MINHAS MÃES E MEU PAI
A médica Nic (Annette Bening) e a paisagista Jules (Julianne Moore) vivem um casamento estável e amoroso há quase vinte anos. Carinhosas e dedicadas, elas são os pais perfeitos mas um tanto rígidos de um casal de adolescentes, Joni (Mia Kasikowska, a Alice de Tim Burton) e Laser (Josh Hutcherson). Às vésperas de sair de casa para cursar uma universidade, Joni aceita o pedido de seu irmão e, aos 18 anos, tem a oportunidade de saber o nome do homem que doou esperma para as duas gestações de suas mães. Curiosos, os dois jovens vão atrás de Paul (Mark Ruffalo), um solteirão, dono de um restaurante natural e de uma cooperativa. A novidade cai como uma bomba no lar antes pacífico, e tanto Nic quanto Jules tentam lidar com ela de maneira racional, iniciando uma amistosa relação com o "pai" de seus filhos. Porém, as coisas se complicam quando a controladora Nic passa a perceber que sua prole está próxima demais dele e sua insegurança começa a atrapalhar seu casamento com Jules, que, sentindo-se pouco valorizada pela parceira, inicia com ele um romance heterossexual.
O roteiro de "The kids are all right'" (título bem mais apropriado) é feliz em jamais julgar ou questionar com condescendência suas personagens. Nic é uma chata dominadora, sim, mas é uma mulher dedicada a manter a harmonia da sua família a custa de muito trabalho. Jules é um tanto passiva em relação a suas próprias escolhas profissionais, é claro, mas suas dúvidas e desejos de amor são legítimas e nunca vulgares. Paul é um homem que, em vias de entrar na meia-idade, tem um vislumbre de um real relacionamento e não se faz de rogado em correr atrás dele. E até mesmo as reações de Joni e Laser diante do furacão em que se transforma suas vidas são verossímeis e nunca forçadas. Até mesmo o senso de humor do filme não peca por piadas grosseiras, sustentando-se basicamente na ironia e no tanto de surreal da situação proposta pela trama central.
E nada como um bom elenco para sustentar um filme calcado basicamente em personagens e diálogos sobre gente de verdade! Há muito tempo Annette Bening não tinha um papel tão bom para defender, e sua atuação elogiada unanimente pode render-lhe até mesmo uma quarta indicação ao Oscar do ano que vem. No entanto, ela deve boa parte de seu trabalho à excelente química com Julianne Moore, mais uma vez entregando uma interpretação corajosa e desprovida de artifícios e Mark Ruffalo, um dos atores mais subapreciados do cinema americano, que consegue convencer na difícil transição de sua personagem sem cair no clichê. E como os filhos confusos com as desventuras de seus pais, tanto Mia Kasikowska quanto Josh Hutcherson mostram que podem ter futuros alvissareiros na indústria - se souberem fazer as escolhas corretas.
Claramente simpático à causa gay, mas sem nunca chegar a ser panfletário, "Minhas mães e meu pai" é um belo exemplo de como filmes simples podem encantar apenas versando sobre pessoas e sentimentos.
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