0

HELENO

Posted by Clenio on 21:33 in
Esqueçam Adriano, Ronaldo Fenômeno e todos os jogadores de futebol que muitas vezes tem suas vidas pessoais regadas a escândalos chamando mais a atenção do que seus dotes esportivos: quem começou essa febre - e nos longínquos anos 40 - foi um jogador bonito, letrado (formado em Direito) e talentoso chamado Heleno de Freitas. Ídolo da torcida botafoguense, o charmoso don juan acabou seus míseros 39 anos destruído pela sífilis, depois de ter acabado com sua carreira graças a seu temperamento esquentado e sua paixão por mulheres, cigarros e éter. E é essa personagem trágica que Luiz Henrique Fonseca elegeu como protagonista de seu segundo longa, "Heleno" (quase uma década depois de seu"O homem do ano"). Estrelado por um Rodrigo Santoro lembrando ao público porque chamou a atenção dos produtores hollywoodianos, o novo filme de Fonseca é dolorido e triste, mas é também um dos filmes brasileiros mais bem-acabados dos últimos anos.

Quando o filme começa, em 1959, Heleno já está hospitalizado em um sanatório, com a memória abalada, fisicamente arrasado e aparentando bem mais do que seus 39 anos. É lá que ele começa a relembrar sua trajetória no mundo do futebol, quando era a maior estrela do Botafogo dos anos 40, adorado pelos torcedores e desejado pela mulherada em geral. Mesmo sem resistir aos encantos femininos que volta e meia lhe caíam ao colo, ele se casa com a bela Sílvia (Alline Moraes, linda como sempre), mas não desiste de criar problemas para seus treinadores e colegas de time - a quem considera extremamente inferiores a seu talento. Conforme o tempo passa, os problemas domésticos aumentam e chegam ao ápice quando ele é vendido ao Boca Juniors e vai morar (sozinho) na Argentina.

O interesse de Fonseca nem é tanto no Heleno jogador de futebol, ainda que o filme apresente algumas sequências muito bem editadas do esporte - que, a despeito de ser a maior paixão do país ainda não teve um filme decente que o retrate, com exceção de alguns poucos documentários. O que o cineasta (filho do escritor Rubem Fonseca) busca (e consegue, na maior parte do tempo) é entrar na alma de seu protagonista, retratar como seus desvios de conduta o levaram inexoravelmente ao declínio e à morte. O roteiro não chega a atingir todas as notas a que se propõe (por vezes tem-se a impressão de uma certa pressa em levar a estória adiante), mas a fotografia em preto-e-branco de Walter Carvalho é simplesmente devastadora, proporcionando ao filme uma identidade visual sóbria e elegante. Mas é inegável que o filme pertence a Rodrigo Santoro.

Até mesmo os detratores do ator - que também assina o filme como um dos produtores - são obrigados a reconhecer que estão diante de uma das grandes atuações do cinema nacional em muito, muito tempo. Em especial na sua decadência física, quando já não tem mais o brilho e o charme da juventude, o Heleno de Santoro é hipnotizante, melancólico, chocante - e a edição fragmentada colabora com o choque, comparando frequentemente a vitalidade do ídolo esportivo com a fragilidade do esportista esquecido e seriamente doente. Suas cenas com Alline Moraes emocionam de maneira sutil, sem apelar para o dramalhão, prova da inteligência de Fonseca em fugir da convencional piguice do tema.

Aliás, inteligência é o que não falta a "Heleno". Realizado com paixão e seriedade, é o tipo de filme de que o cinema brasileiro precisa cada vez mais. Belo, emocionante, relevante, "Heleno" é o que o indescritivelmente ruim "Estrela solitária" poderia ter sido se tivesse um diretor competente. Belo programa para fãs de esporte - e até para quem não é!

|

Copyright © 2009 Lennys' Mind All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates