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SETE ANOS

Posted by Clenio on 16:46 in
Quem leu "Fim" (Ed. Companhia das Letras), seu primeiro romance, lançado em 2013, sabe que Fernanda Torres não é simplesmente uma atriz entediada com a profissão que resolveu brincar de escritora: ela tem um talento nato para as letras. Se em sua estreia como ficcionista ela já mostrou a que veio, na compilação "Sete anos" - que reúne suas crônicas publicadas na revista piauí, na Veja Rio e na Folha de S.Paulo - ela comprova seu olhar arguto, inteligente e poético da vida e do cotidiano com uma prosa que equilibra com maestria erudição, vivência e bom-humor. Seja emocionando ao descrever seus últimos momentos ao lado do pai ou narrando suas aventuras Xingu adentro durante as filmagens de "Kuarup", de Ruy Guerra, Fernandinha conquista o leitor sem fazer esforço, imprimindo à sua escrita o mesmo carisma que faz dela uma das atrizes mais queridas do público brasileiro.

Em suas crônicas - e perfis, como o do roteirista Bráulio Mantovani e do cineasta palestino Hany Abu-Assad - Fernanda Torres foge do óbvio, sempre buscando um caminho de viés para salientar seus pontos de vista. O leitor que procurar um texto banal, construído de forma métrica e previsível, talvez vá estranhar a maneira tortuosa com que a atriz mistura na mesma dissertação informações aparentemente aleatórias para chegar a um ponto específico. Exemplo? Um encontro com a crítica de teatro Bárbara Heliodora a faz citar Shakespeare, que a lembra de "Édipo Rei", de Sófocles. O tema da crônica? José Dirceu e as trapalhadas do PT em lidar com a corrupção. Começa uma crônica citando Oscar Wilde para falar sobre William Bonner e as entrevistas com os candidatos à presidência. Inicia outra falando de um adolescente que reclama de pagar por um download de música para discorrer sobre o valor da arte. Defende o valor artístico da pornochanchada depois de citar a Orquestra Filarmônica de Londres. E utiliza a série de TV "House of cards" para analisar a política brasileira sob a ótica da dramaturgia.

Nunca se sabe o que esperar de uma crônica de Fernanda Torres. Para os fãs da atriz - e do teatro no geral - ela oferece um longo perfil do mestre John Gielgud, relembra com saudades Dercy Gonçalves e Jorge Dória, dá sua opinião a respeito de filmes e atores, questiona o medo do palco com um inventário de grandes nomes dos palcos que sofriam de tal ansiedade. Para quem gosta de arte ela relata suas experiências em exposições, galerias, concertos e salas de cinema. Para quem se interessa por política, ela não se faz de rogada e expõe o que pensa, sempre com respeito e inteligência, sobre aqueles que nos governam. Tudo isso em meio a momentos extremamente pessoais - vide o belo "Despedida", sobre o adeus a Fernando Torres e o tocante "Acaso", sobre seu encontro com a dama Fernanda Montenegro com Simone de Beauvoir.

"Sete anos" talvez decepcione a quem procura nos textos de Fernanda Torres o humor debochado com que ela é normalmente relacionada - com justiça, aliás. Mas é uma grata surpresa perceber que, por trás de seu brilhante talento como atriz ela também sabe falar sério sobre qualquer assunto - e tem cérebro o bastante para isso. Só resta ao leitor sorver suas palavras, emocionar-se com sua prosa e torcer para que logo venha outro livro - seria pedir muito um livro sobre os bastidores de sua genial carreira até aqui??



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2 Comments


Ainda vou ler e sabendo que é um outro tipo de leitura graças a ti! E também queria ler muito um livro escrito por ela sobre passagens pessoais... nas entrevistas dela na Tv já dá pra perceber quantas histórias pode ter!

Zukm.t
ppb
bjoooooo


Tá aí uma escritora que me surpreendeu, li Fim ano passado sem muitas expectativas mas a autora, como você disse, conquista o leitor sem fazer esforço. Adicionarei esse aminhas leituras futuras.

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