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DJANGO LIVRE
Posted by Clenio
on
13:38
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CINEMA 2013
Quentin Tarantino é um cineasta que não nega suas influências. Elas estão sempre espalhadas por sua obra, seja explicitamente (como em "Jackie Brown" ou nos dois volumes de "Kill Bill") ou discretamente (pero no mucho) como em "Pulp Fiction". Por isso não é de estranhar que "Django livre", seu novo - e mais uma vez incensado - trabalho seja coalhado de homenagens e piadas internas. Sorte do grande público é que, além de todas essas reverências o homem é também um roteirista de mão cheia (como comprova seu Golden Globe) e um diretor que consegue SEMPRE arrancar atuações antológicas de seus atores. Se alguém ainda tinha dúvidas a esse respeito (e alguém tinha?) é altamente recomendável que esse alguém assista, sem desculpa de nenhuma espécie, a essa misto de faroeste/filme sobre escravidão: nele não apenas o cineasta mais cultuado de sua geração lega ao cinema mais um grande filme como mostra que mesmo em filmes de gêneros diversos ao que se acostumou a assinar ele consegue manter-se fiel a seu estilo.
Provocando o desprezo do cineasta Spike Lee - que vê no filme um "desrespeito a seus ancestrais" - Quentin Tarantino fez de "Django livre" uma enciclopédia de todas as suas marcas registradas, somada à sua homenagem rasgada aos westerns spaghetti menos conhecidos do grande público (ao invés de Sergio Leone e afins, suas influências atendem pelos nomes de Sergio Corbucci e Tonino Valeri, entre outros). Nas duas horas e quarenta cinco minutos de projeção estão espalhados diálogos ácidos, humor negro, personagens deliciosamente complexos e uma carnificina exagerada que não deixa nada a dever a seu primeiro filme, o hiperviolento "Cães de aluguel". Mesmo que demore a engrenar - a impressão que se tem é que a história só começa mesmo depois da primeira hora, quando os protagonistas chegam à fazenda de Calvin Candie (um Leonardo DiCaprio exercitando seu overacting de forma quase insuportável) - a história do escravo Django (Jamie Foxx, espetacular) que se torna caçador de recompensas e parte ao lado do alemão King Schultz (Christoph Waltz, indicado ao Oscar e premiado com um Golden Globe de ator coadjuvante) em busca de sua esposa Broomhilda (Kerry Washington) utiliza elementos tão díspares quanto a luta "mandingo" (chupada de um filme de 1975) quanto referências à ópera "O anel dos Nibelungos", de Richard Wagner de maneira tão orgânica que é difícil imaginar que o diretor/roteirista (e ator em uma sequência perto do final) vá criando sua trama durante a escrita do roteiro. E é difícil acreditar também que outro elenco pudesse ser melhor do que o escolhido para o projeto.
Ainda que Will Smith tenha sido o primeiro nome a passar pela cabeça de Tarantino para protagonizar seu filme, o trabalho impecável de Jamie Foxx no papel central é digno de figurar entre os melhores de sua carreira já premiada com o Oscar. Christoph Waltz novamente dá um banho de interpretação com seu complexo Schultz - que é dono de algumas das melhores falas. Até mesmo Franco Nero - o Django do filme de 1966 - encontra espaço para uma participação afetiva, assim como Don Johnson faz com que se mantenha a tradição do diretor de recuperar a carreira de nomes deixados de lado pelo cinema comercial. E se Leonardo DiCaprio repete os maneirismos de sempre em sua atuação como o vilão Calvin Candie, seu escravo fiel - e racista ao extremo - vivido por Samuel L. Jackson rouba a cena descaradamente, em uma interpretação que merecia ter sido lembrada pelo Oscar.
Violento como poucos filmes da atualidade - com sangue jorrando aos borbotões, escravos sendo devorados por cães e tiroteios ensandecidos - "Django livre" comprova novamente o talento e a criatividade de seu diretor. Resta saber agora o que ele prepara para o futuro.
Provocando o desprezo do cineasta Spike Lee - que vê no filme um "desrespeito a seus ancestrais" - Quentin Tarantino fez de "Django livre" uma enciclopédia de todas as suas marcas registradas, somada à sua homenagem rasgada aos westerns spaghetti menos conhecidos do grande público (ao invés de Sergio Leone e afins, suas influências atendem pelos nomes de Sergio Corbucci e Tonino Valeri, entre outros). Nas duas horas e quarenta cinco minutos de projeção estão espalhados diálogos ácidos, humor negro, personagens deliciosamente complexos e uma carnificina exagerada que não deixa nada a dever a seu primeiro filme, o hiperviolento "Cães de aluguel". Mesmo que demore a engrenar - a impressão que se tem é que a história só começa mesmo depois da primeira hora, quando os protagonistas chegam à fazenda de Calvin Candie (um Leonardo DiCaprio exercitando seu overacting de forma quase insuportável) - a história do escravo Django (Jamie Foxx, espetacular) que se torna caçador de recompensas e parte ao lado do alemão King Schultz (Christoph Waltz, indicado ao Oscar e premiado com um Golden Globe de ator coadjuvante) em busca de sua esposa Broomhilda (Kerry Washington) utiliza elementos tão díspares quanto a luta "mandingo" (chupada de um filme de 1975) quanto referências à ópera "O anel dos Nibelungos", de Richard Wagner de maneira tão orgânica que é difícil imaginar que o diretor/roteirista (e ator em uma sequência perto do final) vá criando sua trama durante a escrita do roteiro. E é difícil acreditar também que outro elenco pudesse ser melhor do que o escolhido para o projeto.
Ainda que Will Smith tenha sido o primeiro nome a passar pela cabeça de Tarantino para protagonizar seu filme, o trabalho impecável de Jamie Foxx no papel central é digno de figurar entre os melhores de sua carreira já premiada com o Oscar. Christoph Waltz novamente dá um banho de interpretação com seu complexo Schultz - que é dono de algumas das melhores falas. Até mesmo Franco Nero - o Django do filme de 1966 - encontra espaço para uma participação afetiva, assim como Don Johnson faz com que se mantenha a tradição do diretor de recuperar a carreira de nomes deixados de lado pelo cinema comercial. E se Leonardo DiCaprio repete os maneirismos de sempre em sua atuação como o vilão Calvin Candie, seu escravo fiel - e racista ao extremo - vivido por Samuel L. Jackson rouba a cena descaradamente, em uma interpretação que merecia ter sido lembrada pelo Oscar.
Violento como poucos filmes da atualidade - com sangue jorrando aos borbotões, escravos sendo devorados por cães e tiroteios ensandecidos - "Django livre" comprova novamente o talento e a criatividade de seu diretor. Resta saber agora o que ele prepara para o futuro.