EWAN MCGREGOR EM DOSE DUPLA
Se essa semana teve pontos altos - como a notícia do casamento da Alanis Morissette com o rapper Souleye (um ilustre desconhecido mas se a faz feliz, também me faz...) - certamente um deles foi a oportunidade que tive de assistir a DOIS filmes com um dos meus atores preferidos e que andava meio sumido, Ewan McGregor. Totalmente opostos em ambições e gêneros, eles mostram a sua versatilidade: a comédia "O golpista do ano" e o suspense político "O escritor fantasma".
Juro que adoraria conhecer a pessoa que escolhe os títulos em português de alguns filmes que chegam até nós. Porque eu gostaria muito de saber porque esse tal cidadão acha que um filme originalmente intitulado "I love you, Phillip Morris" deve se chamar, aqui em terra brasilis, "O golpista do ano". Se sua intenção era fazer com que o filme passasse em brancas nuvens pelo público menos informado, ele merece os parabéns. Por detrás desse ridículo título genérico, no entanto, esconde-se uma comédia que, se não é capaz de arrancar gargalhas histéricas, ao menos é interessante o suficiente para manter o interesse do espectador até seu final inacreditável.
Baseado no livro escrito por Steve Mcvicker - e que é uma história verdadeira - o filme, dirigido pela dupla de estreantes John Requa e Glenn Ficarra é estrelado por Jim Carrey, mas passa longe das bobagens sem nexo que fizeram a glória do ator nos anos 90. Ainda que ele volta e meia surja em cena fazendo as caretas que lhe angariaram tanto fãs quanto detratores, sua atuação está mais discreta do quem em seu filme anterior, "Sim, senhor". Mas não esperem uma interpretação delicada e melancólica como a apresentada por ele em "Brilho eterno de uma mente sem lembranças Aqui, ele dá vida a um trambiqueiro gay que faz o possível e o impossível para manter o estilo de vida caro e luxuoso que mantém ao lado do homem que ama, o Phillip Morris do título original (interpretado por um McGregor caminhando na tênue linha entre a caricatura e o naturalismo, sem cair nas armadilhas que isso impõe). Funciona como comédia inteligente e até faz rir com alguns absurdos - incrivelmente verdadeiros. Alguns o declararam corajoso (leia-se "fazer papel de gay é um risco..." mas é um exagero. É apenas uma divertida sessão da tarde que nem mesmo os americanos assistiram ainda (existe inclusive a possibilidade de ele ser lançado direto em DVD nos EUA).
Já em "O escritor fantasma", a coisa é mais séria, com menos espaço para brincadeiras. McGregor vive um jovem escritor que recebe a missão de terminar de escrever a biografia de um ex-primeiro ministro britânico (Pierce Brosnan) depois que o primeiro contratado morreu afogado antes do final do trabalho. Convivendo com o carismático político e com sua trupe - que inclui a esposa (Olivia Williams) e uma secretária dedicada (Kim Cattrall) - logo ele descobre que o objeto de seu livro não é tão limpo como parece e que a morte de seu antecessor pode estar ligada a descobertas que ele fez no decorrer das pesquisas. A partir daí, é questão de tempo até passar a ser, ele mesmo, um provável alvo para quem quer esconder alguns segredos.
Dirigido por Roman Polanski e extremamente elogiado pela crítica e baseado em um livro de Robert Harris, o filme cumpre o que promete, entregado ao público uma trama consistente, com um clima apropriado e interpretações bem acima da média. Apesar de seu final um tanto abrupto, é uma prova de que Polanski ainda tem o domínio das técnicas cinematográficas que pareciam ter lhe abandonado depois de coisas como "O último portal".
Em ambos os casos, foi um prazer rever McGregor...