ORAÇÕES PARA BOBBY
Contada em um livro escrito em 1996 por Leroy Aarons, a trágica e emocionante história de Bobby Griffith recebeu de Mulcahy um tratamento delicado e felizmente pouco exagerado dramaticamente. Criado em uma pequena cidade dos EUA, o adolescente Bobby (vivido por Ryan Kelley, que transmite toda a insegurança e constrangimento de sua personagem) vive cercado por um ambiente familiar ortodoxo e rígido. Sentindo-se diferente do irmão mais velho e deslocado dos amigos de sua idade, ele se descobre homossexual, mas reprime heroicamente seus sentimentos e desejos, com medo de magoar os pais, em especial sua mãe, Mary (Sigourney Weaver). Religiosa fervorosa, Mary tenta desesperadamente "curar" seu filho com os ensinamentos da Bíblia - que promete o fogo do inferno a pecadores como ele - mas é somente depois de uma tragédia que ela finalmente começa a compreender o filho, tornando-se ativista dos movimentos gays.
É uma pena que "Orações para Bobby" tenha sido feito para a TV, ao invés de ganhar as telas de cinema. Sua história forte e comovente merecia uma atenção maior, em especial devido a seu tema e às discussões que suscita. Em especial na segunda metade do filme, quando Mary passa a questionar os textos bíblicos em conversas com um sacerdote mais aberto às diferenças do que o normal, o roteiro busca levantar questões de importância capital em um mundo onde a diversidade toma seu espaço em proporções gigantescas. A maneira com que a mentalidade da protagonista é transformada - de uma mulher de formação moral e religiosa radical a uma mãe finalmente compreendendo os sentimentos de um filho que buscava apenas seu amor e aprovação - é acertada, com o diretor nunca buscando a emoção fácil. Sigourney Weaver acerta no tom da interpretação e, se emociona em alguns momentos, é porque consegue a cumplicidade de uma plateia envolvida em suas dúvidas e sua dor.
"Orações para Bobby" não é uma obra-prima, mas cumpre com grande eficiência seus dois papeis. Como entretenimento, tem uma qualidade inegável, com um elenco esforçado (o canadense Tcheky Karyo vive o pai de Bobby de maneira direta e também tocante) e um roteiro que consegue driblar suas restrições orçamentárias e de veículo. Mas é como mensagem que ultrapassa o corriqueiro. Se mais pais o assistissem, provavelmente gente como Bolsonaro ou seus obtusos fãs estariam vivendo em uma merecida obscuridade.