away we go) é dirigido por Sam Mendes, um dos cineastas mais brilhantes de Hollywood, mas que nunca mais conseguiu o mesmo brilho de sua estreia no cinema, com "Beleza americana". Seus filmes seguintes, "Estrada para Perdição", "Soldado anônimo" e o excepcional "Foi apenas um sonho" não tiveram a mesma recepção de "Beleza", ainda que fossem de qualidade muito acima da média. Esse seu filme mais recente nem passou nos cinemas brasileiros e eu estava considerando isso uma injustiça inominável. Até assistir ao filme. "Por uma vida melhor" não é ruim, mas é chatinho que só ele. Tem alguns bons momentos de humor (em especial graças a Allison Janney e Maggie Gyllenhaal) mas não encanta - o cuidado visual com que Mendes brindava seu público não aparece em nenhum momento e sua dupla de protagonistas carece de química (John Krasinski, da série "The office", parece desconfortável em cena e Maya Rudolph tem zero de carisma). Nem é muito longo (97 minutos), mas parece eterno, o que para uma pretensa comédia é uma sentença de morte. Recomendo apenas porque suas qualidades não o fazem cair na vala comum de filmes de nulidade intelectual: seu roteiro tem algumas ideias interessantes e as personagens coadjuvantes são suficientemente engraçadas e/ou comoventes na medida certa. Com um casal carismático nos papéis centrais poderia ter se saído bem melhor em suas pretensões. Sam Mendes brincou de "indie", mas sua alma é definitivamente mais ambiciosa.

Pode não ter sido um sucesso o meu festival de filmes do fim-de-semana, mas achar lançamentos quentinhos em uma locadora em um sábado à noite é trabalho para milagreiros. Mas pelo menos consegui chegar ao fim de todos eles, o que nem sempre vem me acontecendo.

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1 Comments


Oi Clênio, como vai?
obrigado pelas boas vindas! ;) tô adorando este retorno.

Sobre o teu comentário, eu partilarmente não me identifiquei com os trabalhos mais atuais de Polanski, parece que é um ciclo estes grandes nomes mudarem um pouco seu modo de representar com o passar do tempo. De "Lua de Fel" prá cá já vejo uma certa diferença. Quando puder, veja "O inquilino" sim, acho fantástico, haha

Teu post trás críticas bem específicas. Particularmente não me identifico com o cinema BR, embora admiro aqueles que acompanham e escrevem a respeito. Mas reproduzindo teu dizer, só o fato de terminarmos um filme já mostra que ele tem de certo modo seu valor.

abraços

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