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AMOR

Posted by Clenio on 16:27 in
Dentre as inúmeras surpresas que vieram junto com as indicações ao Oscar no último dia 10 de janeiro poucas foram tão comemoradas pelos cinéfilos quanto a inclusão do franco-austríaco "Amor" em algumas das categorias mais importantes da cerimônia, como melhor filme, diretor, atriz e roteiro original. Nada mais justo. A nova obra do polêmico Michael Haneke foi o grande e merecido vencedor do Festival de Cannes de 2012 - além de diversos outros prêmios concedidos pela crítica americana e europeia - e é uma das mais potentes e contundentes obras sobre a velhice, a decadência física e, logicamente, o amor, celebrado no título e mostrado de forma dolorosa no decorrer das duas horas de projeção.

Longe do hermetismo de seu "A fita branca" - também premiado em Cannes no ano de 2009 - Haneke presenteia o público com um filme perturbador, denso e profundo que não tenta se esconder atrás de lágrimas fáceis ou exageros histriônicos. Sóbrio e seco, o roteiro prescinde das firulas melodramáticas que tratam o espectador com condescendência para se concentrar basicamente em suas personagens centrais e no devastador drama que os assola, sem preocupar-se em esclarecer didaticamente toda e qualquer cena. Haneke não é um cineasta fácil e justamente por isso, faz de seus trabalhos mais do que simples filmes. Dificilmente alguém sai da sessão de um filme seu da mesma forma com que entrou e, pro bem ou pro mal, uma dos objetivos da sétima arte é exatamente esse: abalar, confundir, emocionar ou surpreender de alguma forma. E isso "Amor" faz admiravelmente, graças principalmente a seus intérpretes centrais.

Excepcionais em seus desempenhos, os veteranos Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva vivem (na maior acepção do termo) Georges e Anne, dois professores de música aposentados que passam seus dias em um confortável apartamento, frequentando concertos e vivendo da melhor maneira possível seus dias - e recebendo, vez ou outra, algumas visitas de alunos antigos e da filha Eva (Isabelle Huppert). Sua vida pacata e feliz é abalada, porém, quando Anne sofre um derrame que a deixa parcialmente paralisada. Sem saber o que fazer, Georges contrata enfermeiras para cuidar da esposa, mas aos poucos, conforme a situação da velha senhora começa a se deteriorar ainda mais, ele resolve tomar conta sozinho do problema, se dedicando totalmente à mulher que ama.

Logicamente não é um filme para qualquer um. Que fujam das salas de exibição aqueles fãs de filmes com edição alucinada ou aqueles que acreditam que uma atuação boa é feita de gritos e trejeitos exagerados. Que se abstenham de comentários tolos aqueles que buscam no cinema pura diversão e entretenimento. Que se calem os que nunca amaram de verdade. Amor não é apenas uma palavra, conforme Michael Haneke comprova aqui. Amor não é beleza, juventude e saúde. Amor é cuidado, empenho, dedicação e abnegação. "Amor" é  um filme espetacular que jamais sairá da cabeça e do coração de quem se permitir deixar tocar por sua sensibilidade.

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