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O LADO BOM DA VIDA

Posted by Clenio on 05:10 in
Ao contrário do que quer fazer a Academia de Hollywood, o cineasta David O. Russell está longe de ser um novo gênio do cinema, capaz de duas indicações ao Oscar de diretor em três anos. Artesão competente, ele conseguiu fazer rir da guerra do Iraque quando ela ainda estava fresquinha na mente dos americanos - no ótimo e esquecido "Três reis" -, assinou o inclassificável "Huckabees, a vida é uma comédia" e entregou o apenas correto "O vencedor", que lhe colocou entre os finalistas do Oscar de 2011 (no lugar de um espetacular Christopher Nolan), mas nunca ultrapassou aquele limite que separa os contadores de histórias eficazes dos mestres do ofício. Por isso, se não fosse a exímia máquina marqueteira dos irmãos Weinstein (ex-proprietários da Miramax Pictures, empresa que, na década de 90 transformou o cinema independente em mainstrean), seu novo filme, a comédia romântico/dramática "O lado bom da vida" não passaria de alguns merecidos elogios à uma generosa lista de indicações ao Oscar deste ano (uma lista que inclui melhor filme, diretor, roteiro e os quatro atores). Se por um lado seu novo trabalho é simpático e agradável, por outro ele não escapa de mergulhar em clichês e só é realmente notável por seu elenco - que dá a Robert De Niro seu primeiro papel decente em anos e revela em Bradley Cooper uma competência apenas ensaiada em seus filmes anteriores.

Adaptado de um romance de Matthew Quick, "O lado bom da vida" começa muito bem, mostrando a volta do professor Pat Solitano (Bradley Cooper) ao lar, depois de um tempo em um hospital psiquiátrico. Logo de cara o público já percebe a animosidade que existe entre Pat - que saiu do hospital talvez cedo demais - e seu pai aposentado (Robert De Niro). Não fica claro, porém - propositalmente - os motivos que o levaram à sua crise e à separação da esposa, a quem ele tem esperanças de reconquistar.  No caminho para sua reconciliação, Pat conhece uma vizinha, Tiffany (Jennifer Lawrence), recentemente viúva e desempregada (por ter dormido com todos seus colegas de trabalho) que lhe ajudará em sua missão e, no caminho, vai redescobrir a autoestima.

Depois do começo promissor, no entanto, o filme de Russell cai na armadilha dos clichês. A tensão entre Pat e Tiffany - responsável por uma ótima cena em um restaurante que descamba para uma violenta discussão no meio da rua - se dilui na tentativa do roteiro de conquistar o público da maneira mais preguiçosa possível. A relação dos protagonistas - que apontava para um estudo sério e honesto (ao menos dentro do padrão hollywoodiano quando se trata de problemas mentais) - logo vira uma historinha de amor rasa e inverossímil, que culmina em um concurso de dança que parece só estar ali para criar uma sequência bonitinha mas sem muito sentido.

Salva-se, por outro lado, o elenco escolhido pelo diretor. Sem dúvida, Russell é um cineasta que, a despeito de sua pouca criatividade, tem profundo conhecimento em sua relação com os atores. Deu Oscar a Christian Bale e Melissa Leo por "O vencedor" e pode ajudar Jennifer Lawrence a levar uma estatueta este ano: Lawrence, a nova queridinha da Academia, está bem, mas entre convencer na pele de uma jovem desequilibrada e merecer ganhar um Oscar vai uma grande distância. O mesmo pode ser dito sobre Bradley Cooper, surpreendendo com uma atuação visceral e intensa, mas que só despertou admiração por ter revelado nele um ator competente - fato que as comédias insossas que estrelou antes escondia com eficácia. Jacki Weaver, como a mãe de Pat, arrancou uma indicação inesperada ao prêmio de atriz coadjuvante e tem poucas chances, mas é Robert De Niro quem é, definitivamente, o maior destaque do filme: há muito tempo o grande ator não tinha chance de mostrar o quão bom é, e basta uma cena com Cooper (em que revela seu amor pelo filho) para que tenha sua lembrança pela Academia justificada.

"O lado bom da vida" é um filme comum. Bom, sem dúvidas, mas destinado ao esquecimento em poucos anos. É mais uma prova do poder dos irmãos Weinstein dentro da indústria do cinema americano do que exatamente um grande trabalho cinematográfico.

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