O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA
Tudo bem que, a princípio, tudo pareça história requentada (e de certa forma o é): conhecemos o adolescente nerd Peter Parker, ficamos ciente de sua rotina ao lado dos tios (Martin Sheen e Sally Field), testemunhamos seu sofrimento junto aos rapazes mais populares da escola e seu amor platônico por uma colega (só que dessa vez Mary Jane é substituída por Gwen Stacy, vivida por Bryce Dallas Howard no terceiro capítulo e pela linda e carismática Emma Stone aqui). As coisas começam a mudar quando o roteiro oferece pistas a respeito do passado do pai de Peter, um cientista genial (Campbell Scott) que morreu em circunstâncias trágicas antes de concluir uma pesquisa revolucionária que misturaria genes humanos com de outras espécies. É graças a documentos de seu pai, encontrados sem querer, que o jovem entra em contato com o ambicioso doutor Curt Connors (Rhys Ifans) e, durante uma visita a seu laboratório, é picado por uma aranha geneticamente modificada. O resto todo mundo conhece e já viu antes. A boa notícia: ninguém vai se importar de ver de novo.
O roteiro de "O Espetacular Homem-Aranha" não é repleto das piadinhas que fizeram a glória dos filmes anteriores, ainda que se utilize do bom-humor em alguns momentos (em especial durante a curta participação de Stan Lee). O Peter Parker dessa nova versão é mais torturado, mais angustiado e mais verossímil, assim como o desenvolvimento da trama, que rejeita personagens icônicos da trilogia de Raimi - como o editor vivido por J.K. Simmons - para concentrar-se em construir relacionamentos mais verdadeiros entre suas personagens. Para isso é essencial o trabalho impecável de Andrew Garfield, um ator muito melhor que Tobey Maguire, que consegue transmitir toda a gama de sentimentos de sua personagem com poucas palavras: Garfield é irônico, meigo, heroico, sensível e romântico na medida certa, dando ao herói uma aura mais mitológica do que o simpático mas comum Maguire.
Logicamente os fãs dos quadrinhos não se importarão muito com esses detalhes, preferindo focar-se em coisas mais práticas, como o vilão Lagarto e as cenas de ação (excelentes, ágeis e encaixadas nos momentos certos). Mas é inegável que o conjunto funciona às mil maravilhas, apesar de Webb não ter usado a criatividade de seu filme mais famoso, em detrimento de uma narrativa mais convencional. Mesmo sem maiores ousadias, porém, o filme diverte e encanta. E conforme o próprio diretor declarou após a escolha de seu ator central, você vai amar Andrew Garfield como Homem-aranha.