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SETE DIAS COM MARILYN
Posted by Clenio
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14:09
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CINEMA 2012
Às vésperas do aniversário de 50 anos de sua morte – em agosto de 1962 – nunca se falou tanto de Marilyn Monroe quanto atualmente. Diários, livros, séries de TV – o delicioso musical “Smash”, produzido por Steven Spielberg – e biogarfias pipocam o tempo todo, comprovando a perenidade do maior mito sexual já produzido por Hollywood. De todos os projetos envolvendo o nome da atriz, porém, o que melhor sintetiza sua personalidade problemática e um tanto infantil é o filme “Sete dias com Marilyn”, dirigido por Simon Curtis e baseado em um livro de memórias do produtor Colin Clark – na época apenas um jovem que sonhava em fazer parte do mundo do cinema. Merecidamenteelogiado pela crítica e pelo público, o filme tem muito mais acertos do que equívocos.
O primeiro acerto de Curtis foi o de optar não por uma biografia convencional (o que exigiria malabarismos inglórios de roteiro para concentrar em palatáveis 120 minutos uma vida curta mas bastante agitada), mas por concentrar-se em um período bastante específico da carreira da estrela – a saber, as tempestuosas filmagens de “O príncipe encantado”, onde ela atuou ao lado de ninguém menos que Sir Laurence Olivier, considerado então (e ainda hoje) um dos maiores atores shakespereanos de todos os tempos. Na ocasião mostrada no filme, Olivier tentava conquistar a plateia mais jovem de cinema – que já não o dava o devido valor comercial – trazendo para junto de si a sensual e popular Marilyn, à época recém-casada com o dramaturgo Arthur Miller. Sua ideia, que parecia brilhante a princípio, revela-se um tormento quando o experiente ator começa a sair do sério com os caprichos da atriz. Constantemente atrasada, sem capacidade aparente de decorar suas falas e com a absurda exigência de estar sempre acompanhada de sua assistente artística Paula Strassberg (mulher do famigerado Lee Strassber, criador do Actor’s Studio), Marilyn acabou sendo uma constante dor de cabeça a Olivier – que mesmo assim caiu de amores por ela, abalando seu casamento com Vivien Leigh.
O segundo acerto do diretor foi não tentar explicar ou desvendar a complexa personalidade de Monroe, até hoje cercada de teorias das mais variadas – para cada um que a julga uma moça ingênua e pura que foi envolvida pelo turbilhão da fama há outro que a considera uma prostituta de luxo sem talento nenhum a não ser dormir com os homens certos para conseguir fama. Por ser contado sob o ponto de vista de Clark – um jovem empregado de Olivier que acaba servindo de assistente pessoal de Marilyn em sua estada em Londres e que também se apaixona por ela – o filme se dedica exclusivamente a testemunhar os bastidores da filmagem, dando apenas pequenos vislumbres da intimidade de sua protagonista. E é nesses momentos que o filme cresce: ao invés de jogar luz na sombria alma de Monroe, Curtis apenas a contempla, registrando em celulóide a metamorfose de uma mulher carente e insegura em um furacão sensual que ditou as normas de várias gerações de símbolos sexuais.
E é justamente nessas metamorfoses sutis que brilha o maior acerto do filme: sua estrela, Michelle Williams. Simon Curtis acertou em cheio ao escolher Michelle – não particularmente bela ou mesmo parecida com Marilyn. Atriz oriunda da TV (onde estrelou a série teen “Dawson’s Creek” por anos), Williams vem se mostrando uma atriz de grande capacidade dramática, o que suas indicações ao Oscar por “O segredo de Brokeback Mountain” e o dolorido “Namorados para sempre” comprovam sem sombra de dúvida. Na pele de Marilyn ela desaparece completamente, entregando uma atuação sensível e reverente (e nunca exagerada). Seu minucioso trabalho de voz e corpo faz, inclusive, com que, em determinados ângulos, ela tenha uma assombrosa semelhança com Monroe (principalmente em suas cenas com Eddie Redmayne, que vive Colin Clark). Além disso, Michelle tem também a sorte de contar com companheiros de elenco dos mais desejáveis: Kenneth Branagh está absolutamente perfeito como Laurence Olivier (e é irônico que o ator irlandês também seja bastante conhecido por suas performances em obras de Shakespeare) e Judi Dench mais uma vez encanta a plateia com uma atuação caprichada na pele da atriz Sybill Thorndicke (que serviu de apoio à Marilyn em seus momentos de insegurança artística). O único senão da escalação de elenco é Julia Ormond, absolutamente deslocada no papel de Vivien Leigh (aliás, onde é que acharam que Ormond, com sua falta de charme e beleza, poderia viver a linda intérprete de Scarlett O’Hara? A opção anterior, Catherine Zeta-Jones, seria bem mais acertada).
“Sete dias com Marilyn” não é brilhante. Vez ou outra perde seu ritmo e peca por não dar a devida importância a alguns fatores importantes (como a crise em seu casamento com Miller, vivido aqui pelo ator Dougray Scott). Mas é extremamente interessante para fãs de cinema e é um filme que respeita sua memória sem que seja um pálido veículo de adoração. E vale também pela atuação sensível e delicada de Michelle Williams, vencedora, com justiça, do Golden Globe deste ano.
O primeiro acerto de Curtis foi o de optar não por uma biografia convencional (o que exigiria malabarismos inglórios de roteiro para concentrar em palatáveis 120 minutos uma vida curta mas bastante agitada), mas por concentrar-se em um período bastante específico da carreira da estrela – a saber, as tempestuosas filmagens de “O príncipe encantado”, onde ela atuou ao lado de ninguém menos que Sir Laurence Olivier, considerado então (e ainda hoje) um dos maiores atores shakespereanos de todos os tempos. Na ocasião mostrada no filme, Olivier tentava conquistar a plateia mais jovem de cinema – que já não o dava o devido valor comercial – trazendo para junto de si a sensual e popular Marilyn, à época recém-casada com o dramaturgo Arthur Miller. Sua ideia, que parecia brilhante a princípio, revela-se um tormento quando o experiente ator começa a sair do sério com os caprichos da atriz. Constantemente atrasada, sem capacidade aparente de decorar suas falas e com a absurda exigência de estar sempre acompanhada de sua assistente artística Paula Strassberg (mulher do famigerado Lee Strassber, criador do Actor’s Studio), Marilyn acabou sendo uma constante dor de cabeça a Olivier – que mesmo assim caiu de amores por ela, abalando seu casamento com Vivien Leigh.
O segundo acerto do diretor foi não tentar explicar ou desvendar a complexa personalidade de Monroe, até hoje cercada de teorias das mais variadas – para cada um que a julga uma moça ingênua e pura que foi envolvida pelo turbilhão da fama há outro que a considera uma prostituta de luxo sem talento nenhum a não ser dormir com os homens certos para conseguir fama. Por ser contado sob o ponto de vista de Clark – um jovem empregado de Olivier que acaba servindo de assistente pessoal de Marilyn em sua estada em Londres e que também se apaixona por ela – o filme se dedica exclusivamente a testemunhar os bastidores da filmagem, dando apenas pequenos vislumbres da intimidade de sua protagonista. E é nesses momentos que o filme cresce: ao invés de jogar luz na sombria alma de Monroe, Curtis apenas a contempla, registrando em celulóide a metamorfose de uma mulher carente e insegura em um furacão sensual que ditou as normas de várias gerações de símbolos sexuais.
E é justamente nessas metamorfoses sutis que brilha o maior acerto do filme: sua estrela, Michelle Williams. Simon Curtis acertou em cheio ao escolher Michelle – não particularmente bela ou mesmo parecida com Marilyn. Atriz oriunda da TV (onde estrelou a série teen “Dawson’s Creek” por anos), Williams vem se mostrando uma atriz de grande capacidade dramática, o que suas indicações ao Oscar por “O segredo de Brokeback Mountain” e o dolorido “Namorados para sempre” comprovam sem sombra de dúvida. Na pele de Marilyn ela desaparece completamente, entregando uma atuação sensível e reverente (e nunca exagerada). Seu minucioso trabalho de voz e corpo faz, inclusive, com que, em determinados ângulos, ela tenha uma assombrosa semelhança com Monroe (principalmente em suas cenas com Eddie Redmayne, que vive Colin Clark). Além disso, Michelle tem também a sorte de contar com companheiros de elenco dos mais desejáveis: Kenneth Branagh está absolutamente perfeito como Laurence Olivier (e é irônico que o ator irlandês também seja bastante conhecido por suas performances em obras de Shakespeare) e Judi Dench mais uma vez encanta a plateia com uma atuação caprichada na pele da atriz Sybill Thorndicke (que serviu de apoio à Marilyn em seus momentos de insegurança artística). O único senão da escalação de elenco é Julia Ormond, absolutamente deslocada no papel de Vivien Leigh (aliás, onde é que acharam que Ormond, com sua falta de charme e beleza, poderia viver a linda intérprete de Scarlett O’Hara? A opção anterior, Catherine Zeta-Jones, seria bem mais acertada).
“Sete dias com Marilyn” não é brilhante. Vez ou outra perde seu ritmo e peca por não dar a devida importância a alguns fatores importantes (como a crise em seu casamento com Miller, vivido aqui pelo ator Dougray Scott). Mas é extremamente interessante para fãs de cinema e é um filme que respeita sua memória sem que seja um pálido veículo de adoração. E vale também pela atuação sensível e delicada de Michelle Williams, vencedora, com justiça, do Golden Globe deste ano.