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FILMES QUE MUDARAM A MINHA VIDA - TRAINSPOTTING, SEM LIMITES
Posted by Clenio
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17:19
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FILMES QUE MUDARAM A MINHA VIDA
TRAINSPOTTING - SEM LIMITES (Trainspotting, 1997) Direção: Danny Boyle. Roteiro: John Hodge, baseado no romance de Irvine Welsh. Fotografia: Brian Tufano; Montagem: Masahiro Irakubo. Elenco: Ewan McGregor, Robert Carlyle, Ewen Brenner, Jonny Lee Miller, Kelly McDonald.
Em 1997 eu estava pronto para tudo: escolher um emprego, uma carreira, uma família. Comprar uma TV enorme, máquina de lavar, um carro, CD player... Me educar para ter uma boa saúde, baixo colesterol, plano de saúde. Tinha uma visão quase clara do meu futuro (ou pelo menos achava que tinha...) E aí surgiu um filme que sacudiu todas as minhas certezas e me fez ver tudo de cabeça pra baixo. Talvez minha mãe tenha até hoje a vontade de processar Danny Boyle, Irvine Welsh e Ewan McGregor, mas o fato é que "Trainspotting - sem limites" não só mudou minha visão de mundo como me fez descobrir que havia muito mais a explorar em termos de diversão, sexualidade e estilos de vida do que supunha minha vã filosofia.
Sexo? Sim, por favor, de todos os tipos e em todos os momentos. Drogas? Hum... posso trocar por uísque com energético? Rock and roll? Tudo bem, mas rola um techno, também??? "Trainspotting" me introduziu no mundo das festas "desregradas", onde a única regra é diversão. Me ensinou a ouvir música eletrônica sem fazer careta. Chamem-me de fraco, influenciável, sem identidade, mas por causa dele eu tive vontade de beber até cair pelo menos uma vez (e o fiz diversas vezes....), de dançar enlouquecidamente até amanhecer (e o fiz diversas vezes...) e de mandar à merda as ambições antigas que não mais me pareciam atraentes (e isso ainda o faço, constantemente...).
"Trainspotting" não me levou a usar drogas, o que provavelmente enfraquece a teoria de que filmes são culpados pela maioria das tragédias que volta e meia acontecem mundo afora. Mas também não foi o responsável por me afastar delas (e isso, contestem o quanto quiserem, é papel dos pais). O filme glamourizava o uso de heroína? Acho que não, a não ser que se considere mergulhar em um vaso sanitário dos mais imundos já mostrados na história do cinema atrás de um supositório da droga uma experiência agradável. Condenava o uso de drogas? Claro que não, ou você já viu alguma propaganda negativa de um produto (QUALQUER PRODUTO!!) dizer que utilizá-lo é melhor do que o melhor orgasmo da sua vida? O roteiro de John Hodge (adaptado de um romance cult de Irvine Welsh só traduzido para o português anos depois do lançamento do filme) não julga, não aponta dedos, não prega, não vitimiza: apenas conta a história de suas personagens e de suas escolhas. Faz rir em vários momentos (um humor nigérrimo, logicamente) e choca em diversos outros (sem nunca apelar para o gratuito). Tem um senso plástico apurado (a overdose do protagonista, por exemplo, é um primor de criatividade, fugindo dos clichês da situação) e uma ironia sempre bem-vinda. A edição inteligente de Mashiro Irakubo apenas contribui para dar estofo estético às viagens imaginadas pelo diretor Danny Boyle (que, anos depois, sairia consagrado de uma festa do Oscar por "Quem quer ser um milionário?", filme bom, mas a anos-luz de distância de seu frescor e ousadia mostrados aqui).
Graças a "Trainspotting" eu deixei de achar que as noites de sábado eram constituídas de jantar e Supercine. Por causa de Mark Renton me apaixonei pelo talento de Ewan McGregor e pelos filmes que fugiam do mainstream. Se não fosse "Trainspotting" talvez eu jamais conhecesse "Born slippy", a música que muito embalou minhas baladas regadas a todo tipo de bebida destilada (menos tequila... por enquanto). E ainda bem que o filme foi feito, senão sabe-se lá quando eu descobriria que existe uma sociedade muito mais aberta à diversidade e ao hedonismo do que eu poderia imaginar... e hoje talvez eu estivesse em casa guardado por Deus contando vil metal.
Ah... se o filme é bom cinematograficamente falando? Em primeiro lugar, não sou de ficar me deixando influenciar por porcarias. Em segundo, é pouco provável que qualquer crítico de cinema possa considerá-lo ruim: é bem escrito, bem dirigido, tem um elenco muito bem escalado e tecnicamente é bastante original (chegou até mesmo a concorrer ao Oscar de roteiro adaptado, veja só!!). Mas o que posso dizer com certeza a seu respeito é que poucos filmes captaram tão bem o espírito do final dos anos 90 quanto ele. E viva "Trainspotting"!
AVISO: Essa seção não tem a menor intenção de reiterar escolhas de críticos ou babar ovo em cima das maiores bilheterias da história (aliás, bilheteria é o que menos importa aqui). Todos são filmes que, por um motivo ou outro fizeram da minha vida algo melhor, por razões mil. É uma lista bastante aleatória, democrática e os títulos que dela participam tem apenas uma coisa em comum: são filmes que vi, revi, trevi e verei sempre que meu coração mandar.