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TÃO FORTE E TÃO PERTO

Posted by Clenio on 20:53 in
Poucos cineastas tem sido tão celebrados pela Academia de Hollywood na última década quanto o inglês Stephen Daldry. Desde que estreou nos cinemas com o belo "Billy Elliot", de 2000, ele concorreu 3 vezes ao Oscar de direção (além de seu primeiro trabalho, ele também acumulou indicações por "As horas" e "O leitor") e teve 3 de seus 4 filmes concorrendo ao prêmio máximo (apenas "Billy" não chegou aos finalistas). Depois de se assistir ao último deles, "Tão forte e tão perto" é perceptível, porém, que o fato do filme ter chegado à (nem tão) seleta lista dos candidatos a melhor de 2011 tem mais a ver com seu prestígio junto aos eleitores do que exatamente com a qualidade final do trabalho. Apesar de não ser a bomba que muitos críticos descreveram, seu novo longa-metragem fica muito aquém de suas possibilidades - e não merecia a indicação ao Oscar máximo (assim como "Histórias cruzadas" e "O homem que mudou o jogo").

Baseado em um romance bastante elogiado de Jonathan Safran Foer (adaptado pelo premiado Eric Roth, vencedor do Oscar por "Forrest Gump"), "Tão forte e tão perto" utiliza a tragédia da queda do World Trade Center no fatídico 11 de setembro de 2001 como ponto de partida para uma trama cuja premissa é bastante interessante mas que acaba morrendo na praia de suas boas intenções. Reafirmando a máxima que diz que mais importante que o destino é a jornada, o roteiro de Roth até consegue manter a atenção da plateia por boa parte de sua duração, mas acaba entregando um final insatisfatório, anticlimático e o que é pior de tudo, sem muito sentido.

Apesar de seus nomes estarem enfeitando com destaque o cartaz do filme, Tom Hanks e Sandra Bullock não passam de meros coadjuvantes em "Tão forte e tão perto" - em especial Hanks, que aparece basicamente em flashbacks. O protagonista da história é o promissor Thomas Horn, que ficou com o papel central depois de tornar-se celebridade nos EUA graças a um programa de perguntas e respostas (no qual ganhou mais de trinta mil dólares). Ele vive Oskar Schell, um menino de nove anos de idade extremamente inteligente (mas um tanto arrogante e irritante) que tem uma relação de absoluta admiração e devoção ao pai (Hanks, simpático como sempre mas no piloto-automático), que morre no atentado às Torres Gêmeas. Um ano depois, ainda abalado com a tragédia - e mantendo uma relação quase fria com a mãe (Bullock, mais uma vez tentando mostrar que é uma atriz séria) - o menino encontra, no armário em que evitava mexer para não atrair lembranças, uma misteriosa chave dentro de um envelope com o nome "Black". Tendo a absoluta certeza de que a chave é a primeira pista de um enigma proposto pelo pai (que o desafiava constantemente enquanto estava vivo), Oskar parte em busca da pessoa misteriosa que tem a resposta para sua questão. Para isso, faz uso de sua inteligência acima da média e da companhia do misterioso inquilino de sua avó (vivido por um ótimo Max Von Sydow, indicado ao Oscar de coadjuvante).

Prejudicado em parte por seu protagonista pouco carismático (ainda que a culpa seja bem mais da personagem do que do ator, que sai-se bem a maior parte do tempo), "Tão forte e tão perto" é um filme de qualidades notáveis (a bela e adequada música de Alexandre Desplat e a edição de Claire Simpson são bastante competentes) e defeitos bem claros. O pior deles é justamente seu desfecho sem maiores emoções. Depois de ficar quase duas horas acompanhando a busca de Oskar pelas respostas que encontrar o tal "Black" poderia lhe proporcionar, não deixa de ser decepcionante perceber que o final é aquele ali mesmo, que talvez funcione no livro de Foer, mas que soa deslocado e tímido no filme de Daldry. Nem mesmo as atuações de Jeffrey Wright e Viola Davis conseguem apagar a sensação de frustração que acomete todo e qualquer espectador quando as luzes da sala de cinema se acendem.

Entre mortos e feridos, salvam-se todos. Mesmo anos-luz distante de seus melhores trabalhos - e principalmente de sua obra-prima, "As horas" - Stephen Daldry ainda é um cineasta sensível, inteligente e confiável. Tom Hanks e Sandra Bullock nem precisam se preocupar com as críticas negativas (em especial Bullock, que já fez coisas muito piores, incluindo aqui "Um sonho possível", que lhe deu um até hoje inexplicável Oscar de melhor atriz há dois anos). E Thomas Horn, com um papel menos chato em mãos, pode se tornar um ótimo ator no futuro. "Tão forte e tão perto" não machuca ninguém.

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2 Comments


Billy Elliot foi um marco.

Depois dessa obra o diretor ficou, quase que obrigatório.


Eu estava esperando ansiosamente, mas as críticas me espantaram um pouco. Bem, ainda quero ver, mas tô com medo de me decepcionar demais, rs

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