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MADONNA - SEMPRE MAJESTADE
Posted by Clenio
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21:48
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MÚSICA
Há duas maneiras de se julgar o megashow apresentado por Madonna ontem à noite em Porto Alegre e os veredictos são previsivelmente distintos. Quem acompanha a carreira da Rainha do Pop e sabe que no mínimo desde "Drowned World Tour", de 2001 seus espetáculos são bem mais um mix de teatro, circo, dança e música do que exatamente um desfile de sucessos, esperava exatamente o que viu: uma superprodução que unia tecnologia, efeitos visuais arrebatadores, dançarinos absurdamente elásticos e um show conceitual e que exige mais da plateia do que simplesmente disposição para cantar e dançar como se o mundo fosse acabar - e logicamente saiu das duas horas de show extasiado com tanta beleza e criatividade. Por outro lado, os fãs ocasionais - ou aqueles pseudo-fãs, que ouvem meia dúzia de faixas na MTV e criticam todo e qualquer CD seu lançado no século XXI - e que esperavam um concerto nos moldes "greatest hits" provavelmente saíram desapontados. "MDNA Tour" é, como seus últimos shows, uma experiência sensorial muito mais gratificante e inesquecível.
Logicamente faltaram hits no show - e até mesmo o fã mais fiel pode ficar um pouco incomodado com esse grande senão. Concentrando-se nas faixas de seu último álbum - que dá o título ao espetáculo - Madonna optou por deixar de fora do setlist algumas de suas canções icônicas ("Like a virgin", "Ray of light", "Music" e a até então onipresente "La isla bonita" ficaram de fora e várias outras foram apenas lembradas com trechos frustrantemente curtos), o que deixou um gostinho de quero mais aos fãs que cresceram e se divertiram por três décadas de um repertório sempre delicioso e pop na medida certa. Por outro lado, esses mesmos fãs - os de verdade, aqueles que sabem que cantoras de verdade precisam se reinventar a cada trabalho ao invés de manter-se na zona de conforto - não tem como não perdoar essa decisão assim que a mãe de Lourdes Maria e Rocco (que faz uma sensacional participação especial em "Open your heart") entra em cena em um cenário religioso para começar a entoar "Girls gone wild": aos súditos fiéis só resta esquecer o atraso (que, ao contrário do que a mídia mal-informada insiste em dizer não foi de 3h40min mas de apenas 1h) e o cansaço de horas de espera para curtir cada minuto.
Aos 54 anos de idade, Madonna é assustadoramente mais capaz de seduzir sua audiência do que qualquer imitadora de quintal - e não, não incluo aqui Lady Gaga, que tem personalidade o bastante para fugir da pecha de derivativa em pouquíssimo tempo - e é incrível sua capacidade de cantar e dançar loucamente em um palco enorme por duas horas de um show que nunca perde o pique. Comprovando seu talento também em escolher seus colaboradores, ela se cercou novamente de dançarinos extraordinários e uma produção gigantesca que, por si só, já valeria a pena assistir. Tudo bem, o show tem um roteiro um tanto engessado que impede o improviso - e portanto surpresas - mas é tão bem amarrado, tão bem dirigido e coreografado que fica difícil reclamar. E se não fica horas conversando com a plateia - ela dirige-se ao público poucas vezes mas sempre com simpatia - ao menos Madonna oferece a ela duas horas de diversão da mais alta categoria e do melhor entretenimento que o dinheiro pode comprar.
Se reinventado há praticamente trinta anos - e se mantendo na mídia como pouquíssimas celebridades que realmente tem algo a dizer - Madonna não é majestade à toa. Seus seguidores não a amam incondicionalmente por todo esse tempo somente porque ela é libertária, orgástica e debochada - mesmo porque, no decorrer desses anos todos ela já foi também mãe de família, escritora de livros infantis e volta e meia flerta com problemas sociais e políticos (o telão de seu show, por exemplo, apresenta uma lista de jovens mortos por homofobia nos EUA). Eles a amam porque Madonna é uma artista completa, que canta, dança, representa e agora é também cineasta. Eles a amam porque ela não tem medo de se expor. Porque ela rompeu barreiras, porque pôs as mulheres no seu devido lugar de igualdade financeira e sexual, porque exigiu os direitos gays antes que virasse assunto do dia. Porque é notícia a cada videoclipe novo, a cada namorado, a cada respiro. Quem no universo pop sobreviveu com tanto sucesso assim por tanto tempo? Oportunista? Lógico que sim, mas com inteligência e discernimento o suficientes para que, unido ao oportunismo também estivesse um talento gigantesco que atravessa gerações.
Falar mal de Madonna porque ela é velha chega a soar ridículo - então Mick Jagger e Paul McCartney devem abandonar os palcos porque já não são mais jovenzinhos desejáveis? Criticá-la porque ela não tem mais o mesmo poder de vinte anos atrás é risível - sua turnê terá um lucro estimado em 300 milhões de dólares. Dizer que suas novas canções não empolgam a audiência é mentira - qualquer uma das 43 mil pessoas que lotaram o estádio Olímpico pode confirmar que "Girls gone wild" e "Give all your luvin'" levantou os fãs quase como seu hino máximo "Like a prayer" - talvez sua canção mais emblemática e completa. Ser um detrator de Madonna só revela uma absoluta falta de senso pop. Madonna ainda é majestade.
Logicamente faltaram hits no show - e até mesmo o fã mais fiel pode ficar um pouco incomodado com esse grande senão. Concentrando-se nas faixas de seu último álbum - que dá o título ao espetáculo - Madonna optou por deixar de fora do setlist algumas de suas canções icônicas ("Like a virgin", "Ray of light", "Music" e a até então onipresente "La isla bonita" ficaram de fora e várias outras foram apenas lembradas com trechos frustrantemente curtos), o que deixou um gostinho de quero mais aos fãs que cresceram e se divertiram por três décadas de um repertório sempre delicioso e pop na medida certa. Por outro lado, esses mesmos fãs - os de verdade, aqueles que sabem que cantoras de verdade precisam se reinventar a cada trabalho ao invés de manter-se na zona de conforto - não tem como não perdoar essa decisão assim que a mãe de Lourdes Maria e Rocco (que faz uma sensacional participação especial em "Open your heart") entra em cena em um cenário religioso para começar a entoar "Girls gone wild": aos súditos fiéis só resta esquecer o atraso (que, ao contrário do que a mídia mal-informada insiste em dizer não foi de 3h40min mas de apenas 1h) e o cansaço de horas de espera para curtir cada minuto.
Aos 54 anos de idade, Madonna é assustadoramente mais capaz de seduzir sua audiência do que qualquer imitadora de quintal - e não, não incluo aqui Lady Gaga, que tem personalidade o bastante para fugir da pecha de derivativa em pouquíssimo tempo - e é incrível sua capacidade de cantar e dançar loucamente em um palco enorme por duas horas de um show que nunca perde o pique. Comprovando seu talento também em escolher seus colaboradores, ela se cercou novamente de dançarinos extraordinários e uma produção gigantesca que, por si só, já valeria a pena assistir. Tudo bem, o show tem um roteiro um tanto engessado que impede o improviso - e portanto surpresas - mas é tão bem amarrado, tão bem dirigido e coreografado que fica difícil reclamar. E se não fica horas conversando com a plateia - ela dirige-se ao público poucas vezes mas sempre com simpatia - ao menos Madonna oferece a ela duas horas de diversão da mais alta categoria e do melhor entretenimento que o dinheiro pode comprar.
Se reinventado há praticamente trinta anos - e se mantendo na mídia como pouquíssimas celebridades que realmente tem algo a dizer - Madonna não é majestade à toa. Seus seguidores não a amam incondicionalmente por todo esse tempo somente porque ela é libertária, orgástica e debochada - mesmo porque, no decorrer desses anos todos ela já foi também mãe de família, escritora de livros infantis e volta e meia flerta com problemas sociais e políticos (o telão de seu show, por exemplo, apresenta uma lista de jovens mortos por homofobia nos EUA). Eles a amam porque Madonna é uma artista completa, que canta, dança, representa e agora é também cineasta. Eles a amam porque ela não tem medo de se expor. Porque ela rompeu barreiras, porque pôs as mulheres no seu devido lugar de igualdade financeira e sexual, porque exigiu os direitos gays antes que virasse assunto do dia. Porque é notícia a cada videoclipe novo, a cada namorado, a cada respiro. Quem no universo pop sobreviveu com tanto sucesso assim por tanto tempo? Oportunista? Lógico que sim, mas com inteligência e discernimento o suficientes para que, unido ao oportunismo também estivesse um talento gigantesco que atravessa gerações.
Falar mal de Madonna porque ela é velha chega a soar ridículo - então Mick Jagger e Paul McCartney devem abandonar os palcos porque já não são mais jovenzinhos desejáveis? Criticá-la porque ela não tem mais o mesmo poder de vinte anos atrás é risível - sua turnê terá um lucro estimado em 300 milhões de dólares. Dizer que suas novas canções não empolgam a audiência é mentira - qualquer uma das 43 mil pessoas que lotaram o estádio Olímpico pode confirmar que "Girls gone wild" e "Give all your luvin'" levantou os fãs quase como seu hino máximo "Like a prayer" - talvez sua canção mais emblemática e completa. Ser um detrator de Madonna só revela uma absoluta falta de senso pop. Madonna ainda é majestade.