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TUDO PODE DAR CERTO

Posted by Clenio on 16:39 in

Woody Allen é, definitivamente, um cineasta que exige um alto grau de comprometimento com seu público (normalmente bastante fiel). Mesmo quando seus filmes não atingem o grau de excelência de suas obras-primas (e recentemente ele nos brindou com pelo menos duas delas, "Match point" e "Vicky Cristina Barcelona"), seus fãs acabam gostando do resultado final por pelo menos uma razão: mesmo quando não é excepcional, Allen é muito acima da média. E mesmo filmes como "Tudo pode dar certo" (estreando no Brasil quase um ano depois da estreia nos EUA, o que é uma vergonha inominável!), que estão longe do brilhantismo conquistam pelo humor inusitado, por alguns diálogos geniais e pela fotogenia habitual de Nova York, para onde o cineasta voltou depois de alguns anos filmando na Europa.

"Tudo pode dar certo" não conta com a atuação do cineasta, mas não é difícil de imaginá-lo na pele de seu protagonista, Boris Yelnnikoff, vivido por Larry David, da extinta série de TV "Curb your enthusiasm". Boris é um cientista especializado em mecânica quântica, quase indicado ao Nobel de Ciência e que vive de ensinar xadrez a crianças que ele considera, textualmente, "zumbis de cabeça-oca". Julgando-se superior à quase toda raça humana, com exceção de alguns poucos amigos, ele tem uma visão negativa ao extremo da vida, das relações, e das pessoas em geral. Sua misantropia sofre um revés quando ele conhece a jovem Melodie Celestine (Evan Rachel-Wood), uma bela fugitiva de casa, que abandonou uma cidadezinha do interior para tentar a sorte em NY. Ela convence o ranzinza, manco e mau-humorado Boris a deixá-la ficar em seu apartamento por um tempo - tempo esse em que ele aproveita para ensinar à jovem e um tanto ignorante beldade sua visão pessimista do mundo a seu redor. Quando percebe que ela realmente está aprendendo, se apaixona por ela e os dois se casam. O casamento, no entanto, parece estar com os dias contados quando a mãe da garota, a socialite religiosa e certinha Marietta (a ótima Patricia Clarkson) surge em seu apartamento. Enquanto redescobre a vida e a sexualidade, Marietta tenta convencer a filha a abandonar o marido e cair nos braços do belo ator inglês Randy Lee James (Henry Cavill).

"Tudo pode dar certo" é mais do mesmo. Woody Allen mais uma vez usa e abusa de todas as características de sua filmografia (personagens neuróticos e verborrágicos, humor afiado e intelectual, jazz na trilha sonora, cenários naturais fotografados com carinho e naturalidade) para proporcionar à sua plateia momentos de uma diversão inteligente e sutil. Boris Yelnnikoff é provavelmente a personagem mais desagradável de toda a sua obra, mas mesmo assim entrega ao público (com quem fala diretamente por boa parte do filme) alguns insights dos mais interessantes escritos pelo diretor/roteirista. E, ao contrário do tom quase fatalista de seus últimos trabalhos, Allen encerra seu filme com um final feliz quase inédito em sua carreira (ainda que uma das primeiras linhas de seu roteiro previna o espectador de que este não é um filme para levantar o astral).

Em todo caso, fãs de Woody Allen, não percam! E aqueles que não gostam do estilo do cineasta... "Alice" já estreou. Peguem seus óculos 3D e divirtam-se! Cada um com seus problemas!

PS - Aproveito para explicitar meu apoio incondicional aos proprietários do Cine Guion, que estão batalhando valorosamente pela manutenção do cinema mesmo com toda a falta de consideração e boa-vontade da prefeitura de Porto Alegre, que não toma nenhma atitude em relação às cenas inacreditáveis que os moradores da Cidade Baixa são obrigados a presenciar todo domingo. Será que vai ser preciso uma tragédia para que alguma coisa seja feita quanto a isso? Enfim, em outro post mais apropriado me estendo mais sobre o assunto. Tenho dito!

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3 Comments


Sinceramente? Vi o trailer e nem tinha me interessado pelo filme. Daí tenho lido em alguns blogs, inclusive uns amigos me falaram dos aspectos do filme e agora quero conferir.

Abração!


Tem como não querer assistir a esse filme depois do que vc escreveu? Acho que não.
Abração


O problema da personagem central, pelo menos para mim, eh que esse ator, o Larry, estah interpretando a ele mesmo, como no seriado da HBO. Mas o carinho que o mestre Allen tem por NYC eh sempre uma boa pedida. Patricia Clarkson eh otima, pena que eh mal aproveitada por Hollywood. Que bom ter encontrado outro admirador do cineasta!

Otimo texto, Clenio. Abraços.

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