"500 DIAS COM ELA" E UMA EPIFANIA
Já perdi a conta de quantas vezes assisti ao delicioso "500 dias com ela". A comédia romântica de Marc Webb (futuro diretor de "Homem-aranha") me atinge de maneira indescritível, uma vez que sempre vejo, na tela à minha frente, uma história de amor bastante semelhante a maior que eu vivi (e que deu origem inclusive à peça de teatro "Como dizia o poeta", que ontem, coincidentemente completou um ano desde sua estreia). O romance hesitante entre Joseph Gordon-Levitt (com um timing cômico e dramático perfeitos) e Zooey Deschannel (linda, etérea e carismática) me emociona, me faz rir, e recentemente me fez pensar - e muito - sobre algumas das certezas que eu tinha e agora não tenho mais (thanks, Webb e cia...)
Mas o que foi que eu vi apenas agora no filme que me fez pensar tanto assim? Explico; a cena em questão foi deletada para sua exibição nos cinemas, constando apenas como extra no dvd (sim, eu compro dvds. Originais!!!). Sem querer estragar o prazer daqueles que ainda não assistiram ao filme (que eu recomendo fervorosamente) narro rapidamente a cena para chegar ao ponto. Depois do fim do namoro com sua amada Summer, Tom marca um encontro às escuras com outra garota, chamada Alison. Os dois conversam sobre o final do romance do rapaz, que não está nem aí para sua nova companhia. Na versão do cinema a cena acaba aí. Na versão estendida, o diálogo continua mais ou menos assim:
ALISON - Ela traiu você?
TOM - Não.
ALISON - Ela abusou de você, financeiramente falando ou coisas do tipo?
TOM - Não, claro que não.
ALISON - E ela não deixou claro desde o início que não queria um relacionamento sério?
TOM - Sim.
ALISON - ENTÃO QUEM PARTIU SEU CORAÇÃO NÃO FOI ELA. FOI VOCÊ MESMO.
GENIAL!!!
Quando ouvi esse diálogo juro que me deu vontade de sair gritando, ou chorando, ou rindo feito um louco. Estava ali, em uma cena deletada de um filme a que assisti umas quinze vezes, uma verdade que nem mesmo eu queria saber: ninguém tem o poder de partir nosso coração a não ser nós mesmos. Tudo bem, às vezes as pessoas nos magoam, mas normalmente isso ocorre porque esperamos delas coisas que provavelmente elas não podem nos oferecer. Nem todo mundo tem a dar o que nós temos. Infelizmente julgar os outros por nós mesmos é um erro!
Quando estamos apaixonados tendemos a achar que somos super-poderosos, que iremos mudar os defeitinhos da pessoa amada, que nossa história de amor será diferente das demais, que vamos sim ficar juntos pra sempre. Fazemos milhões de planos, escolhemos os nomes dos filhos - ou dos cachorros ou dos peixes - imaginamos as viagens que faremos e muitas vezes cronometramos cada segundo de nossa vida conjunta. O problema é que muitas vezes não consultamos o outro lado do casal e quando descobrimos que todo esse planejamento é unilateral nosso coração explode de dor. E fazer o que quando, pior ainda, descobrimos que NOSSO AMOR é uma via de mão única??? Há culpados? Sim, mas não é quem você pensa.
É fácil esquivar-nos da culpa quando um relacionamento afunda. É cômodo responsabilizar a outra pessoa por ser tão fria, insensível, um robô sem sentimentos... Quase nunca olhamos pra dentro de nós mesmos e percebemos que, se nosso castelo desabou é porque o construímos sobre uma base de areia e não de concreto. Ilusão é bom, ajuda a viver, mas não segura relações. É preciso que saibamos ler corretamente as pessoas para que não criemos fantasias a seu respeito, o que fatalmente nos levará a um trágico final.
Na minha experiência pessoal, vendo agora, cinco anos depois, eu deveria ter percebido os sinais desde o princípio. Não fui traído, nem abusado financeiramente. E sim, fui avisado de que a paixão de hoje pode acabar amanhã sem aviso prévio. Aceitei os termos, não posso reclamar. Só o que posso fazer hoje é esperar menos das pessoas e apaixonar-me por elas sem as irreais expectativas desleais de que fala Vanessa da Mata.