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TODA FORMA DE AMOR

Posted by Clenio on 14:55 in
O nome Mike Mills talvez não diga nada mesmo a quem é fã inveterado de cinema. Seu primeiro longa, "Impulsividade" foi lançado em 2005 e fez um relativo sucesso em festivais de cinema, mas nunca atingiu o grande público. Porém, a julgar pelos elogios (e pelas probabilidades de premiação de seu elenco),  o segundo filme de Mills tem tudo para conquistar uma audiência no mínimo razoável. Seu "Toda forma de amor" acaba de ser premiado com o Gotham Awards de melhor filme do ano (empatado com o extremamente comentado "A árvore da vida", do cultuado Terrence Malick). Tudo bem, quase ninguém conhece esse tal prêmio (concedido a produções independentes desde 1991), mas sua escolha ao lado de um filme tão celebrado ao menos dá a ele uma chance maior de ser descoberto como merece.

Escrito por Mills baseado parcialmente na sua relação com o pai, "Toda forma de amor" é um pequeno drama doméstico, narrado de maneira delicada e de ritmo próprio. O protagonista é Oliver Fields (o ótimo e outrora onipresente Ewan McGregor), um designer que precisa lidar com a recente perda do pai, Hal (Christopher Plummer em um dos melhores desempenhos de sua carreira), um homem que, já octogenário e viúvo, revelou a ele ser gay e envolveu-se com um homem mais jovem (o croata Goran Visnjic, que destoa do filme com uma interpretação um tanto exagerada). Enquanto relembra seus últimos anos ao lado do pai - que recomeçou a vida de maneira exemplar - Oliver inicia um romance hesitante com a bela atriz Anna (Mélanie Laurent), mesmo tendo consciência de sua dificuldade em manter relações a longo prazo.

Mills não se priva de utilizar elementos criativos para contar sua história. Além de fugir de uma ordem cronológica tradicional - misturando as lembranças de Oliver com sua trajetória amorosa -, o roteirista/cineasta também brinca com a linguagem publicitária, inserindo informações a respeito das personagens e de suas vidas (e da sociedade americana de modo geral) de forma original e ágil, sem perder o foco da narração. Usando e abusando de elipses e confiando na inteligência do público, ele escapa divinamente do piegas e do lacrimoso mesmo nos mais comoventes momentos e emociona pelos diálogos bem escritos e pela direção segura. Ewan McGregor entrega uma de suas atuações mais interessantes, deixando de lado as bobagens comerciais que lhe tiraram a credibilidade ("Star Wars" foi um passo em falso em sua carreira) em uma interpretação silenciosa, melancólica e terna. Sua química, tanto com Plummer (provável candidato ao Oscar de coadjuvante segundo boa parte da crítica) quanto com Mélanie Laurent (a Shosanna de "Bastardos inglórios") é perfeita, revelando um ator sensível que ainda não foi devidamente valorizado.

"Toda forma de amor" é um belo exemplo de filme que, apesar de ter saído direto em DVD por aqui, merece uma bela conferida. Muito mais interessante que qualquer "Transformers".

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NÃO SEI COMO ELA CONSEGUE

Posted by Clenio on 18:35 in
Desde que tornou-se um nome quente na indústria do entretenimento graças à série "Sex and the city", a atriz Sarah Jessica Parker não tem tido muita sorte em suas incursões cinematográficas, acumulando um fracasso de bilheteria atrás do outro (com exceção das adaptações para a tela grande das aventuras de Carrie Bradshaw e companhia, que, apesar de não serem os filmes favoritos da crítica arrecadaram uma pequena fortuna mundo afora). Infelizmente seu novo filme, "Não sei como ela consegue" é da mesma estirpe de coisas como "Cadê os Morgan?" e "Armações do amor", mas consegue ser ainda pior.

Comédia romântica metida a feminista, o filme dirigido por Douglas McGrath - que dirigiu Gwyneth Paltrow na adaptação de "Emma", de Jane Austen ainda na década de 90 - é uma sucessão de erros. O roteiro é esquizofrênico, nunca se decidindo entre o humor (na forma de depoimentos para a câmera, artifício que não funciona mais como deveria há algum tempo) ou o drama familiar (nas tentativas pífias de criar, para sua protagonista, dilemas éticos sem fundamento algum). A direção de McGrath é frouxa e apática, preferindo sempre a solução mais fácil para cada cena (explorando pouco o talento do canastrão mais simpático do cinema americano, Greg Kinnear e permitindo a Sarah Jessica repetir ad nauseum todas as caras e bocas que lhe deram fama no seriado da HBO). E além de tudo, a coisa fica ainda pior quando a história ameaça mudar de rumo (e tornar-se um romance sem sentido) e não o faz: a impressão que fica é a de que a autora da história (no caso a escritora do livro que deu origem ao filme, Allison Pearson) não teve coragem o bastante para fazer com que sua protagonista perdesse o único elo com a plateia: o amor que nutre pela família.

Sim, o filme é a favor da família, da moral e dos bons costumes, como manda a cartilha do politicamente correto (sono!!!). Parker interpreta Kate Reddy, executiva de um banco que vê a grande chance de sua carreira ameaçar seriamente seus deveres como mãe e esposa. Casada com o arquiteto Richard (Greg Kinnear) e feliz com o casamento e a família (dois filhos pequenos e amáveis), ela precisa dividir seu tempo entre os afazeres domésticos sempre urgentes e viagens a trabalho - onde encontra o charmoso Jack Abelhammer (Pierce Brosnan), que cai de amores por ela. Logicamente ela passa, aos poucos, a perceber qual setor de sua vida é mais importante e ao público só resta torcer para que os longo 89 minutos de projeção terminem logo.

Falho no humor, no drama e na construção das personagens, "Não sei como ela consegue" perde a chance de discutir com leveza um tema bastante pertinente na sociedade atual, onde homens e mulheres são obrigados a dividir as obrigações familiares. Como está, é mais um filme que deve fazer a glória de futuras sessões da tarde. E , se não quiser ser lembrada pro resto da vida como atriz de um papel só, é bom Sarah Jessica Parker mudar urgentemente de agente.

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DANCIN' DAYS

Posted by Clenio on 00:59 in
Houve um tempo em que a Rede Globo não precisava se preocupar com a concorrência. Durante os anos 70 - antes, portanto, do advento da TV a cabo, da Internet e de outras tecnologias tais como DVD, Blu-Ray ou até mesmo controles remotos - a emissora carioca tinha uma audiência cativa e a audiência de suas novelas era algo assustador: não era difícil uma trama das oito (que realmente era transmitida às oito horas da noite) parar o país, como bem podem confirmar os telespectadores que não perdiam um capítulo de "Irmãos Coragem", "Selva de pedra", "Pecado Capital" ou "O astro" (todas elas sintomaticamente regravadas anos depois). No final da década, no entanto, um fenômeno do chamado folhetim eletrônico chegou até mesmo à revista americana "Newsweek": escrita por Gilberto Braga (estreando no horário nobre), "Dancin' days" marcou época, lançou moda, tornou-se antológica e, melhor ainda, ficou na memória afetiva de uma geração inteira. Lançada em DVD no final de outubro, a trama, dirigida por Daniel Filho, está agora ao alcance de todos aqueles que querem relembrar um período marcante da cultura televisiva nacional ou mesmo daqueles que tanto ouviram falar das aventuras e desventuras de Júlia Mattos, a protagonista vivida por uma Sônia Braga no auge da beleza e do talento.

Condensada em doze discos, a versão de "Dancin' days" passou, logicamente, por uma restauração de imagem e som para não assustar às audiências acostumadas com imagens digitais e em HD. Mesmo assim não deixa de ser muito estranho perceber o salto de qualidade técnico da programação nos últimos trinta anos. Ainda que se perceba o capricho da produção em tentar uma estética moderna para a época, hoje em dia tudo soa antigo, obsoleto, até mesmo cafona. O figurino (que inclui as famosas meias de lurex que viraram marca registrada da novela), os cenários e as cenas externas são, comparadas com o luxo dos nossos dias, de uma pobreza franciscana. E o que dizer das gírias ("segurar uma barra", "ficar baratinado", "transar as coisas numa boa")? E dos hábitos que foram exterminados da tela pelo politicamente correto (como fumar abundantemente em qualquer lugar e qualquer situação)? E da falta de preocupação com qualquer outra coisa que não fosse contar uma boa história?

E boa história "Dancin' days" tem, ainda que o próprio autor não a consider a melhor de sua carreira recheada de sucessos ("Escrava Isaura", "Água viva", "Vale tudo" estão entre seus maiores êxitos). Para quem não sabe (e nunca assistiu ao "Vídeo show" ou acessou o Youtube), a novela começa quando a protagonista Júlia Mattos sai da cadeia, onde passou onze anos por homicídio involuntário. Seu maior desejo é reconquistar o amor da filha adolescente, Marisa (Glória Pires aos quinze anos e mostrando que talento não tem idade), mas para isso ela precisa entrar em conflito com sua irmã mais velha, a socialite Yolanda Pratini (Joana Fomm assumindo em cima da hora o papel que seria de Norma Bengell), que criou a menina. Enquanto as irmãs brigam feito cão e gato pela atenção da jovem (que só vai saber da verdade no dia do casamento, em uma cena clássica), Júlia se apaixona pelo diplomata Cacá (Antonio Fagundes), um rapaz que não vê na carreira imposta pela mãe, Celina (Beatriz Segall já exercitando a arrogância de Odete Roitman) seu maior sonho profissional. A luta de Júlia pela felicidade ao lado da filha e de Cacá move a novela, que aproveitou o sucesso do filme "Embalos de sábado à noite" - estrelado por John Travolta - para dar um ar mais moderno à trama.



Para tirar o ranço melodramático da história central da novela - sugerida pela mestra do horário nobre, Janete Clair - o diretor Daniel Filho e o autor criaram um artifício que fez toda a diferença. Depois de ser humilhada e voltar à cadeia, Júlia aceita casar-se com o milionário Ubirajara (Ary Fontoura) e, depois de uma temporada na Europa, volta linda, sexy e cosmopolita justamente quando seu amigo Hélio (Reginaldo Faria) está inaugurando uma discoteca, a Dancin' days do título (cujo nome foi explicitamente copiado da real discoteca de Nelson Motta). E não existe cidadão que não conheça a famosa cena em que, ao lado do dançarino Paulette, Júlia cai na gandaia e solta suas feras ao som de Bee Gees - rodeada de propagandas nada sutis de algumas das marcas mais famosas da época, como Pirelli e jeans Staroup

Assistir "Dancin' days" é fazer uma viagem de volta no tempo, não apenas por seu visual retrô mas também para matar a saudade de um elenco fabuloso de nomes que não estão mais entre nós: Cláudio Corrêa e Castro, Mário Lago, Yara Amaral, Lauro Corona fazem muita falta, assim como Lídia Brondi, na flor de seus dezoito anos. E atire a primeira pedra quem não se deixar seduzir pela química esplêndida entre Sônia Braga (linda, boa atriz e carismática) e Antonio Fagundes (que povoou, com seu Cacá, os sonhos de muitas mulheres, inclusive minha mãe....) Mas, acima de tudo, é um tanto triste perceber que, com tantos avanços técnicos, ainda se pode acreditar que um texto pobre e medíocre como o de "Fina estampa" tenha um mínimo de qualidade... Saudosos dancin' days...

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EU MATEI A MINHA MÃE

Posted by Clenio on 17:58 in
Depois de assistir - e apreciar bastante - o canadense "Amores imaginários" fiquei tentado a conferir o primeiro trabalho de seu diretor-roteirista-produtor-ator, o extremamente jovem Xavier Dolan. Cheguei então à "Eu matei a minha mãe", lançado em 2009 e que foi ovacionado quando de sua exibição no Festival de Cannes. Ao contrário da maioria da crítica, porém, que incensou essa estreia e reclamou de alguns exageros estilísticos de seu segundo longa, é claramente perceptível o amadurecimento de Dolan entre um filme e outro. Enquanto "Eu matei a minha mãe" é um desabafo autobiográfico em altos brados contra a repressão familiar e as angústias da adolescência, "Amores imaginários" deixa de lado o tom agressivo para se concentrar na trágica poesia das paixões não-correspondidas. Talvez sejam dois lados da mesma moeda, mas uma coisa é certa: o guri tem talento e ainda vai longe.

Em "Eu matei a minha mãe" Dolan interpreta (??) Hubert Minel, um adolescente de 16 anos que vive uma relação de amor/ódio com sua mãe (Anne Dorval), que o criou sozinha desde que ele tinha meros sete anos de idade. Sentindo-se incompreendido por ela, o rapaz (que esconde dela até mesmo sua homossexualidade) encontra conforto em conversas com sua professora e se ressente de um relacionamento saudável familiar ao perceber a maneira leve e liberal com que seu namorado, Antonin (François Arnaud), tem com a sua própria mãe. Quando é matriculado - contra a vontade - em um colégio interno, a revolta de Hubert contra seu núcleo familiar (que inclui um pai ausente que serve para dar base às teorias de Freud) fica ainda mais patente e sua agressividade ainda maior.

Já em "Eu matei a minha mãe" nota-se algumas características que já fazem parte do estilo de Xavier, tais como closes frequentes de objetos e partes específicas do corpo, câmera lenta em profusão, uma trilha sonora descolada e boas ideias visuais. A verborragia típica do cinema francês (e no caso influência clara na obra do diretor) também dá o ar da graça e em alguns momentos chega a incomodar, ainda que faça parte do contexto dramático da trama, assim como as constantes referências à subcultura gay (Audrey Hepburn, James Dean) que são ainda mais explícitas do que em "Amores imaginários", ao contrário do que muito se falou. Neste primeiro filme de Dolan, a sexualidade do protagonista é um ponto ainda mais crucial (e apesar de não ser o ponto central do conflito mãe/filho, é parte preponderante da narrativa). E a complexidade das personagens é outro destaque do roteiro, que não se furta a fazer com que seu protagonista alterne momentos de desprezo extremo com uma ternura subjacente que grita por espaço. Dolan se sai bastante bem atuando como ele mesmo, e encontra em Anne Dorval um contraponto excepcional. São os momentos de calor entre eles (discussões aos berros ou carinho comovente) que movem o filme e o fazem realmente acontecer - assim como as confissões de Hubert à sua câmera digital, que dão ao espectador a real dimensão de seus sentimentos.

"Eu matei a minha mãe" já encontra-se a meio caminho para tornar-se um pequeno clássico dentro do universo independente/glbt/cult e tem qualidades suficientes para isso. Xavier Dolan também já demonstrou muito talento e garra. Resta apenas aguardar os próximos capítulos de uma carreira que tem tudo para ser longa e bem-sucedida.

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TRÊS FILMES NACIONAIS

Posted by Clenio on 14:29 in


O cinema nacional passa por uma boa fase, ao menos em termos de diversificação. Temos espaço para comédias dramáticas ("O palhaço" já foi visto por mais de um milhão de espectadores, que beleza!), documentários, filmes policiais, espíritas.... enfim, tem pra todos os gostos. Infelizmente nem tudo são flores e pra cada "Tropa de elite 2" que surge, coisas como "Bruna Surfistinha" vem atrás. Vamos ver, então, três exemplares da recente safra brazuca de cinema.

MALU DE BICICLETA - O romance de Marcelo Rubens Paiva chegou às telas dirigido por Flávio Tambellini, que há alguns anos assinou o competente "Buffo & Spallanzani", baseado no livro de Rubem Fonseca. Dessa vez ele pega mais leve, contando uma história de amor sem maiores ambições que não a de entreter a audiência. De certa forma ele consegue. O filme é leve, tem alguns bons momentos, mas é prejudicado pelo insosso Marcelo Serrado, que vive o protagonista Luiz Mário, um paulista mulherengo(hein???) que se apaixona perdidamene pela bela carioca Malu (Fernanda de Freitas), que o atropela de bicicleta em pleno calçadão. O romance vai pra frente, mas, se a distãncia física não chega a atrapalhar o idilio, o ciúme surge surge com sua flecha preta e tudo começa se deteriorar. A trama de Paiva é interessante (faz até mesmo citações à "Madame Bovary", clássico de Flaubert), mas sua versão cinematográfica nunca chega a encantar, parecendo mais um especial televisivo. Dá pra encarar, mas sem muitas expectativas.



QUALQUER GATO VIRA-LATA - Juca de Oliveira é um mestre dos palcos, que o digam seus inúmeros sucessos de público. Uma de suas peças mais famosas ganhou adaptação para o cinema com o título encurtado ("Qualquer gato vira-lata tem uma vida sexual mais saudável que a nossa" era o quilométrico título original) e uma dupla central bonita, sexy e de apelo popular. No entanto, a receita desanda com a direção frágil de Tomás Portella, o roteiro exagerado na composição propositalmente afetada das personagens e com as atuações muito aquém do esperado do casal de protagonistas, que não tem nenhuma química. Cléo Pires (linda, mas só) interpreta Tati, uma estudante de Direito que leva um fora do namorado (Dudu Azevedo) e, desesperada, pede ajuda a Conrado (Malvino Salvador), um professor de biologia que defende a tese de que as fêmeas devem ser menos agressivas nos rituais de conquista dos machos. Conrado passa a tutorar Tati em seu projeto de reconciliação com o namorado, mas logicamente os dois acabam se apaixonando. O problema do filme é aquele que já foi visto várias vezes antes em outras adaptações teatrais para as telas: o que funciona em um palco nem sempre se dá bem na sétima arte. Para isso, é preciso talento para desenvolver bem um roteiro (coisa que não há aqui) ou ser criativo na direção (outra falha). O resultado final não machuca ninguém, mas dá um sono daqueles...



BELLINI E O DEMÔNIO - O segundo livro da série policial criada pelo músico Tony Bellotto sofreu cortes e alterações antes de estrear timidamente nos cinemas, em meio a crises com seu protagonista Fábio Assunção. Mas, de certa forma, ele apresenta algumas qualidades bastante interessantes, ainda que por vezes perdidas em meio a um roteiro confuso. Dessa vez, o detetive encarnado por Assunção, está passando por uma severa depressão quando reencontra uma ex-namorada que está investigando o violento assassinato de uma adolescente em uma escola de classe média. Inesperadamente, os dois acabam envolvidos em uma trama que mistura magia negra e rituais satânicos. A história é empolgante e, se o diretor Marcelo Galvão tivesse usado com menos exagero algumas de suas ideias visuais, poderia ter se transformado em um filme memorável em um gênero ainda não devidamente explorado por aqui. Mas no cômputo geral tudo fica muito longe de ser recomendável. O trabalho de Fábio Assunção é notável e o clima de suspense da primeira metade funciona muito bem, mas depois de uma hora de filme, as coisas saem dos eixos de maneira irremediável (e culminam com uma participação vergonhosa de Marília Gabriela como atriz). Fica apenas a sensação de que poderia ter sido um grande trabalho...

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AMORES IMAGINÁRIOS

Posted by Clenio on 22:05 in
"Amores imaginários" é o filme que todo fã de cinema independente que curte comprar em brechós, que ouve Yelle, que encontra no cigarro a válvula de escape para seus males e que pretensamente despreza o cinema comercial americano sempre pediu a Deus. Escrita e dirigida pelo jovem (meros 22 anos) Xavier Dolan, essa comédia romântica foi exibida na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2010 e finalmente chega ao circuito comercial brasileiro, cercada de polêmica: para cada crítica azeda a seu respeito pipocam fãs encantados com o estilo modernoso do cineasta - autor também do cultuado "Eu matei minha mãe", grande sucesso no Festival de Cannes de 2009. É justo, portanto, encontrar um ponto de equilíbrio nesta controvérsia toda. "Amores imaginários" nem é espetacular como fazem crer os convertidos nem tão oco quanto querem provar seus detratores. É um filme leve e quase superficial, sim, que privilegia o visual ao conteúdo. Mas é também delicioso como um croissant quentinho.

A ideia de um triângulo amoroso moderno não é novidade no cinema - que o digam François Truffaut ("Jules e Jim, uma mulher para dois") e Bernardo Bertolucci ("Os sonhadores"), só para citar os mais célebres diretores que investigaram essa modalidade de relacionamento. Em seu filme, o canadense Dolan não faz questão de soar revolucionário ou ousado, preferindo o caminho da sutileza e da delicadeza, deixando ao espectador o prazer de descobrir aos poucos o rumo de sua trama. O próprio cineasta interpreta um dos protagonistas, o jovem homossexual Francis, que se apaixona perdidamente pelo belo, inteligente, sexy e liberal Nicolas (Niels Schneider). O problema é que sua melhor amiga Marie (Monia Chokri) também cai de amores pelo rapaz, e nenhum dos dois sabe exatamente para quais dos dois ele está inclinado a dar seu amor (e SE está interessado nisso): Nicolas os trata com igual atenção e carinho, embaralhando cada vez mais as pistas que levam a seu coração - e à sua cama.

Se peca em não aprofundar a contento a psicologia de suas personagens, Dolan acerta em cheio em tratar seu filme como uma espécie de inventário visual de sua época. É perceptível o cuidado do diretor com cada detalhe de sua mise-en-scène, desde os objetos de cena até o figurino absurdamente antenado com sua ambientação, assim como a bela fotografia e alguns enquadramentos belíssimos que nem mesmo o quase exagero em sequências em câmera lenta conseguem atrapalhar. O olho de Dolan para as pequenas coisas e reações é admirável, assim como seu talento em explorar ao máximo a potencialidade de cada tomada. Não há, em "Amores imaginários", nenhuma cena que não seja minuciosamente preparada por sua visão esteticamente apurada. E foi justamente essa atenção talvez exagerada ao visual  - em detrimento de um desenvolvimento maior dos protagonistas - que incomodou tanta gente.

O que talvez muitos dos críticos não tenham percebido em "Amores imaginários" é a sua absoluta falta de compromisso com o realismo. Dolan trata sua história como uma espécie de sátira a seu próprio universo, onde as pessoas querem se parecer com James Dean e idolatram Audrey Hepburn, frequentam cafés e festas com gente bonita e descolada e transitam em cenários coloridos e absurdamente fotogênicos. A beleza exterior é equilibrada apenas pelas histórias dolorosas/engraçadas/patéticas contadas por outras personagens diretamente para a câmera (um artifício que funcionou em "Harry & Sally, feitos um para o outro" e que volta a ser bastante interessante aqui): são essas personagens sem nome que dão suporte ao roteiro, mostrando ao espectador que amar dói, sim, mas não mata ninguém.

"Amores imaginários" não é, definitivamente, um filme feito para aqueles que consideram o cinema como a arte da reflexão séria e densa. Pode soar raso, sim, e talvez até o seja. Mas todos aqueles que já se apaixonaram entendem perfeitamente as situações pelas quais Francis e Marie passam. E essa empatia, essa compreensão pela dor dos outros - ainda que coberta por um sutil senso de humor - não é qualquer filme que desperta.

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MARISA MONTE - O QUE VOCÊ QUER SABER DE VERDADE

Posted by Clenio on 20:25 in
Não deixa de ser irônico que em um país onde gente do quilate de Paula Fernandes, Calypso e Luan Santana são considerados sucesso ainda exista gente com a cara de pau de criticar o novo CD da cantora Marisa Monte, "O que você quer saber de verdade", lançado no final de outubro. Mesmo que esteja bastante longe da qualidade de seus primeiros trabalhos - onde experimentava sonoridades e explorava muito mais seu potencial vocal em canções longe do que se convencionou chamar de popular - seu oitavo disco é uma delícia de se ouvir, um oásis de delicadeza e paz em um deserto de qualidade musical.

Ainda que não haja muita novidade no repertório de Marisa - que mais uma vez apela a regravações (de "Descalço no parque" de Jorge Benjor e "Lencinho querido" com a participação do Café de Los Maestros) - seu novo disco é agradável, solar e simples como a boa MPB deve ser. Marisa canta a felicidade do amor ("amar alguém só pode fazer bem"), dos relacionamentos ("você veio pra ficar, você que me faz feliz, você que me faz cantar"), de estar em casa ("hoje eu não saio, não, não troco meu sofá por nada") e da vida em si ("tão curta a vida, curta a vida"). Mas ainda sabe partir corações com sua voz privilegiada ("depois de tantos desenganos nós nos abandonamos como tantos casais") e ainda encontra espaço para contar com a participação de Rodrigo Amarante (da banda Los Hermanos) em "O que se quer" e agradar aos fãs dos Tribalistas em três das melhores canções do álbum (a que dá título ao disco, a arrasadora "Depois" e "Verdade, uma ilusão"). Não há como não gostar de "O que você quer saber de verdade", a não ser que não se seja fã de Marisa ou que procure nele uma revolução musical e temática que há muito tempo a música brasileira não conhece.

Talvez o maior problema desse novo disco de Marisa - que começou a carreira como uma cantora cult e chegou às paradas populares com a infame "Amor, I love you" - seja o excesso de expectativa a seu redor. Desde que lançou dois discos simultaneamente em 2006 - o pop "Infinito particular" e o sambista "Universo ao meu redor" - toda a sua legião de fãs incondicionais (e eventuais críticos azedos em busca de um escorregão) esperava com ansiedade sua volta. Ela voltou. E, se não é mais o inalcançável rouxinol distante de seu primeiro disco, ainda se mantém como a melhor cantora do Brasil. Que se danem os detratores! Marisa ainda é majestade!

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TRÊS FILMES COM TEMÁTICA GAY

Posted by Clenio on 23:36 in
Em uma época em que a diversidade sexual anda encontrando tanta dificuldade (não nos iludamos, a homofobia ainda grassa célere, ainda que muitas vezes disfarçada) nada como a sétima arte para chamar-nos à razão (ou até mesmo filmes feitos para a televisão americana, frequentemente brindando o público com trabalhos admiráveis). Recentemente três filmes de temática homossexual me fizeram pensar, emocionar ou simplesmente divertir. Vamos a eles;

STRAPPED - Lançado no Chicago LGBT Film Festival de 2010, este filme dirigido por Joseph Graham nunca chegou a ser distribuído comercialmente no Brasil, nem mesmo em DVD, mas é uma pequena pérola do gênero. Escrito pelo próprio diretor, "Strapped" foge do lugar-comum ao contar uma história sem maiores compromissos com a realidade lógica (ainda que suas personagens sejam extremamente realistas e verossímeis). O protagonista (vivido com graça e carisma por Ben Bonenfant) é um michê que, depois de um programa, se descobre preso dentro de um prédio em San Francisco que, conforme ele descobre pouco a pouco, é, segundo um morador, "o prédio mais gay da rua mais gay da cidade". Tentando encontrar a saída, ele dá de cara com um viciado em cocaína que o apresenta a dois amigos também pouco afeitos a sutilezas sexuais, um homem casado que não aceita pacificamente seu lado gay e parte pra violência depois do ato sexual, um homem de idade que lhe dá conselhos e carinho e até mesmo um rapaz que se apresenta como uma possibilidade de amor. Do primeiro encontro do protagonista sem nome (com um homem que não consegue esquecer uma paixão da adolescência) aos créditos finais, Graham apresenta um desfile de tipos que abrange se não a totalidade ao menos boa parte do universo gay, sem julgamentos morais. O roteiro (kafkiano em seu tom onírico e quase surreal) é sustentado por um elenco competente e um ator central que dá o equilíbrio perfeito entre sensualidade, mistério e timidez. Um filme a ser descoberto!

 

UM AMOR NA TRINCHEIRA - Pouca gente sabe, mas a atriz Jane Fonda tem um filho ator! Pouco conhecido do grande público, Troy Garity tem uma atuação bastante competente em "Um amor na trincheira", filme feito para a TV americana em 2003 que chegou a ser indicado ao Golden Globe de Melhor Filme. Ele interpreta Barry Winchell, um soldado americano que se apaixona por Calpernia (Lee Pace, da série "Pushing Daisies", absolutamente irreconhecível), um travesti que faz shows em boates. O romance entre os dois passa a incomodar o colega de quarto de Winchell, Justin (Shawn Hatosy), um rapaz em luta constante contra uma homossexualidade reprimida. As coisas saem do controle quando um novo recruta entra na jogada e, desequilibrado, começa a ser dominado por Justin até uma tragedia acabar com a história de amor. Baseado em fatos reais, "Um amor na trincheira" é dirigido por Frank Pierson (que ganhou um Oscar pelo roteiro de "Um dia de cão") e, considerando o fato de ter sido feito para a TV é bastante ousado, além de apresentar atuações acima da média de Garity e de Lee Pace (ambos também foram indicados ao Golden Globe).


PECADO DA CARNE - É preciso muita coragem para um filme israelense tocar em um assunto tão polêmico e tabu quanto a homossexualidade e só por isso "Pecado da carne" já merece ser aplaudido. Dirigido por Haim Tabakman, essa co-produção Israel/Alemanha/França foi premiada no Festival de Cinema de Jerusalém devido à atuação de Zohar Strauss, que vive Aaron Fleischmann, um judeu ortodoxo, pai de família e dono de um açougue que se apaixona perdidamente pelo jovem Ezri (Ran Danker), que está na cidade atrás de um ex-amante. Logicamente a sociedade não aprova nem mesmo a amizade entre os dois e o romance secreto logo passa a cumular Aaron de culpa e remorso. Por não apelar para cenas mais quentes entre os dois protagonistas - preferindo a discussão sobre amor, religião e culpa - o filme de Tabakman não chegou a causar a controvérsia que poderia, ao menos em grande escala. Talvez por ter tratado tudo com delicadeza, o cineasta não ofendeu os pruridos de ninguém e ainda por cima legou ao "cinema gay" um filme de inquestionável relevância. Vale a pena conhecer!

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QUINTA AVENIDA, 5 DA MANHÃ

Posted by Clenio on 00:03 in
Em 1961, uma comédia romântica aparentemente inofensiva mudou a forma com que as mulheres se comportavam e principalmente se vestiam. Baseado em um romance de Truman Capote, "Bonequinha de luxo" conquistou a crítica e o público ao apresentar como protagonista uma garota de programa distante anos-luz da maneira com que Hollywood tratava o assunto. Dirigido por Blake Edwards, o filme que deu ao mundo a bela "Moon River" e legou ao universo cinematográfico a deliciosa Holly Golightly de Audrey Hepburn tem seus bastidores meticulosamente analisados em "Quinta Avenida, 5 da manhã", escrito pelo crítico de cinema Sam Wasson, publicado no Brasil pela editora Zahar.

Narradas em capítulos curtos e ágeis, as aventuras e desventuras que levaram o romance de Capote às telas são contadas de maneira leve e fluente por Wasson, que esmiuça detalhes saborosos aos ávidos fãs de Hepburn, do filme em si, do cinema em geral e da moda como forma de comportamento. O autor revela as dúvidas de Truman Capote em relação à escalação da linda, esguia e elegante Audrey para o papel da doidivanas protagonista (que ele imaginava ter o rosto e o corpo de Marilyn Monroe), a maneira com que o roteiro driblou os olhos severos da censura e principalmente a divisão da atriz principal entre a carreira e a vida doméstica. Todos os caminhos que levaram ao filme são examinados pelo autor, desde os primórdios de Hepburn como atriz até seu estrelato absoluto (e a seu status de ícone fashion), sempre de maneira divertida e interessante.

Pode não ser literatura de primeira nem mesmo um marco na história editorial mundial, mas "Quinta Avenida, 5 da manhã" é uma leitura obrigatória para quem acha que "Bonequinha de luxo" é apenas mais uma comédia romântica como outra qualquer. Para ler em uma tarde e ouvindo Henry Mancini.

Alan Raspante, leia o mais rápido que puder...

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REFÉNS

Posted by Clenio on 13:22 in
Quando Nicole Kidman foi indicada ao Oscar deste ano por seu sensível desempenho em "Reencontrando a felicidade" seus fãs respiraram aliviados. Parecia que finalmente a bela e talentosa australiana estava voltando a encontrar seu caminho em direção a trabalhos mais honestos do que coisas como "A feiticeira", "Invasores" e até mesmo o decepcionante "Austrália". Porém, basta alguns minutos de "Reféns" para que todas as esperanças caiam por terra. É simplesmente inexplicável a presença de uma atriz do porte de Kidman em um filme tão banal e derivativo quanto este.

Dirigido por Joel Schumacher, que não dá uma dentro há quase uma década - seu último trabalho digno de nota foi o pouco visto "O custo da coragem", com Cate Blanchett, de 2003 - "Reféns" foi praticamente escorraçado das telas de cinema americanas, tendo ficado em cartaz por meros dez dias e com uma vergonhosa arrecadação de menos de trinta mil dólares. Tal fracasso pode soar estranho haja visto que, além de Nicole o cartaz também estampa com destaque o nome de Nicolas Cage (também vencedor do Oscar, mas que, apesar dos horrendos filmes que vem cometendo, parece ter um público cativo), mas é simplesmente impossível gostar de tamanho erro. Com cara de Supercine, o suspense escrito por Karl Gajdusek - autor de episódios da série "Dead like me" - não passa de uma sucessão de clichês mal ajambrados que não surpreendem nem ao mais distraído espectador. Nem as supostas reviravoltas da trama conseguem despertar mais do que sono (ou raiva) na plateia.

Para quem não viu o trailer (que conta quase tudo), Cage e Kidman vivem um casal de milionários, pais de uma filha adolescente rebelde (a péssima Liana Liberato, que estava bem melhor em "Confiar", de David Schwimmer) que vê sua mansão invadida por um quarteto que procura milhares de dólares em diamantes. Enquanto tenta sobreviver ao ataque, o casal precisa lidar também com a fragilidade de seu casamento e com uma série de mentiras que surgem no decorrer da noite - inclusive ligado a um dos criminosos, o jovem Jonah (Cam Gigandet, da série "Crepúsculo").

Joel Schumacher, quando quer, consegue ser um bom diretor de suspense - quem viu "Por um fio", com Colin Farrell, sabe do que estou falando. Mas pelo jeito há muito tempo anda no piloto automático. "Reféns" é um dos maiores passos em falso de sua carreira - e isso que estamos falando do homem que quase aniquilou a franquia "Batman" no final dos anos 90. Só serve mesmo pra quem é fã incondicional da bela Nicole ou do canastrão Cage (aqui exercitando a fundo sua veia exagerada). E isso que nem citamos o poster doloroso!!!

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CONTÁGIO

Posted by Clenio on 12:27 in
O elenco é estelar, repleto de nomes vencedores do Oscar. O diretor também já papou sua estatueta - por "Traffic", que já brincava com o estilo Robert Altman de fazer cinema. E a trama por si só já é palpitante o bastante em um mundo tão suscetível a epidemias - e tão facilmente manipulável pela mídia. Portanto, "Contágio", novo trabalho de Steven Soderbergh, é um filme cujos fãs de cinema não podem perder. Além dos créditos recheados de estrelas, da direção segura e do tema interessante, é também uma pequena aula de como contar uma história quase aterrorizante sem precisar assustar ninguém com truques baixos.

"Contágio" não é um filme de suspense, mas não deixa de ser apavorante. Tudo começa quando a bela Beth Emhoff (Gwyneth Paltrow em participação rápida e crucial) volta de uma viagem a Hong Kong para os braços do marido, Mitch (Matt Damon) e do filho. Junto com ela, porém, veio um vírus mortal, capaz de matar em poucos dias. O vírus, desconhecido pela medicina, começa a fazer uma vítima atrás da outra em várias partes do mundo, o que leva o planeta a um pânico generalizado. Para manter o povo informado, o blogueiro Alan Krumwiede (Jude Law) torna-se persona non grata da indústria farmacêutica e da cena médica, enquanto uma equipe de doutores (Laurence Fishburne, Marion Cottilard, Kate Winslet e Jennifer Ehle) busca maiores detalhes sobre o vírus, com o objetivo de impedir sua disseminação.

A trama de "Contágio" se divide em vários campos, como o cineasta já fez em seu premiado "Traffic", mas dessa vez não existe a preocupação de alertar o público sobre um problema premente, como acontecia com o filme estrelado por Benicio Del Toro e Michael Douglas. Aqui, Soderbergh se concentra em mostrar, de forma quase didática, a evolução de uma tragédia de grandes proporções que pode começar de maneira inocente (como fica claro na sequência final). Para isso, ele conta com rostos conhecidos do grande público em papéis importantes mas relativamente pequenos - e ainda encontra tempo para cenas de grande delicadeza, como o primeiro baile da filha da personagem de Matt Damon, já no final da projeção. São momentos assim que humanizam a história, aproximando a audiência do que é mostrado na tela - sem, no entanto, desvalorizar o aspecto técnico da situação.

No final das contas "Contágio" é um bom filme de um cineasta extremamente competente, mas que não chega a empolgar como poderia. Ainda assim, vale uma conferida, ao menos para prestigiar o elenco extraordinário reunido por Soderbergh.

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A CASA DOS SONHOS

Posted by Clenio on 15:15 in

A primeira pergunta que vem à cabeça dos fãs de cinema no final da projeção de "A casa dos sonhos" é a seguinte: por que diabos Jim Sheridan assinou este filme tão absurdamente distante de seu estilo (e o que é pior, tão assustadoramente aquém de seu talento)? Tudo bem que ele brigou com o estúdio (Morgan Creek) antes do lançamento do filme, assim como os astros Daniel Craig e Rachel Weisz - por discordar da edição final - mas ainda assim a dúvida permanece. Indicado duas vezes ao Oscar - pelos ótimos "Meu pé esquerdo" e "Em nome do pai" - o irlandês Sheridan parece ter cedido de vez às pressões do cinemão comercial hollywoodiano, em um filme que, apesar da premissa interessante (ainda que não exatamente original), não a desenvolve a contento, apresentando, além de tudo, um desfecho derivativo e anticlimático.

Daniel Craig está bastante bem no papel principal, um homem que abandona a editora onde trabalhava para dedicar-se a um livro que pretende escrever (escritores que querem se dedicar à arte são clichê no gênero desde, no mínimo, "O iluminado") e à família, formada pela bela esposa Libby (Rachel Weisz) e por duas adoráveis filhas pequenas. Como sempre acontece em filmes de suspense, porém, a casa que acabaram de comprar tem um passado sangrento: o pai matou a mulher e as filhas a tiros, e a vizinhança parece saber bem mais a respeito do crime do que confessa. Para tranquilizar-se (e a todo o núcleo familiar), o escritor resolve investigar mais a fundo a história e descobre que nem mesmo a vizinha, Ann Patterson (Naomi Watts, perdida no papel) foi totalmente verdadeira em suas declarações a ele.

Contar muito a respeito de "A casa dos sonhos" é tirar dele um de seus poucos trunfos, que é o elemento-surpresa do roteiro (mesmo que o trailer já entregue o ouro descaradamente). Apesar de beber na fonte de outros filmes (que não convém citar pelo mesmo motivo acima), tudo poderia ter sido melhor se Sheridan tivesse conseguido sobressair-se aos executivos do estúdio e mantido o tom inicial da obra, que causa sustos, mas de forma austera e elegante (cortesia também da bela fotografia do veterano Caleb Deschanel). Em sua segunda metade, porém, tudo desanda de forma grotesca, com soluções de roteiro pouco criativas e quase preguiçosas.O final, então - que se pretendia apoteótico - não passa de um amontoado de efeitos pirotécnicos que nada acrescentam à trama.

"A casa dos sonhos" pode até agradar a eventuais frequentadores de cinema que não procuram obras-primas. Mas para os cinéfilos é triste constatar que Jim Sheridan não é mais o mesmo!

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O PALHAÇO

Posted by Clenio on 12:32 in
Em 2008, o ator Selton Mello lançou seu primeiro longa-metragem como diretor, o denso "Feliz natal" (ver crítica aqui: http://blogdofrid.blogspot.com/2008/12/feliz-natalquase-um-trauma-de-infncia.html). Quem achava que o sucesso crítico do filme era apenas sorte de principiante deve ter ficado de boca aberta com esta sua segunda incursão para trás das câmeras: "O palhaço" revela em Selton um cineasta seguro, honesto e principalmente sensível às relações humanas. É simplesmente impossível não encantar-se com essa pequena pérola do cinema nacional.

O jovem Benjamin (vivido pelo próprio Mello) está passando por uma grave crise de identidade. Apresentando-se pelo interior do Brasil (em especial Minas Gerais, terra do ator e diretor) com o circo Esperança - na pele do palhaço Pangaré, ao lado do pai, Puro Sangue (Paulo José, fantástico) e de um trupe de personagens felinnianos - ele sente que não está mais feliz ("quem vai me fazer rir?", ele pergunta melancólico a uma fã com segundas intenções). Sem carteira de identidade, nem CPF e muito menos comprovante de residência, ele sente-se solitário, perdido e desprovido de qualquer real motivação para manter-se na vida artística. Enquanto tenta encontrar um caminho - e sua paixão por ventiladores tanto pode significar a eterna busca circular pelos sonhos, como disse o cineasta, como a ideia da necessidade de um pouco de ar - Benjamin acompanha seus colegas por cidadezinhas tristes, modorrentas e áridas, que remetem ao país retratado na poesia brutal de "Central do Brasil".

Selton Mello acerta em cheio em não deixar-se contaminar totalmente pela tristeza que a história poderia provocar. Enquanto Benjamin se mantém como um anti-herói tragicômico (com ecos de Carlitos), em sua busca quixotesca por uma loja de auto-peças que pode significar seu rompimento com o passado, o elenco coadjuvante faz a festa em sequências de um humor puro, ingênuo e leve como um bom número de palhaços de circo. Moacyr Franco levou o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Paulínia por sua atuação antológica como um delegado, mas é injusto não citar as participações de Emilio Orciollo Neto, Jorge Loredo (o Zé Bonitinho em pessoa), Fabiana Karla, o sumido Ferrugem e até mesmo de Danton Mello, irmão de Selton, em uma aparição carinhosa.

Aliás, carinho parece ser a palavra-chave de "O palhaço". Nota-se perfeitamente em cada plano, em cada cena, o carinho de Selton por suas personagens, por sua história, por suas influências e principalmente por seus atores, todos extremamente bem dirigidos. Em tom quase anedótico, "O palhaço" é a prova viva de que, apesar da tradicional afirmação de que todo palhaço é triste - e não deixa de ser irônico que Selton, mais conhecido por seus papéis cômicos seja tão emocional em sua carreira de cineasta - fazer rir é não apenas uma vocação. É destino! Bravo, Selton! Que venha o próximo filme.

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A PELE QUE HABITO

Posted by Clenio on 11:08 in
Deve ser difícil ser Pedro Almodóvar. Um dos cineastas europeus mais celebrados das últimas décadas, o espanhol sempre se vê cercado de enormes expectativas em relação a seus projetos, sendo cobrado a realizar uma obra-prima atrás da outra (e o fez, "Tudo sobre minha mãe" e "Fale com ela" que o digam). O problema é que nem só de obras-primas vive um cineasta e quando ele entrega aos fãs (e aos detratores) filmes como "Abraços partidos" (que tem momentos espetaculares, diga-se de passagem) todo mundo acha que é "um filme menor". O que talvez essa gente nem perceba é que até mesmo os filmes "menores" de Almodóvar são sensacionais. Uma prova dessa afirmação? "A pele que habito", seu novo longa, foi recebido com certa frieza no Festival de Cannes, apesar do frisson de promover a reunião do diretor com seu antigo colaborador Antonio Banderas. Mas o filme, baseado em um romance de Thierry Jonquet, é uma bela fábula sobre obsessão e vingança (temas tão caros ao cineasta).

Trabalhando pela segunda vez sobre o material alheio - a primeira foi em "Carne trêmula", em que adaptou livremente um romance policial da americana Ruth Rendell - Almodovar realiza, em "A pele que habito", um filme de gênero, ou seja, segue alguns padrões pré-estabelecidos, mas nunca deixa de lado algumas de suas características mais marcantes (a desinibição de mostrar o sexo como ele é, a imprevisibilidade, a opção por personagens complexas, o gosto pelo melodrama). Apesar de não deixar muito espaço para gargalhadas, a trama ainda consegue permitir a ele que enxerte seu tradicional humor negro, mesmo que ele não ocupe (talvez infelizmente) muito tempo. "A pele que habito" é um conto sombrio e talvez justamente este lado negro de Almodóvar é que tenha assustado parte de seus fãs (que deveriam dar uma revisada em "Matador" para lembrar que o diretor nem sempre foi engraçado....)

Como sempre nos filmes do autor de "Mulheres à beira de um ataque de nervos", é difícil resumir a trama - mesmo porque qualquer coisa que seja dita a mais pode estragar as reviravoltas do roteiro - mas o que se pode ser dito sem prejuízo à história é que o protagonista é Robert Ledgard (um Banderas amadurecido e controlado), um famoso e bem-sucedido cirurgião que está no estágio final de uma experiência de criar uma pele humana nova, imune a queimaduras e picadas de inseto, por exemplo. Sua cobaia no experimento é a bela Vera (Elena Ayala), que vive trancada dentro de sua mansão, sendo vigiada pela copeira Marilia (Marisa Paredes, outra habitual parceira do realizador). Quando o filho de Marilia, o foragido Zeca (Roberto Álamo) reaparece, ele traz de volta um trágico passado envolvendo a esposa e a filha de Robert, assim como o do jovem Vicente (Jan Cornet), que se torna vítima da fúria do médico.

É bom chegar ao cinema sem maiores informações sobre "A pele que habito". Como toda a obra de Pedro Almodóvar, é delicioso, é surpreendente, é sensual, é talvez chocante. Mas é, acima de tudo, grande cinema, como somente ele e poucos outros cineastas em atividade conseguem proporcionar.

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"DEPOIS", MINHA MÚSICA DO MOMENTO

Posted by Clenio on 23:04 in
Essa letra diz muito melhor do que eu poderia dizer sobre meu momento.


"Depois
De sonhar tantos anos
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós
Depois
De tantos desenganos
Nós nos abandonamos
Como tantos casais
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também


Depois
De varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão
Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu precisava escutar
Quero que você seja melhor
Hei de ser melhor também
Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou tanto tempo
Não podemos negar
Foi bom
Nós fizemos história
Pra ficar na memória
E nos acompanhar
Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também
Depois
De acertarmos os fatos
De trocar seus retratos
Pelos de um outro alguém
Meu bem
Vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair mais ninguém
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois"  (Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown)

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