SORRY, MYRIAN RIOS... WE WERE BORN THIS WAY
Em primeiro lugar é preciso que eu deixe bem claro que eu não sou favorável a nenhum tipo de paternalismo. Não sou a favor de cotas, nem de regalias relacionadas ao que se convencionou chamar de minorias. Não quero ser discriminado na busca por um emprego devido ao que faço na minha vida particular, nem tampouco exijo tratamento diferenciado por isso. O que vale é a minha competência ou não, e tenho certeza que muitos acham o mesmo. Os gays não querem ser tratados de maneira diferente, muito pelo contrário, querem ser tratados como pessoas normais - o que eles são, apesar do preconceito ululante de pessoas do tipo de Myrian Rios e Jair Bolsonaro. Os gays pagam impostos, trabalham, respeitam as leis como todo mundo. E querem que essas leis sejam as mesmas para todos, indepente de quem desperta o seu desejo. Queremos respeito, queremos justiça. Racismo é crime (e isso é indiscutivelmente justo). Homofobia também deve ser, assim como heterofobia, se um dia um heterossexual for agredido covardemente por homossexuais, verbal ou fisicamente (existe algum caso assim na história? Isso não reitera a velha teoria de que homofóbicos querem destruir o que não tem coragem de ser???)
Sou contra qualquer tipo de vulgaridade, seja hetero ou homo, assim como sou contra exageros e estereótipos que, infelizmente muitos gays ainda fomentam com seu comportamento. Mas também sou contra heteros que gritam no meio da rua exaltando sua masculinidade de forma patética. No entanto, eu respeito, porque a tolerância é algo imprescindível em uma sociedade que se pretende sadia. Se todo mundo resolvesse agredir as pessoas cujo comportamento lhe são desagradáveis o mundo voltaria aos paus e às pedras... E culpar a mídia pela distorção dos valores familiares é uma conversa tão velha que cheira a mofo. Então havia a Globo no Império Romano? Michelangelo assistia a "Insensato coração" - cuja forma de abordar o assunto da violência homofóbica merece elogios - enquanto pintava a Capela Sistina? Oscar Wilde dava uma pausa em seu "O retrato de Dorian Gray" para assistir a "Glee"? Não, queridos, os gays sempre existiram, não é preciso culpar o entretenimento. Ao contrário do que se diz, a TV reflete a sociedade, e não vice-versa.
Chega-se, então, à questão da relação feita pela nobre deputada entre homossexualidade e pedofilia. É inaceitável que palavras tão disparatadas e ignóbeis sejam levadas a sério por qualquer um, por mais cegos a uma fé recheada de culpa que sejam os admiradores dessa nova fase "palmatória do mundo" da ex-senhora Roberto Carlos. Mostrando-se tão obtusa e mal-informada quanto qualquer um que utiliza a Bíblia como desculpa para suas atrocidades - interpretando-a da forma mais conveniente - ela declarou em alto e bom som (sem dar espaço a quaisquer dúvidas sobre confusão) que não contrataria gays ou lésbicas como empregados por medo que eles abusem de seus filhos, ignorando completamente as estatísticas que mostram que tais agressões normalmente vem de familiares ou amigos aparentemente "normais". E nem vou acrescentar às estatísticas os escândalos que conectam de forma inegável o abuso sexual infantil com padres da igreja católica. Não quero dizer que todos os padres são pedófilos ou gays, longe de mim generalizar e cmpactuar com o sectarismo da admirável deputada. Mas é bom que se olhe com mais cuidado à volta antes de falar besteira. A emenda constitucional que causou todo esse celeuma não quer proteger ninguém que não deva ser protegido ou respeitado - quem trabalha mal ou comete crimes tem que lidar com as consequências, independente de raça, religião ou orientação sexual. A emenda quer, e isso sim merece ser aplaudido, evitar que gente preconceituosa e intolerante seja capaz de tolhir os direitos inerentes a qualquer cidadão honesto. E para sua informação, dona Myrian Rios, provavelmente aqueles gays que você tem medo de empregar nem queiram trabalhar sob um teto tão hipócrita.
Para finalizar, apenas digo que homossexualidade não é opção. Mas, entre ser um gay bem-resolvido, digno - e com muito mais caráter do que muito heterossexual que posa de marido exemplar enquanto dá suas escapulidas com michês - ou uma religiosa tão ignorante e cheia de falsa moral, mil vezes ser "anormal". E entre citar Jesus Cristo de maneira distorcida ou cantar Lady Gaga em "antros de perdição"... sinto muito, baby.... I WAS BORN THIS WAY!