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A DANÇARINA E O LADRÃO
Posted by Clenio
on
03:36
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CINEMA 2012
Já virou lugar-comum dizer o quanto o argentino Ricardo Darín é um dos maiores atores em atividade no momento, aumentando inclusive o interesse por filmes que, não fosse sua presença sempre marcante, poderiam passar em brancas nuvens. Mas não há como negar que, mais uma vez é seu trabalho sempre acima da média que faz com que o drama "A dançarina e o ladrão" - realizado em 2009 mas que só agora chega às telas - se torne mais uma bela experiência cinematográfica ainda que esteja longe de ser uma obra-prima. Dessa vez, porém, Darín nem vive é o centro absoluto da trama, dividindo generosamente a protagonização com o jovem Abel Ayala.
Baseado em um romance de Antonio Skarmeta - autor de "O carteiro e o poeta" - chamado "O baile da vitória", "A dançarina e o ladrão" é dirigido por Fernando Trueba, vencedor do Oscar de filme estrangeiro de 92 pelo belo "Sedução". Dessa vez o cineasta centra sua história em Santiago do Chile no momento de sua redemocratização pós-Pinochet. Quando o filme começa, o famoso ladrão de cofres Nicolás Vergara Grey (vivido por Darín) sai da cadeia, beneficiado com um programa de anistia do governo. Sua primeira ação é procurar a ex-mulher e o filho pequeno, já absortos em uma nova família com outro homem. Falido e preocupado em dar uma vida confortável ao herdeiro, Nicolás acaba aceitando, depois de muito recusar, participar de um golpe que pode lhe dar dinheiro o bastante para resolver sua vida. Quem o convence a roubar o dinheiro sujo que pertence a um dos generais do ex-ditador é Angel Santíago (o ótimo Ayala), que também acaba de sair da cadeia e tenciona usar o dinheiro para casar-se com Victoria (Miranda Bodenhofer), uma talentosa bailarina criada por uma professora de dança pobre mas dedicada (interpretada pela brasileira Márcia Haydée). Victoria não fala desde que presenciou a morte dos pais pelas mãos dos militares, mas vê em Angel (com o perdão do trocadilho) o anjo que a protegerá da dureza da vida e lhe proporcionará o amor de que necessita. O que nenhum deles sabe é que o rapaz está marcado para morrer, condenado pelo erro do passado.
Muito criticou-se o filme de Trueba, acusando-o de apelar para os mais variados clichês com a intenção de cativar a audiência. O que pouca gente talvez tenha percebido é que seu carinho pelas personagens é maior do que qualquer tropeço de roteiro ou direção. Mesmo que todos os elementos que o filme apresenta já tenham sido visto em outros trabalhos - o roubo perfeito, a jovem desacreditada que comove a todos com seu talento, o homem tentando reencontrar o afeto do filho - eles surgem aqui revestidos com delicadeza e respeito. A personagem de Ayala, por exemplo, é carismática ao extremo, dona de uma inocência quase pueril mesmo quando rouba de caixas eletrônicos ou aponta uma arma para a diretora do Teatro Municipal de Santiago para exigir uma chance para a mulher que ama. É difícil não gostar de Angel e não torcer por ele, mesmo que o roteiro jogue um pouco sujo para que isso aconteça, colocando-o como um amante quixotesco que implora pela simpatia do público com seu sorriso fácil e sua passionalidade. Um detalhe totalmente perdoável diante do resultado final: um filme simpático e delicado que nem de longe merece o pouco-caso com que foi recebido por muita gente.
Baseado em um romance de Antonio Skarmeta - autor de "O carteiro e o poeta" - chamado "O baile da vitória", "A dançarina e o ladrão" é dirigido por Fernando Trueba, vencedor do Oscar de filme estrangeiro de 92 pelo belo "Sedução". Dessa vez o cineasta centra sua história em Santiago do Chile no momento de sua redemocratização pós-Pinochet. Quando o filme começa, o famoso ladrão de cofres Nicolás Vergara Grey (vivido por Darín) sai da cadeia, beneficiado com um programa de anistia do governo. Sua primeira ação é procurar a ex-mulher e o filho pequeno, já absortos em uma nova família com outro homem. Falido e preocupado em dar uma vida confortável ao herdeiro, Nicolás acaba aceitando, depois de muito recusar, participar de um golpe que pode lhe dar dinheiro o bastante para resolver sua vida. Quem o convence a roubar o dinheiro sujo que pertence a um dos generais do ex-ditador é Angel Santíago (o ótimo Ayala), que também acaba de sair da cadeia e tenciona usar o dinheiro para casar-se com Victoria (Miranda Bodenhofer), uma talentosa bailarina criada por uma professora de dança pobre mas dedicada (interpretada pela brasileira Márcia Haydée). Victoria não fala desde que presenciou a morte dos pais pelas mãos dos militares, mas vê em Angel (com o perdão do trocadilho) o anjo que a protegerá da dureza da vida e lhe proporcionará o amor de que necessita. O que nenhum deles sabe é que o rapaz está marcado para morrer, condenado pelo erro do passado.
Muito criticou-se o filme de Trueba, acusando-o de apelar para os mais variados clichês com a intenção de cativar a audiência. O que pouca gente talvez tenha percebido é que seu carinho pelas personagens é maior do que qualquer tropeço de roteiro ou direção. Mesmo que todos os elementos que o filme apresenta já tenham sido visto em outros trabalhos - o roubo perfeito, a jovem desacreditada que comove a todos com seu talento, o homem tentando reencontrar o afeto do filho - eles surgem aqui revestidos com delicadeza e respeito. A personagem de Ayala, por exemplo, é carismática ao extremo, dona de uma inocência quase pueril mesmo quando rouba de caixas eletrônicos ou aponta uma arma para a diretora do Teatro Municipal de Santiago para exigir uma chance para a mulher que ama. É difícil não gostar de Angel e não torcer por ele, mesmo que o roteiro jogue um pouco sujo para que isso aconteça, colocando-o como um amante quixotesco que implora pela simpatia do público com seu sorriso fácil e sua passionalidade. Um detalhe totalmente perdoável diante do resultado final: um filme simpático e delicado que nem de longe merece o pouco-caso com que foi recebido por muita gente.