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SHAME
Posted by Clenio
on
22:52
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CINEMA 2012
Não é para qualquer um. O espectador desavisado que comprar um ingresso para o filme "Shame" - segunda incursão do estilista Steve McQueen atrás das câmeras - na esperança de assistir a um drama erótico com direito à nudez frontal de Michael Fassbender e Carey Mulligan corre o sério risco de sair da sessão bastante decepcionado. Não com a nudez de Fassbender e Mulligan (que acontece), mas com os desdobramentos do filme em si. Longe de ser um produto comercial que se utiliza do sexo como fator de atração para um público sedento de cenas de sexo, o filme é um estudo opressivo e chocante sobre a solidão nas grandes metrópoles, narrado de forma sóbria e opressiva. Por mais que os corpos nus de suas cenas sejam extremamente atraentes e esplendidamente fotografados, não há, em "Shame" aquele elemento que fez a glória de filmes como "Instinto selvagem": o tesão livre de culpa. No filme de McQueen o sexo vem carregado de desespero, dor e remorso. E, convenhamos, não é todo mundo que gosta de um filme assim.
Michael Fassbender - em uma atuação avassaladora, composta por silêncios reveladores - vive Brandon Sullivan, um bem-sucedido executivo que vive em uma NovaYork de sonhos: trabalha em um escritório confortável, mora em um apartamento sóbrio e clean em um prédio muito bem situado, se veste com as melhores roupas, frequenta os melhores restaurantes e dorme com as mulheres mais belas que encontra. Não somente com elas, como o público fica sabendo logo de cara. Brandon é um viciado em sexo. O sexo é seu leitmotiv. Seu computador no trabalho - e o de casa - são repletos de pornografia barata. No banheiro do escritório ele faz pausas para se masturbar. Paga prostitutas. Não se acanha em caçar em qualquer lugar, seja no metrô, seja em bares da moda. Bonito e inteligente, Brandon só tem um defeito: não consegue se comprometer com mulher nenhuma. É um solteiro praticante. E que vive pro sexo.
Sua rotina é interrompida quando chega à cidade sua irmã caçula, Sissy (Carey Mulligan, loura e sempre ótima atriz). Cantora itinerante, ela abala a vida aparentemente em ordem de Brandon, se envolvendo com seu chefe (James Badge Dale) e forçando uma intimidade para ele assustadora. O roteiro - co-escrito pelo diretor e por Abi Morgan - nunca deixa claro como era a relação entre os irmãos antes que o público passe a conhecê-los, mas não deixa de ser óbvio que há muita coisa errada no passado deles. E é óbvio também que Brandon talvez não seja capaz de resistir ao apelo erótico de sua irmã, uma jovem torturada por sentimentos de inadequação e solidão que só encontram paralelo na busca incessante do rapaz pelo prazer sexual.
Assistir a "Shame" é como ler um romance de Virginia Woolf - guardadas as devidas proporções. Não é um filme com uma história forte, com viradas espetaculares. É um filme para se sentir, para se degustar, para se mergulhar. Não é à toa que os silêncios são muito mais impactantes do que os diálogos. Não é por acaso o visual desprovido de enfeites do apartamento funcional de Brandon. Não é casual a belíssima sequência em que Sissy entoa "New York, New York" com lágrimas nos olhos. O filme de McQueen é povoado de signos, símbolos, pistas... É um quadro em movimento, é um romance em fluxo de consciência. É um trabalho adulto, que ecoa na mente do espectador muito depois de seu final. É triste, é pesado, é chocante. Mas é muito mais perto da vida real do que muita gente gostaria de supor.
Michael Fassbender - em uma atuação avassaladora, composta por silêncios reveladores - vive Brandon Sullivan, um bem-sucedido executivo que vive em uma NovaYork de sonhos: trabalha em um escritório confortável, mora em um apartamento sóbrio e clean em um prédio muito bem situado, se veste com as melhores roupas, frequenta os melhores restaurantes e dorme com as mulheres mais belas que encontra. Não somente com elas, como o público fica sabendo logo de cara. Brandon é um viciado em sexo. O sexo é seu leitmotiv. Seu computador no trabalho - e o de casa - são repletos de pornografia barata. No banheiro do escritório ele faz pausas para se masturbar. Paga prostitutas. Não se acanha em caçar em qualquer lugar, seja no metrô, seja em bares da moda. Bonito e inteligente, Brandon só tem um defeito: não consegue se comprometer com mulher nenhuma. É um solteiro praticante. E que vive pro sexo.
Sua rotina é interrompida quando chega à cidade sua irmã caçula, Sissy (Carey Mulligan, loura e sempre ótima atriz). Cantora itinerante, ela abala a vida aparentemente em ordem de Brandon, se envolvendo com seu chefe (James Badge Dale) e forçando uma intimidade para ele assustadora. O roteiro - co-escrito pelo diretor e por Abi Morgan - nunca deixa claro como era a relação entre os irmãos antes que o público passe a conhecê-los, mas não deixa de ser óbvio que há muita coisa errada no passado deles. E é óbvio também que Brandon talvez não seja capaz de resistir ao apelo erótico de sua irmã, uma jovem torturada por sentimentos de inadequação e solidão que só encontram paralelo na busca incessante do rapaz pelo prazer sexual.
Assistir a "Shame" é como ler um romance de Virginia Woolf - guardadas as devidas proporções. Não é um filme com uma história forte, com viradas espetaculares. É um filme para se sentir, para se degustar, para se mergulhar. Não é à toa que os silêncios são muito mais impactantes do que os diálogos. Não é por acaso o visual desprovido de enfeites do apartamento funcional de Brandon. Não é casual a belíssima sequência em que Sissy entoa "New York, New York" com lágrimas nos olhos. O filme de McQueen é povoado de signos, símbolos, pistas... É um quadro em movimento, é um romance em fluxo de consciência. É um trabalho adulto, que ecoa na mente do espectador muito depois de seu final. É triste, é pesado, é chocante. Mas é muito mais perto da vida real do que muita gente gostaria de supor.