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O PODER E A LEI

Posted by Clenio on 22:46 in

Em 1996, o ator Matthew McConaughey tornou-se astro da noite para o dia graças a seu trabalho em "Tempo de matar", até hoje a melhor adaptação para o cinema de um romance do escritor John Grisham. De lá pra cá, tentou ser respeitado como ator sério, foi dirigido por Steven Spielberg, mas acabou caindo nas comédias românticas, ao lado de Kate Hudson e Jennifer Lopez. Agora, quinze anos mais velho, ele tenta novamente ser respeitado, e mais uma vez na pele de um advogado. "O poder e a lei", baseado em um livro do escritor policial Michael Connelly pode até não ser um grande filme que ressuscitará sua carreira, mas é um entretenimento bem decente.

McConaughey (que se mostra bastante envelhecido) vive Mick Haller, um advogado de porta de cadeia que usa seu Lincoln como escritório (como sugere o título original) e vive de defender a escória da sociedade - o que lhe ajuda a sustentar a filha pequena que tem com a ex-mulher, uma promotora de justiça interpretada por Marisa Tomei. Sua grande chance de melhorar a carreira surge quando ele é contratado para defender o jovem playboy Louis Roulet (o sempre fraquinho Ryan Philippe), acusado de agressão contra uma garota de programa. No curso das investigações do caso, logicamente Haller passa a desconfiar que seu cliente não é assim tão inocente, o que o leva a questionar sua ética.

A bem da verdade "O poder e a lei" não acrescenta muita coisa aos filmes de tribunal, um dos gêneros mais queridos e bem-sucedidos de Hollywood. A direção do quase estreante Brad Furman é burocrática, sem maiores lances de brilhantismo e o roteiro também não é exatamente genial, tentando equilibrar a trama policial com os problemas domésticos do protagonista, que McConaughey defende com garra mas sem muito carisma (o que não deixa de ser decepcionante, uma vez que essa é justamente sua maior qualidade). Dividindo suas cenas com um Ryan Philippe canastrão e uma Marisa Tomei eficiente, ele não compromete, mas é eclipsado pelo ótimo William H. Macy, cujas cenas dão uma muito bem-vinda vivacidade ao filme.

"O poder e a lei" é um bom filme para quem gosta do gênero: é correto, interessante e bem realizado. Mas falha em não fugir dos clichês e ter um final totalmente anti-climático. Até agrada, mas está longe de ser grande cinema.

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UM DIA

Posted by Clenio on 14:02 in
Todo mundo que já foi adolescente, que sonhou em ter uma vida repleta de realizações pessoais e profissionais, que já amou de verdade e viu que as coisas nunca são exatamente como se espera vai se identificar com "Um dia", escrito pelo inglês David Nicchols e lançado no Brasil pela editora Intrínseca às vésperas da estreia de sua adaptação para o cinema, que deve acontecer em agosto nos EUA. Escrito de forma leve, ágil e inteligente, o livro de Nicchols é ao mesmo tempo bem-humorado e melancólico, doce e ácido, encantador e triste. Em outras palavras, é praticamente impossível não se apaixonar por ele - e por suas personagens centrais, escritas com uma sensibilidade rara no mercado editorial que busca o sucesso fácil através de vampiros emos e obras sofríveis de autoajuda.

"Um dia" começa em 15 de julho de 1988, quando os então adolescentes Emma Morley e Dexter Mayhew passam a noite juntos. Ela é estudiosa, compenetrada, politicamente correta e tem sonhos de mudar o mundo. Ele é popular, belo, esperto e quase egocêntrico. Aparentemente o oposto um do outro, eles resolvem manter-se amigos e, durante os vinte anos seguintes, o livro acompanhará suas vidas, sempre localizando-os no dia em que se conheceram. Assim, o leitor seguirá a luta de Emma em seu desejo de escrever um livro de relevância social enquanto procura um grande amor. E também testemunhará a trajetória de Dexter em sua escalada como astro da TV e sua decadência física e emocional. A cada ano eles estão não apenas mais velhos, mas mais cientes da efemeridade da juventude e mais dispostos a tentar ser felizes. E essa felicidade pode ou não estar na sua relação tão delicada.

É impressionante como David Nicchols consegue ser tão preciso em seu retrato de uma juventude perdida em seus anseios ao mesmo tempo em que conta uma história de amor comovente e extremamente real. A força de seus protagonistas é quase palpável, e o texto fluente e tragicômico do autor leva o leitor a uma identificação inevitavel com o livro, um dos mais apaixonantes dos últimos anos. Carinhoso, terno, duro em sua realidade e poético em seu romantismo, "Um dia" é, sem dúvida, para se guardar no coração. Oremos para que o filme seja tão bom quanto!

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ORAÇÕES PARA BOBBY

Posted by Clenio on 12:18 in
Em dias tão complicados, onde fascistas da pior espécie como Jair Bolsonaro vociferam suas teorias preconceituosas e doentias em cadeia nacional, filmes como "Orações para Bobby" deveriam ser obrigatórios em escolas e para orientação para pais e professores. Baseado em uma história real ocorrida no final dos anos 70/início dos 80, o filme de Russell Mulcahy - que outrora comandou o cult "Highlander, o guerreiro imortal" - é um documento importante a respeito de tolerância sexual e, a despeito de suas restrições advindas do fato de ter sido realizado para a TV, é um drama inspirador e pungente, que tem na atuação de Sigourney Weaver seu mais importante trunfo.

Contada em um livro escrito em 1996 por Leroy Aarons, a trágica e emocionante história de Bobby Griffith recebeu de Mulcahy um tratamento delicado e felizmente pouco exagerado dramaticamente. Criado em uma pequena cidade dos EUA, o adolescente Bobby (vivido por Ryan Kelley, que transmite toda a insegurança e constrangimento de sua personagem) vive cercado por um ambiente familiar ortodoxo e rígido. Sentindo-se diferente do irmão mais velho e deslocado dos amigos de sua idade, ele se descobre homossexual, mas reprime heroicamente seus sentimentos e desejos, com medo de magoar os pais, em especial sua mãe, Mary (Sigourney Weaver). Religiosa fervorosa, Mary tenta desesperadamente "curar" seu filho com os ensinamentos da Bíblia - que promete o fogo do inferno a pecadores como ele - mas é somente depois de uma tragédia que ela finalmente começa a compreender o filho, tornando-se ativista dos movimentos gays.

É uma pena que "Orações para Bobby" tenha sido feito para a TV, ao invés de ganhar as telas de cinema. Sua história forte e comovente merecia uma atenção maior, em especial devido a seu tema e às discussões que suscita. Em especial na segunda metade do filme, quando Mary passa a questionar os textos bíblicos em conversas com um sacerdote mais aberto às diferenças do que o normal, o roteiro busca levantar questões de importância capital em um mundo onde a diversidade toma seu espaço em proporções gigantescas. A maneira com que a mentalidade da protagonista é transformada - de uma mulher de formação moral e religiosa radical a uma mãe finalmente compreendendo os sentimentos de um filho que buscava apenas seu amor e aprovação - é acertada, com o diretor nunca buscando a emoção fácil. Sigourney Weaver acerta no tom da interpretação e, se emociona em alguns momentos, é porque consegue a cumplicidade de uma plateia envolvida em suas dúvidas e sua dor.

"Orações para Bobby" não é uma obra-prima, mas cumpre com grande eficiência seus dois papeis. Como entretenimento, tem uma qualidade inegável, com um elenco esforçado (o canadense Tcheky Karyo vive o pai de Bobby de maneira direta e também tocante) e um roteiro que consegue driblar suas restrições orçamentárias e de veículo. Mas é como mensagem que ultrapassa o corriqueiro. Se mais pais o assistissem, provavelmente gente como Bolsonaro ou seus obtusos fãs estariam vivendo em uma merecida obscuridade.

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CAMINHO DA LIBERDADE

Posted by Clenio on 11:54 in
Demorou sete anos até que o australiano Peter Weir voltasse para trás das câmeras e presenteasse o público com mais um de seus belos trabalhos. Responsável por alguns dos clássicos dos anos 80, como "A testemunha" e "Sociedade dos poetas mortos", Weir estava sumido desde "Mestre dos mares", de 2003 e sua volta não poderia ter sido mais festejada pelos fãs de cinema. Mesmo que "Caminho da liberdade" tenha fracassado nas telas americanas e sido praticamente ignorado pelas cerimônias de premiação que cumularam de láureas o insuportável "O discurso do rei", o filme é um belo drama de superação que não apela para emoções fáceis e que é narrado de forma discreta e elegante, como é normal na obra do cineasta.

Uma história real, "Caminho da liberdade" começa quando o jovem polonês Janusz (Jim Sturgess, de "Across the universe", surpreendentemente bem) é preso pelos soviéticos durante a divisão russo-germânica em seu país. Acusado de traição e separado da esposa, ele é condenado a um campo de concentração. Em 1941, movido por uma coragem inabalável, ele lidera um grupo de presos em uma fuga insana: a pé, eles atravessam milhares de quilômetros, saindo da Sibéria e chegando até a Índia munidos apenas de um machado e uma faca. Enfrentando nevascas, o clima do deserto de Gobi e as condições inóspitas do Himalaia, o grupo - que inclui o criminoso Valka (um irreconhecível Colin Farrell), um misterioso e calado americano (Ed Harris) e a adolescente Irena (Saoirse Ronan, de "Desejo e reparação") - nunca desiste de seu objetivo, mesmo que em muitos momentos o cansaço, o medo e o desespero tomem conta de seus pensamentos.

É difícil entender porque a Academia, por exemplo, ignorou o filme de Weir, que tem todos os ingredientes para conquistar o Oscar: uma história real de superação e coragem, atuações marcantes, uma técnica impecável e um final inspirador. Indicado apenas ao prêmio de maquiagem (indicação justíssima, diga-se de passagem), "Caminho da liberdade" é mais uma das injustiças (ou crimes) cometidas este ano na festa de fevereiro. Mesmo que não seja extraordinário, é forte e inteligente o bastante para emocionar àqueles que procuram histórias de verdade, com personagens que fogem do tradicional heroísmo comercial. Narrado de forma episódica, "Caminho da liberdade" foge das emoções exageradas e justamente por isso é tão tocante...

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"ANOS DOURADOS" E A NOSTALGIA DA BOA TV

Posted by Clenio on 11:37 in
Uma única cena. Bastou uma única cena da minissérie "Anos dourados" - atualmente sendo reprisada de segunda à sexta, às 23h no Canal Viva - para que ela me reconquistasse. Criada por Gilberto Braga em 1986, a história de amor entre a normalista Lourdinha (Malu Mader) e o aspirante a cadete do exército Marcos (Felipe Camargo) durante a segunda metade da década de 50 é, provavelmente, o mais delicado, sensível e apaixonante texto já escrito para a televisão brasileira. Dirigido com um cuidado raro por Roberto Talma, o programa exibido ainda em 1988 e 1992 - além de ter sido lançado em DVD com vários cortes - é a prova cabal de que não é preciso super exposição do corpo, palavrões e violência para fazer televisão de qualidade. Bom texto, bons atores, uma história interessante e uma direção inspirada: a receita não tem erro.

Não sou saudosista cultural, ao menos não daquele tipo que fica se lamentando sobre como a TV, o cinema e a música de hoje são sofríveis em comparação com tudo que foi feito no passado. Sei que hoje em dia as coisas estão feias, mas ainda dá pra ter esperança (ao menos em termos musicais e cinematográficos alguns heróis ainda sobrevivem...). No entanto, não há como evitar uma nostalgia quando se percebe que, há 25 anos, ainda havia a preocupação em ter-se qualidade e não apenas audiência (e o fato de que uma coisa não necessariamente exclui a outra é assunto para muitas discussões). E, sinceramente, dá para resistir a uma Malu Mader adolescente, em vias de se tornar uma das atrizes mais queridas do país? Não é à toa que passei os meus "anos dourados" sonhando acordado com a Malu.....

"Anos dourados" é fascinante. A trilha sonora espetacular, o figurino caprichado, os cenários bem cuidados, o elenco... Estão lá os saudosos Yara Amaral, José Lewgoy, Cláudio Corrêa e Castro e Milton Moraes. Malu, Felipe Camargo e Isabela Garcia estão sensacionais. A sutil crítica aos preconceitos sociais e sexuais é mixada com uma carpintaria dramatúrgica envolvente e o romance central é de encher os olhos e o coração. Uma única cena e deu para entender porque o Brasil de bom gosto nunca vai esquecer Marcos e Lourdinha...

PS - E aplausos ao Canal Viva, que tem proporcionado aos saudosistas belas viagens no tempo. "Vale tudo", "Chico & Caetano", "Armação ilimitada", "TV Pirata".... Bons tempos....

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A DELICADEZA

Posted by Clenio on 13:29 in
Em uma época tão corrida, em que qualquer minuto é sagrado, é necessário tirar um tempinho para relaxar. E mesmo os vorazes leitores de clássicos densos e de temáticas fortes precisam de um fôlego, de um oásis de leveza em meio a Dostoievsky, Garcia Marquez, Philip Roth e afins. E é justamente para essas pessoas - sedentas de uma obra rápida mas que nunca abdique da inteligência - que existem livros como "A delicadeza" (Ed. Rocco), escrito pelo francês David Foenkinos, autor do também delicioso "Em caso de felicidade".

Em linguagem ágil e bem-humorada - mas repleta de uma poesia e uma verdade raras - o autor conta a trajetória da bela Nathalie, uma jovem que tenta reconstruir a vida depois da trágica morte do marido, lidando com o assédio do patrão casado e de um colega de trabalho sueco sem maiores atrativos por quem se sente estranhamente atraída. Foenkinos não tenta fazer psicologismos baratos nem tampouco sente necessidade de apelar para construções verbais intrincadas. Sua prosa é direta, contada em capítulos bastante curtos que vão direto ao ponto de maneira lírica e engraçada. Em muitos momentos, a narrativa é interrompida para a inserção de informações extras (algumas hilárias, outras dramáticas e outras aparentemente fora de propósito, mas que casam perfeitamente com o estilo). Ler "A delicadeza" é o equivalente literário de assistir-se a "O fabuloso destino de Amélie Poulain", tamanha a capacidade do autor em criar uma atmosfera de sensibilidade mixada com referências culturais e um romantismo nunca exagerado.

Para se ler em poucas horas, "A delicadeza" é um livro capaz de despertar sorrisos. E isso é um baita elogio!

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O NOIVO DA MINHA MELHOR AMIGA

Posted by Clenio on 23:04 in
Comédias românticas tendem, fatalmente, ao mais desbragado clichê. Dificilmente um filme do gênero consegue fugir das armadilhas que mais de um século de cinema propõe, especialmente se for levado em conta que o público que o consome também não é exatamente sedento por novidades. Mais um exemplar derivativo e sem maiores novidades, "O noivo da minha melhor amiga" é um amontoado de situações já vistas centenas de vezes em filmes melhores (e outros francamente piores). Dirigida por Luke Greenfield, mais conhecido pela comédia "Um amor de vizinha", esta adaptação de um livro direcionado para mulheres escrito por Emily Giffin até consegue fazer rir em alguns momentos (principalmente graças a seus coadjuvantes), mas peca por não ousar nem explorar a contento o talento de suas protagonistas. A seu favor, porém, existe a escalação de Ginnifer Goodwin no papel central. Simpática e talentosa, ela finalmente tem a chance de ter seu nome liderando um elenco e se sai bastante bem.

Goodwin vive Rachel, uma advogada de 30 anos que tem uma relação de grande lealdade e companheirismo com sua amiga de infância, a expansiva Darcy (Kate Hudson, divertida e à vontade mesmo em segundo plano). Dois meses antes do casamento de Darcy, porém, Rachel cede à tentação e passa uma noite de amor com o noivo desta, o sedutor Dex (Colin Egglesfield), por quem é apaixonada desde a época da faculdade. Ao descobrir que o rapaz a ama, ela fica dividida entre a amizade e a paixão, desabafando suas dúvidas com o fiel Ethan (John Krasinski, da série "The Office").

Quem tem o hábito de assistir a comédias românticas não verá nada de novo em "O noivo da minha melhor amiga". Até mesmo o título em português força uma semelhança com um dos mais bem-sucedidos produtos do gênero, estrelado por Julia Roberts em 1997. Mesmo que conte com algumas piadas interessantes (normalmente referentes a outros filmes, como "Atração fatal"), mais uma vez o trunfo está em seu elenco secundário. Kate Hudson (que já tem no currículo o péssimo "Noivas em guerra") está novamente luminosa, mesmo na pele de uma irritante e egocêntrica Darcy e John Krasinski usa e abusa de seus trejeitos de bom rapaz bem-humorado (principalmente quando contracena com a ótima Ashley Williams). São suas intervenções que fazem com que o filme respire, já que a história de amor entre Rachel e Dex cansa depois de trinta minutos de projeção (e tudo se estende por desnecessárias duas horas).

Em resumo, "O noivo da minha melhor amiga" é mais do mesmo. Não mudará a história do cinema nem tampouco se tornará o filme preferido de alguém. Mas pode agradar a quem procura uma diversão inofensiva. E não há como não simpatizar com um filme que utiliza a bela "Fake plastic trees", da banda Radiohead na trilha sonora....

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DA ARTE DE FALAR BANALIDADES COM O GRANDE AMOR...

Posted by Clenio on 13:02 in ,
Ao som de "Rolling in the deep", de Adele

- Oi, tudo bem? (Que saudade infernal de você!)
- Tudo bem, levando a vida. E você?
- No alarms and no surprises. Tudo tranquilo. (Só uma vontade tão indescritível de beijar a tua boca que nem me deixa dormir.) Como vai a faculdade?
-Tenho um trabalho pra entregar amanhã e ainda nem comecei. Mas se eu me concentrar faço rapidamente. E seus projetos, como vão?
- Mil e um projetos, nenhum a curtíssimo prazo. Você sabe, sou meio preguiçoso. (Mas mesmo assim eu faria qualquer coisa pra te ter, nem que seja viajar milhares de quilômetros.)
- Ainda trabalhando no mesmo lugar?
- Sim, paga minhas contas. Enquanto não ganho na MegaSena não tenho outro jeito. (E se eu ganhasse na MegaSena a primeira coisa que eu faria era te sequestrar e te manter como meu refém pro resto da vida.)
- Eu quero ganhar mas nunca jogo!
- Mas você deveria tentar... vai que um dia a sorte está do seu lado. (E você pode finalmente vir me visitar, sem desculpa financeira nenhuma e eu vou te provar o quanto te amo assim que você olhar nos meus olhos....)
- A sorte nunca está do meu lado!
- Isso é o que todo mundo diz.... (Você teve a sorte de despertar todo o amor grandioso que eu tenho dentro de mim... se isso não é sorte eu não sei o que pode ser....)
- Por que você nunca me chama pra conversar por aqui?
- Eu nunca sei quando você está on-line... (Sei, sim, mas evito a tristeza de lembrar que você existe longe de mim.)
- Sempre que estou aparece a minha foto à sua esquerda...
- ...
- Ainda está aí?
- (Sim, estou aqui, querendo te dizer que não falo com você porque falar com você essas banalidades me corta o coração, me sufoca, me entristece, me dá vontade de chorar, de gritar, de espancar qualquer pessoa que se mostre feliz perto de mim.)
- Pode falar?
- Sim, estava no telefone. (Mentira, estava querendo falar a verdade: que eu te amo e conversar sobre amenidades com você é a minha versão de tortura maior). Tenho que sair. Estou com frio.
- Boa noite e boa semana.
- Pra você também. (Te desejo toda a felicidade do mundo, hoje e sempre.... e seria perfeito se essa felicidade toda fosse ao meu lado...)

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AS COISAS IMPOSSÍVEIS DO AMOR

Posted by Clenio on 16:23 in
Don Roos é um cineasta interessante. Diretor de filmes como "O oposto do sexo", "Finais felizes" e "De caso com o acaso" - filmes que lidam sobre questões extremamente humanas de maneira carinhosa e/ou contundente - ele é também um exímio roteirista. Infelizmente, em seu "As coisas impossíveis do amor" ele parece ter perdido um pouco a mão. Não que a adaptação do romance de ... seja ruim, mas está bem longe de apresentar o sarcasmo e a pungência de seus melhores trabalhos. A impressão que se tem é que Roos quer mostrar a seu público uma maturidade temática que não combina muito bem com sua visão ácida da vida. Seu novo filme - que saiu direto em DVD no Brasil - só consegue emocionar porque conta com mais uma inspirada atuação de Natalie Portman, que faz o que pode para dar consistência a um roteiro bem mais ou menos.

Linda como sempre, Portman vive Emilia Greenleaf, uma jovem casada com um advogado mais velho (Scott Cohen, apático), que precisa lidar com os problemas relativos a um segundo casamento: a ex-esposa do marido, Carolyn (Lisa Kudrow, sempre eficiente, mesmo em papéis dramáticos) e o filho deste, o pequeno William (Charlie Tahan), não exatamente simpático e acessível a seus carinhos. Além dos desaforos de Carolyn - que compreensivelmente não simpatiza muito com a mulher que lhe roubou o marido - Emilia ainda precisa conviver com o sentimento de ter perdido a filha recém-nascida.

Não existe, em "As coisas impossíveis do amor" (título, aliás, completamente idiota), o humor sardônico de "O oposto do sexo", por exemplo, e a delicadeza de "De caso com o acaso". Roos construiu um filme lento, de emoções contidas e culpas mal assimiladas, mas peca em nunca defender de forma adequada sua protagonista. Emilia é uma pessoa falível, com defeitos e qualidades, mas o roteiro não se esforça em provocar a empatia da audiência com seus problemas. Prejudicada pela falta de entusiasmo de seu parceiro de cena Scott Cohen, Portman tem trabalho dobrado em tentar carregar tudo nas costas, mas o faz com a classe e o talento usuais. Quem gosta de um drama pode gostar do resultado final, mas é Natalie quem justifica uma espiada no filme.

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SEXO SEM COMPROMISSO

Posted by Clenio on 11:41 in
O cartaz é atraente. O título é sugestivo. A atriz central - merecida vencedora mais recente do Oscar - é linda e talentosa. O mocinho é simpático e, quando bem dirigido, chega a convencer que é bom ator. O diretor tem nome (seu currículo inclui o mega-sucesso "Os caça-fantasmas"). Mas "Sexo sem compromisso" é muito ruim. Chato de doer, arrastado, previsível e - pior de tudo - nada sexy, o que era pra ser uma comédia romântica descompromissada acaba se tornando quase uma tortura que nem mesmo o talento e a beleza de Natalie Portman conseguem salvar do tédio.

"Sexo sem compromisso" conta a historinha pra boi dormir - que os fãs do gênero conhecem de cor e que aqui só irrita - de Emma (Portman, sempre linda) e Adam (Ashton Kutcher), um casal de jovens solteiros, livres e desimpedidos que resolvem iniciar uma relação baseada somente em sexo, sem romantismo, sem mãos dadas, sem noites de sono compartilhadas. Porém, o que serve perfeitamente para a vida sem horários de Emma, uma jovem estudante de Medicina, começa a incomodar Adam, um aspirante a roteirista que tem uma relação complicada com o pai, um ator de televisão de relativo sucesso (vivido por um mal-aproveitado Kevin Kline). Quando tenta avançar em sua relação com Emma, Adam esbarra na teimosia da jovem em não se deixar envolver.

É de se perguntar os motivos que levaram Portman a aceitar tomar parte de tão grande equívoco. O roteiro é raso e sem maiores chances de interpretação. Ivan Reitman parece estar no piloto automático - seu filho Jason, de "Amor sem escalas" caminha célere para superar seu prestígio. E, se Ashton Kutcher é divertido e carismático, não é milagreiro. Com uma personagem tão passiva em mãos, não há o que se fazer para consertar o resultado. Além do mais, a trama de "relacionamentos baseados puramente no prazer sexual" já foi melhor retratada recentemente (e com mais sensualidade e talento) em "Amor e outras drogas", onde Anne Hathaway e Jake Gylenhaal se atracavam com mais vontade e convenciam bem mais o público.

"Sexo sem compromisso" não dá pra recomendar. É um passo em falso na carreira de todos os envolvidos. Se Natalie Portman queria descansar da exaustão provocada por "Cisne negro" deveria ter ficado em casa dormindo....

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THAT PARTICULAR TIME

Posted by Clenio on 15:17 in ,
Naquele momento específico eu queria alguém que me entendesse. Alguém que conseguisse me enxergar através de palavras duras e sentimentos tristes. Uma pessoa que reconhecesse em mim a minha essência, o meu valor, a minha verdade. Eu queria uma alma especial que se identificasse com todas aquelas angústias que fervilhavam dentro de mim e que, através dessa identificação, me arrebatasse para fora de um mundo opressivamente comum e frustrante. Naquele momento específico, em que eu havia perdido de vez a esperança de encontrar alguém que partilhasse comigo a ojeriza pelo medíocre e pela preguiça sentimental, eu a encontrei. Uma alma. Um corpo. Uma voz. E naquele momento específico eu passei a desejar mais.

Eu quis mais. Em um outro momento em especial eu desejei um encontro, um beijo, um abraço. Desejei que nossos corpos tivessem a mesma sintonia que nossas mentes, que nossos corações. Desejei que não houvesse a distância física entre nós, que toda e qualquer dificuldade prosaica fosse apenas uma névoa passageira. Ansiei pela coragem mútua, pela paciência, pelo desespero intransigente, pela força de vontade inquebrantável. Naquele momento específico eu me iludi acreditando que nada poderia nos separar. E passei a desejar ainda mais.

Eu queria estar contigo, não importa como nem onde. Eu queria mudar de vida, de nome, de cidade, de país se fosse necessário para ficar ao teu lado. Eu queria simplesmente te tocar, ao menos uma vez, para sentir teu perfume, para ouvir tua voz sussurrando ao meu ouvido. Eu queria sentir tuas mãos, tua boca, tua pele. Eu queria desafiar o mundo para estar contigo. Mandar pros quintos dos infernos tudo que nos impedisse de ser feliz. Eu tinha dentro de mim a coragem de lutar contra o que fosse, por acreditar no seu amor. Queria matar dragões, decapitar Marias Antonietas, executar talibãs, tudo para te ver sorrir e acreditar em um mundo de paz e felicidade. Mas eu também sofria. E naquele momento específico não me bastavam palavras. Naquele momento eu precisei de provas. Naqueles dias eu necessitei de colo (mesmo que virtual). Naquela específica situação eu precisei de você. E hoje eu preciso ainda mais.

Naqueles dias de trovões constantes sobre minha alma eu desejei que você sofresse, que morresse de saudades, que gritasse por meu nome, que sentisse a minha falta mais do que de oxigênio. Eu quis te bater, te chutar, te sacudir, te fazer notar fisicamente todo o meu amor transformado em frustração. Mas nunca, nem mesmo nesses dias melancólicos eu realmente quis o seu mal. Eu sempre quis te ver feliz, mesmo que as aparências dissessem o contrário. Mas hoje eu preciso de outras coisas.

Preciso que você perceba o quanto te amo e o quanto preciso do seu amor. Preciso que você entenda que quero te arrancar de seu calabouço de dor e tristeza. Mas que, nesse momento específico, eu também preciso de uma palavra sua para iluminar a minha vida.

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